Como é se hospedar no Parador em Cambará do Sul
Base para conhecer os cânions da Serra Gaúcha, hotel combina relaxamento, gastronomia de primeira e acomodações em casulos ultraconfortáveis
Cambará do Sul é um município do Rio Grande do Sul, na divisa com Santa Catarina, que guarda os grandiosos cânions Itaimbezinho e Fortaleza. As formações estão a trinta minutos e uma hora, respectivamente, do Parador, hotel onde estou hospedada. E mesmo sem os cânions no horizonte, a vista do meu quarto não deixa nada a desejar. À medida que a alvorada se instala, o friozinho ameniza e a neblina se dissipa, revelando a paisagem que alterna campos ondulados e matas de araucárias. Para tornar tudo ainda mais bucólico, eis que surgem vaquinhas pastando livremente.
A cena se desenrola diante dos meus olhos enquanto eu ainda estou na cama, dentro do aconchego do meu casulo — o mais novo tipo de acomodação por aqui. Vistas de fora, as nove construções arredondadas lembram casulos de abelha e receberam cada uma o nome de uma espécie local do inseto. O meu quarto, por exemplo, homenageia a Mirim, que descobri ser uma abelha sem ferrão produtora de um mel muito nobre.
Inaugurados em 2021, os casulos são bem espaçosos. Logo ao entrar, há duas poltronas, uma mesa de apoio e uma prateleira abastecida de mimos: cafeteira e cápsulas Nespresso, chaleira elétrica e saquinhos de chá e potes de vidro abastecidos com batatas chips e uma viciante pipoca doce.
Do lado esquerdo, está o banheiro com amenities da L’Occitane. O chuveiro e o vaso sanitário ficam dentro de cabines de vidro fechadas, enquanto a pia fica do lado de fora. Mais adiante há um espelho de corpo inteiro e a área da cama, de frente para a televisão e um móvel para organizar as roupas.
O casulo termina em um janelão de vidro, o que permite curtir a vista da cama, como estou fazendo. Mas assim que esquentar mais um pouco pretendo me transferir para a varanda, onde há uma hidromassagem para chamar de minha. Eleito a Melhor Pousada de Serra pelo Prêmio VT 2023/2024, o Parador possui um óbvio apelo para os casais, mas a hospedagem demonstra com maestria que não é preciso pétalas de flores, dosséis ou outros frufrus para compor um cenário romântico: a decoração é rústica, aconchegante e moderna, sem afetação.
Esse combo se repete nas outras categorias de acomodação do Parador. Quando abriu as portas no início dos anos 2000, ele era composto por cabanas que dividiam banheiros compartilhados do lado de fora, inaugurando o estilo glamping no Brasil. Passados mais de vinte anos, a experiência hoje pende mais para o glamour do que para o camping. Todas as acomodações possuem o seu próprio banheiro e muitas contam ainda com hidromassagem.
Além dos casulos, também recebem casais os bangalôs, com hidromassagem e lareira no deck; a suíte lavanda, com hidromassagem dentro do quarto; e a barraca luxo, categoria mais compacta que é a única que não possui banheira.
Mas as famílias também são bem recebidas por aqui. Grupos de até dois adultos e duas crianças ou adolescentes podem se instalar na suíte verbena, com sala de estar e banheira; ou na barraca suíte, com sofá-cama e hidromassagem no deck.
Os casulos ficam em uma porção mais afastada da propriedade, mas basta atravessar um gramado para chegar ao coração do hotel, onde ficam o restaurante Alma e a recepção, com uma gostosa sala de estar aquecida por lareira a lenha. Dela partem passarelas de madeira que interligam os bangalôs, as barracas e as suítes, com vistas para o campo ou para o rio que passa logo atrás.
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Hora do café da manhã
Por mais difícil que seja, uma hora é preciso sair do casulo. Como uma abelha atraída pelo mel, vou ziguezagueando até o café da manhã no restaurante Alma. O garçom prontamente entrega o menu com dez itens que são preparados na hora, entre os quais chama a minha atenção o ovo mollet, servido sobre uma brioche de milho e coroado com cogumelo paris e queijo serrano. Divino. Mas dou uma mordida também no pedido do meu marido: pão de aipim, manteiga, salame e queijo serrano. Que delícia! Amanhã vou pedir esse também.
Para beber, chama atenção entre as opções o “camargo”, uma típica bebida serrana em que o café é incorporado com o leite tirado direto da vaca. “A bebida chega espumosa na caneca, o gosto é forte e não é todo mundo que gosta”, alerta o garçom. Decido que pode ser demais pro meu frágil estômago paulistano, mas tudo bem: também tem café com leite ao estilo urbano.
Ou quase. Os bules esmaltados com café e leite se mantém aquecidos no fogão a lenha, onde o cozinheiro também prepara ovos mexidos e fortaias, espécie de omelete trazida pelos italianos ao Rio Grande do Sul. Junto ao fogão é montado um lindo buffet com opções para se servir à vontade.
Brilham receitas brasileiríssimas, produtos gaúchos e outras delícias de fazenda, como cucas, rocamboles, geleias, doce de leite, pães de fermentação natural, embutidos e queijos mil. E ainda há mais um aparador com frutas, iogurtes e mel para complementar um dos mais deliciosos cafés da manhã de hotel que já provei.
Pela fazenda
Depois de tanta comilança, meu corpo pede por uma caminhada. Bom que há espaço de sobra para isso: o Parador fica dentro da Fazenda Camarinhas. A propriedade é cortada por um rio, que acaba criando uma divisão natural entre o pedaço utilizado pelo hotel e o pedaço com criação de gado, ovelhas e cavalos.
Atravesso a ponte sobre o rio até uma cerca, de onde consigo ver alguns dos bichos pastando. O efeito é meditativo na minha mente, muito mais habituada ao vai-e-vem frenético de carros, motos e no máximo algumas capivaras na Marginal Pinheiros.
Logo ao lado fica a Queijaria Campo Nativo. Através de uma janela de vidro, acompanho o processo de produção do queijo serrano — e compro um para levar para casa, no nível de maturação que mais me agradou durante uma rápida degustação.
Próximo da queijaria está o estábulo de onde partem passeios a cavalo organizados pela Estradeiros, agência de passeios que opera dentro do Parador. Meu cavalo, que se chama Padre, me leva até a parte mais alta da fazenda, onde tenho uma visão ainda melhor e mais bonita da paisagem ondulada. Na volta, passamos no meio de ovelhas pastando. A cachorrinha Biba, uma vira-lata preta, vai na frente, como se estivesse nos mostrando o caminho.
O cenário têm um quê de O tempo e o vento — ainda que o romance regionalista de Érico Veríssimo se passe nos pampas gaúchos, e não na vegetação de campos que caracteriza Cambará do Sul.
A cavalgada é uma forma relaxante de conhecer a propriedade. A alternativa com mais adrenalina é embarcar no passeio de quadriciclo, também da Estradeiros. Assumo o volante, ou melhor, o guidão, na parte inicial do percurso, que corta uma parte plana da fazenda.
Quando adentramos uma trilha muito mais íngrime e sinuosa, desisto: melhor passar a direção pro marido. Como choveu um dia antes da nossa chegada, a terra ainda está molhada e a lama respinga em nós, arrancando gargalhadas ao mesmo tempo de diversão e desespero.
Almoço no fogão a lenha, churrasco gaúcho
Pisquei e já é hora de comer de novo. Com menu assinado pelo chef Rodrigo Bellora, o restaurante Alma arrasa no almoço com sugestões de pratos do cotidiano gaúcho, elevados pelo uso de ingredientes da estação e pelo preparo no fogão e no forno a lenha.
Um bom exemplo é o prato com macarrão, galeto e quadradinhos de polenta frita, que cai como um abraço no meu estômago. Mas também é delicioso o strogonoff, preparado com os deliciosos cogumelos da região, e o PF de respeito, com arroz, feijão preto, batata frita e bife a cavalo. O menu é uma prova de que o simples funciona.
O almoço é ainda mais especial às quartas-feiras e aos sábados, quando existe a possibilidade de optar pelo menu fechado de churrasco gaúcho. De manhãzinha, quando ainda estávamos tomando café da manhã, o fogo de chão já estava aceso tratando de amaciar e defumar a costela bovina, dentre outros cortes. Depois, as carnes, as linguiças e os vegetais ainda são finalizados na churrasqueira, do lado de dentro do restaurante. É de dar água na boca só de olhar.
Estrela do churrasco gaúcho, a costela que eu vinha namorando desde aquela manhã chega à nossa mesa impecável, soltando do osso e desfiando. Me surpreendem também os ótimos acompanhamentos: salada, maionese de batata, linguiça, queijo, pão, farofa… A refeição funciona num sistema de rodízio: você pode repetir carnes e guarnições quantas vezes quiser.
De tardezinha
Reservo as tardes para os passeios aos cânions do Parque Nacional de Aparados da Serra e Serra Geral, que podem ser feitos por conta própria ou com os guias de agências como a Estradeiros e a Coiote Adventures. O Parador me recebe de volta com um chá da tarde na recepção. Waffles são preparados numa espécie de fogão de ferro e depois ganham uma cobertura de mel ou chocolate, para se deliciar ao mesmo tempo que toma uma xícara de chá. A lenha estrala na lareira ao fundo.
Dou um pulo rápido no casulo para trocar de roupa e sigo para o SPA by L’Occitane. O espaço é compacto (reservar com antecedência é fundamental) e escurinho, dando o tom de relaxamento. No menu, constam massagens com pedras quentes, drenagens linfáticas, reflexologia e algumas opções de tratamentos com aromacologia, que está relacionado aos efeitos dos cheiros em nosso corpo e mente. Faço a aromacologia relaxante e a sala é inundada pelo cheiro de lavanda durante a massagem. Quem opta por um dos combos de tratamentos pode terminar em um banho de espuma na banheira de pedra.
Sigo para a nova piscina de borda infinita do Parador, bem ao lado do spa. Inaugurada em 2023, a piscina aquecida fica metade ao ar livre e metade em um espaço coberto, com sala de estar aquecida por uma enorme lareira. A divisão se dá por meio de um vidro, que vai do teto até quase encostar na água. Entro na piscina pelo ambiente aquecido e, já dentro da água quentinha, mergulho para passar debaixo do vidro e chegar ao pedaço descoberto. O melhor é que não há choque térmico durante o processo.
A piscina faz sucesso entre as crianças que, sim, também marcam presença por aqui. Ainda que a lista de atividades seja mais voltada para o relaxamento, a desconexão e a contemplação da natureza, os pequenos também se entretém nos passeios de cavalo, vendo os bichos ou simplesmente correndo soltas pelo gramado da fazenda, numa liberdade gostosa de ver. Mas, neste momento, a água quentinha está tomada por casais: é que o sol está prestes a se pôr, bem aqui em frente à piscina.
Jantar e cama
Se o bolso permitir, não há monotonia em fazer as três refeições do dia no Alma. O menu do jantar chega com opções inéditas e mais refinadas que o almoço. Decido que costela bovina nunca é demais quando se está no Rio Grande do Sul e peço a que vem coberta por demi glace. O aligot de aipim com queijo colonial que a acompanha está maravilhoso. E, puxa, como eu queria levar para São Paulo um pouco dessa farofa com tempero de erva mate. Meu marido vai no lombo de cordeiro grelhado no forno a lenha com espaguete ao molho de hortelã, mais um golaço do chef Rodrigo Bellora.
De volta ao casulo, encontro as luzes baixas, uma garrafa de água cheia e, na mesa de cabeceira, um mimo composto por flores, chocolatinho e a previsão do tempo para amanhã. Quando me enfio debaixo das cobertas, descubro que o lençol térmico já tinha sido ligado para que eu tivesse uma aconchegante noite de sonho.
Antes de apagar de vez, relembro o passeio de cavalo, a paisagem dos cânions, as comidas deliciosas, o pôr do sol na piscina. Depois de tantas aventuras, o Parador recebe os hóspedes assim: como um abraço quentinho.
Eventos especiaisO Parador também possui programações especiais ao longo do ano, que aumentam as opções de atividades no hotel. Quando estive por lá, acontecia O Curioso Mundo dos Queijos (ainda sem datas em 2024), com degustações comentadas, noite de fondue e até um workshop de elaboração do queijo serrano. Outro evento de sucesso é O Despertar dos Cogumelos Selvagens (17 a 19 de maio e 14 a 16 de junho), quando os hóspedes são convidados a adentrar os bosques ao lados de especialistas para coletarem cogumelos. Depois, os fungos viram destaque nos pratos criados pelo chef Rodrigo Bellora para o restaurante Alma. Por fim, o Imersão nas Galáxias (uma ou duas vezes por mês; consulte as datas aqui) tira proveito do fato de Cambará do Sul ser um ótimo ponto para observação noturna: o astrofotógrafo e especialista Egon Filter aponta planetas, estrelas e satélites, além de tirar fotos dos participantes com efeitos astronômicos ao fundo. |
Como chegar
O Parador está em Cambará do Sul, a 230 km do Aeroporto de Porto Alegre. O trajeto é feito em pouco mais de três horas. No trecho final, a estrada é de chão batido e as curvas são sinuosas. A combinação exige atenção redobrada em caso de neblina, que é presença constante na região o ano inteiro. Vá devagar e prefira fazer a viagem durante o dia.
O mais comum é já em Porto Alegre alugar um carro, que será útil para ir até os cânions e fazer algumas refeições no centrinho de Cambará do Sul. A alternativa é contratar serviço de transfer e passeios guiados em que vão te buscar no hotel. Não há carros de aplicativo e a oferta de táxis é limitada (veja algumas opções no site da prefeitura).
Serviço
As diárias custam a partir de R$ 1.917 no casulo; R$ 1.825 no bangalô e na suíte verbena; R$ 1.734 na suíte lavanda e na barraca suíte; e R$ 940 na barraca luxo. Reserve sua hospedagem no Parador.
O café da manhã e o café da tarde estão incluídos na diária. No restaurante Alma, os almoços e jantares têm menu a la carte. A exceção é o churrasco às quartas-feiras e aos sábados, que custa R$ 265 por pessoa.
O passeio a cavalo custa R$ 280 e o de quadriciclo, R$ 350. Veja todas as opções de atividades aqui. Já os tratamentos no spa saem a partir de R$ 369, como é o caso da aromacologia relaxante de 50 minutos.
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