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Fortaleza, destino de desejo

Jangadas, caranguejo, megabarracas, claro, mas também restaurantes estrelados, hotéis de charme, a reurbanização da orla

Por Mirela Mazzola
Atualizado em 23 jul 2021, 17h16 - Publicado em 15 dez 2011, 15h48

A pergunta foi feita por um baiano e é sobre uma baiana, mas vai aqui com certa licença poética: “O que é que Fortaleza tem?”. A capital do Ceará brilhou no Prêmio VT 2011/2012. Entre todas as cidades do Brasil, foi consagrada como aquela que o leitor mais gostaria de conhecer – o destino aspiracional, o destino de desejo número 1 do país. Mar, jangadas, dunas, vento, caranguejo, megabarracas, rendeiras, resorts e o Beach Park ali pertinho são mesmo uma combinação e tanto. E agora Fortaleza ainda parece querer ocupar um espaço no qual nunca havia sido uma… fortaleza: o da gastronomia.

É difícil imaginar alguém se decidir pela capital cearense exclusivamente em função de um determinado chef ou restaurante, mas é bom saber que a cidade vai ganhando suas grandes mesas. No GUIA BRASIL 2012, são quatro os restaurantes estrelados e diversos que mereceram deferência. Caso do novíssimo português Sobreiro, cujo chef – cearense – trabalhou por 12 anos no reverenciado Antiquarius, do Rio, e serve alguns dos mesmos pratos clássicos de lá, como um bacalhau à lagareira acima de qualquer suspeita e até um carioquíssimo filé à Oswaldo Aranha.

Há algo no ar, melhor dizendo, na água, que vem atraindo chefs para a capital cearense. O mineiro Lúcio Figueiredo bem que ficou tentado a abrir seu restaurante no Sudeste, mas acabou por içar velas na Varjota, o bairro gourmet de Fortaleza. Em seu estrelado Vojnilô, só o fresco, o peixe fresco, interessa. “Pensei mesmo em ir a São Paulo, mas não conseguiria trabalhar com matéria prima de qualidade. Aqui em Fortaleza tem abundância de peixe e futos do mar.” Vojnilô, a propósito, é uma maneira de dizer o nome Vicente em macedônio. Trata-se de uma homenagem de Lúcio a seu mentor, o dono do notável restaurante Guaramare, no Espírito Santo. No caso do espanhol Agustin Herrero, foi sua paixão por uma cearense (e depois pela boa vida junto à areia) que contou. Mesmo de uma família dona de restaurantes em Barcelona, foi em Fortaleza que ele abriu o contemporâneo L’Ô, estrelado neste ano pelo GUIA e onde é possível comer de pescada com banana-da-terra a carré de cordeiro ao molho de zaatar. “Nesta cidade encontro praticamente tudo de que preciso. Basta ir ao Mercado de São Sebastião, em Mucuripe, ou a algumas delicatessens. Tem até um azeite de Sevilha que um espanhol me traz”, diz.

Fortaleza é desejada, como mostrou o Prêmio VT, mas também consumida. Recebe mais gente a cada verão. De 830 mil na temporada de 2010 passou a 915 mil em 2011, segundo dados da secretaria estadual de Turismo. É o terceiro destino de praia mais popular da CVC, a maior operadora do Brasil, logo atrás da imbatível Porto Seguro e da surpreendente Maceió. Muita gente usa a cidade como base para bate e voltas a leste e a oeste, o que é mais uma maneirade multiplicar seus encantos. Há em Aquiraz e Cumbuco, só para citar duas cidades vizinhas, atrações do porte de um Beach Park, o melhor parque aquático do Brasil, e resorts de ponta, como o Vila Galé e o Dom Pedro Laguna.

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A cidade também é protagonista da Copa de 2014 e da Copa das Confederações, um ano antes. O estádio Castelão recebe seis jogos em 2014, um deles do Brasil, e por isso Fortaleza está ganhando projetos de melhoria urbanística. O trecho da Avenida Beira-Mar que vai de Mucuripe até a Praia do Meireles deverá passar por revitalização a partir de janeiro, com alargamento da via, construção de estacionamentos e ciclovia e instalação de trilhos para a operação de um bonde elétrico. A orla de Fortaleza está longe de ser a mais bonita do Brasil, pouquíssima afeita a variaçõesde paisagem, recortes ou elevações, e as praias, com exceção da do Futuro, são impróprias. Mesmo assim, Mucuripe, Meireles e Iracema têm um borogodó – e um pôr do sol – só delas. No canto direito de Mucuripe, o Mercado de Peixe compõe com as jangadas no mar manso um cenário tão reconfortante quanto familiar. Bom que se diga que os jangadeiros não vão mais ao Rio, como em 1952, na epopeia de dois meses que virou o filme inacabado É Tudo Verdade, de Orson Welles, mas continuam trazendo do Atlântico muito peixe e futos do mar. Debaixo da sombra das árvores e dos espigões da Beira-Mar, os pescadores se reúnem para jogar conversa fora em meio a gaiolas de madeira usadas na pesca da lagosta. E lagosta é com eles: o Ceará é o principal produtor brasileiro. Então, já que tocamos no assunto, se quiser uma receita regional e sofisticada, toque para o restaurante Cantinho do Faustino, onde a lagosta é flambada com vinho de caju azedo e servida com arroz de castanha.

Iracema e a carcaça

No canto esquerdo da Praia de Iracema, o cenário intriga. Defonte ao hotel Marina Park, um edifício que lembra um transatlântico desajeitado, a vista é para um postal exótico, o navio Mara Hope. Destruído num incêndio em 1983, ele encalhou dois anos depois justamente em Fortaleza, a muitas milhas de seu destino final, Taiwan, para onde um rebocador o levava para ser vendido como sucata. Hoje, a curiosa visita à carcaça enferrujada – boa parte imersa – faz parte da rota dos passeios de barco que saem da Praia de Mucuripe. Rumo à região central, o calçadão de Iracema foi revitalizado (apesar de a prostituiçãoe a falta de segurança persistirem) e a estátua modernosa da virgem dos lábios de mel, a personagem de José de Alencar, é ponto de encontro. Alencar, talvez o mais célebre cearense da história, pai da Iracema e de todo o romantismo brasileiro, batiza também um belíssimo teatro, um prédio de 1910 com uma vistosa estrutura metálica, vitrais e um jardim projetado por Burle Marx.

Já na divisa com a Praia do Meireles, a mais movimentada, a Avenida Beira-Mar é tomada de esportistas – com alguma boa vontade, dá para se imaginar em Ipanema. Caminham, correm e se exercitam até altas horas. Ao cair a noite, Fortaleza explicita mais seus problemas de metrópole – são 2,5 milhões de habitantes, 3,6 milhões se considerada a região metropolitana: o trânsito incomoda, a prostituição aparece. No meio dos carros, estranhas bicicletas adaptadas com caixas de som passam a divulgar com estridência uma instituição local: os shows de humor e de imitação – a capacidade de rir do próprio cearense é uma marca dos comediantes locais. Um passeio muito tradicional é se misturar à muvuca da feira noturna. Não que os comerciantes sejam marroquinos, mas pechinchar é lei para arrematar por bom preço rendas, cachaças, castanha de caju e outros produtos bem menos cearenses à venda, como roupas indianas feitas na China.

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Mais distante da Beira-Mar fica a Praia do Futuro, com suas nada futuristas vias de paralelepípedo e pousadas simples que sofem com os ventos e a salinidade que corrói casas e edifícios e emperra o desenvolvimento do bairro. Mas o lugar é o paraíso das megabarracas, uma marca tão forte de Fortaleza quanto a Iracema. As espreguiçadeiras da Crocobeach, da Itapariká e de outras são superconcorridas; por isso é preciso chegar cedo. O pargo assado no sal e o caranguejo são os campeões de pedidos, mas barraca ali significa também internet wi-fi, massagem, piscina, parque aquático infantil e, à noite, show de humor com caranguejada. E muitos ambulantes vendendo de DVD a bichode pelúcia. Aqui o mar é próprio para banho, embora agitado e traiçoeiro. Depois do Futuro o que vem é Aquiraz, que, com Cumbuco, a oeste, dá um toque Punta Cana ao Ceará, com seus resorts, como o Dom Pedro Laguna, com direito a campo de golfe. Já o lindão Carmel Charme Resort, que tem mais porte de pousada de luxo, mereceu o prêmio de Novidade do Ano no GUIA BRASIL. O problema de conhecer o lugaré ir se deixando ficar no enorme avarandado, na sala de massagem ou, pior, em qualquer um dos 33 quartos, todos com vista para a Praia do Barro Preto. E aí, na hora de curtir a orla de Fortaleza… deixa pra amanhã; conhecer o Theatro José de Alencar, ah!, deixa pra amanhã; fazer compras na Feira Noturna, deixa pra amanhã, vai?

Piscinamania: dias felizes no Beach Park, em Aquiraz (por Alexandre Secco)

Acho que existem dois programas especialmente chatos para passar o fim de semana com os filhos: a piscina gelada do condomínio e a piscina quente do clube. Piscina não é a minha praia. Por essa razão, quando me vi de férias com minhas duas filhas, pensei nos pinguinsda Patagônia, nos jacarés do Pantanal, na Disney… Só não me lembro de ter cogitado o Beach Park, parque aquático a 15 minutos de Fortaleza que recebe cerca de 750 mil turistas por ano. Até que entendi: férias “com” crianças são “para” as crianças. Calculei, então, que seria mais fácil ganhar na Sena do que pegar chuva na capital cearense e me lembrei de que a maioria das crianças se diverte fácil com alguns litros d’água.

Um gigantesco parque aquático não é o tipo de lugar em que se podem soltar duas crianças – Lara, com quase 7 anos, e Estela, com quase 5 -, mas a boa estrutura do Beach Park ajuda a manter a neura da segurança em níveis toleráveis. Os brinquedos são bem sinalizados, a conservação parece boa e há salva-vidas por todo canto. Se você estiver decidido a manter o rigor na dieta das crianças, é melhor carregar a granola e as maçãs, porque lá dentro os carrinhos de comida vendem principalmente sorvete, churro, cachorro-quente e pipoca, “adoráveis porcarias”, como dizem as minhas filhas. Uma das grandes curtições de viajar sozinho com elas foi poder rasgar os códigos por alguns dias. Macarronada todos os dias, refrigerante e uma noite sem escovar os dentes são pequenas transgressões que podem aumentar a taxa de sorrisos, assim como descobrir que o pai também consegue dizer “sim”, “pode”, “agora mesmo”.

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No Beach Park, as opções de brinquedo para pais e filhos são relativamente limitadas, mas há muitas atrações só para adultos e outras tantas só para crianças. Uma delas encantou meus pimpolhos. Considerado o maior playground aquático do mundo (comporta 430 pessoas), o Acqua Circo tem jatos, duchas, escorregadores e pedalinhos, tudo temático, colorido e com piso antiderrapante. Entre as diversões para família, a Correnteza Encantada simula um rio lento que é percorrido a bordo de uma boia gigante. Na piscina de ondas, dá para brincar com os pequenos no rasinho. Mas a estrela do parque, restrita a adultos, é mesmo o taldo Insano, um toboágua com 41 metros de altura em que a pessoa despenca como saco de cimento, por cinco segundos, a 105 km/h. Insano, como dizem. Sozinho com meus filhos, eu tinha de estar preparado para situações meio ridículas, como subir uma escadaria, deixar as crianças na boca do escorregadore descer correndo para pegá-las.

Sem carro, pode ser uma boa ideia hospedar-se dentro do próprio Beach Park, mas, como não recebi nenhuma herança, preferi uma pousada por perto. Encontramos uma bem simpática, a Canto dos Poetas, por uma fração do preço dos dois resorts do parque – mesmo reconhecendo que a hotelaria do complexo pode valer a pena para as crianças. O Beach Park Suites Resort, por exemplo, tem unidades com sala e copa, ideais para quem viaja em família, além de um kids club grande e berçário. Mais moderno, o Beach Park Acqua Resort supera o Suites em conforto. Para o segundo semestre de 2012, está prevista a abertura do terceiro resort do complexo, o Beach Park Wellness, também com acesso direto ao parque.

Pode parecer engraçado, mas cheguei à conclusão de que até mesmo as férias de 30 dias no fim de ano podem ser apenas continuações ensolaradas da rotina. Por cinco dias, abandonar livros e computador em casa deixou tempo livre para o que era mais importante. Continuo sem paciência para piscinas, mas as curtas férias no Beach Park, crianças a tiracolo, foram uma das mais divertidas que eu tive.

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