Espírito Santo do Pinhal: como é a visita à Vinícola Guaspari

Propriedade a 200 km da capital paulista celebra a vindima com colheita simbólica e almoço harmonizado assinado pelo chef Tuca Mezzomo

Por Cecilia Carrilho
5 jun 2025, 10h00
Durante parte do trajeto, é possível ver a Serra da Mantiqueira moldando o horizonte entre os vinhedos
Durante parte do trajeto, é possível ver a Serra da Mantiqueira moldando o horizonte entre os vinhedos (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)
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Se você, assim como eu, não é exatamente um expert em vinhos, talvez nunca tenha ouvido falar de enoturismo, que são as viagens e os passeios que têm como grande atração as vinícolas, as degustações de vinho e os passeios pelos parreirais.

Uma referência dessa prática no estado de São Paulo é Espírito Santo do Pinhal, situada em meio à Serra da Mantiqueira: a cidade está a cerca de 70 km de Poços de Caldas e a 200 km da capital paulista.

O local tem um cenário moldado por altitudes que variam entre 900 e 1.300 metros, e o clima tropical de altitude, com invernos secos e verões moderados, cria as condições ideais para o cultivo de uvas para vinhos de qualidade.

No centro desse movimento se encontra a Vinícola Guaspari, um verdadeiro símbolo do enoturismo local. A propriedade tem cerca de 50 hectares de vinhedos plantados, além de áreas em que também são cultivados café e oliveiras.

Fundada em 2001, a Guaspari começou o plantio de suas parreiras em 2006, mas foi só em 2014 que passou a comercializar seus vinhos. Desde então, coleciona prêmios importantes: alguns dos seus rótulos, como o Syrah Vista da Serra, já foram reconhecidos internacionalmente em concursos como o Decanter World Wine Awards, uma das mais prestigiadas competições do setor.

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A vastidão dos vinhedos moldam a paisagem de Espírito Santo do Pinhal (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

Fui até a vinícola com um objetivo especial: viver a experiência da vindima, como é conhecida a tradicional colheita das uvas. A data varia dependendo do ano, sendo geralmente no primeiro semestre, quando as frutas atingem o ponto ideal de maturação.

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Este ano, a Visita da Vindima da Guaspari se iniciou em maio e, mais do que um simples passeio, é uma espécie de celebração: visitantes são convidados a conhecer de perto todas as etapas do processo de produção de vinho, desde a colheita manual até a degustação dos rótulos produzidos.

Saí de São Paulo por volta das 8h10 e em cerca de duas horas e meia alcancei Espírito Santo do Pinhal. Em geral, é uma cidade de serras e muito verde, um contraste absoluto em relação à paisagem urbana que vejo todos os dias na capital paulista.

A chegada à Guaspari chega até ser cinematográfica: aos poucos, a estrada vai se rendendo à natureza, o asfalto dá lugar à terra e aos tijolos que deslizam fácil sob as rodas do carro. De repente, você já está envolvido pelo cenário que anuncia que a experiência vai muito além de degustar vinhos.

Rumo aos vinhedos

A visita  começou com um café da manhã caprichado, montado com produtos da fazenda: frutas frescas como mamão e abacaxi, pães, croissants e frios.

Depois, segui rumo aos vinhedos a bordo de uma espécie de “caminhãozinho” aberto – meio rústico, meio bucólico, mas com uma vista linda da Serra da Mantiqueira se revelando pelo caminho. A paisagem, entre montanhas e parreirais, é daquelas que merecem ser fotografadas.

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estufa guaspari
A Guaspari mantém seu próprio plantio em estufas e hortas (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

Nos vinhedos, fui recebida pelas uvas que dão origem aos vinhos da Guaspari. Um detalhe curioso me chamou a atenção: as roseiras plantadas nas extremidades das fileiras de parreiras. Antes, eu pensava que elas estavam ali apenas para embelezar o cenário, mas aprendi que elas também têm uma função prática e ancestral. Por serem plantas mais sensíveis, as roseiras servem como uma espécie de “sentinela”, indicando com antecedência a presença de pragas que possam afetar as videiras. Além disso, na Guaspari a cor das flores também atua como um código visual: rosas brancas ou amarelas marcam os vinhedos que dão origem aos vinhos brancos; enquanto as rosas vermelhas ou de tons mais escuros identificam os parreirais que se transformarão em tintos.

Rosas como sinalização das uvas
As roseiras não estão ali só pra deixar o vinhedo fotogênico, elas também ajudam a identificar pragas e o tipo de vinho que será produzido (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

Nesta edição da Vindima, o grande destaque é a colheita simbólica da Sangiovese, uma variedade que foi plantada em 2021 e que, agora, três anos depois, passa a integrar oficialmente o terroir da vinícola. A Sangiovese tem sua origem na Itália, e sua adaptação ao solo e ao clima de Espírito Santo do Pinhal representa mais um capítulo importante na história da Guaspari.

Os passeios da vindima se diferenciam das visitas tradicionais justamente por oferecerem essa vivência direta: ao invés de apenas caminhar pelos vinhedos e participar de degustações, como ocorre normalmente, o visitante é convidado a colocar a mão na massa – ou, melhor dizendo, na uva. Além disso, nesta época, o menu harmonizado servido na vinícola também muda, incorporando pratos especialmente pensados para celebrar o período da colheita e valorizar a safra.

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A colheita deste ano se concentra exclusivamente na Sangiovese. O momento é cuidadosamente conduzido pelos funcionários da vinícola: nos organizamos em fila, recebemos uma espécie de tesoura de poda e, com orientação, aprendemos a identificar os cachos prontos para a colheita. É um gesto simples – escolher, cortar e segurar o cacho com as próprias mãos -, mas que carrega uma carga simbólica enorme. A textura da uva e o aroma fresco que escapa logo depois do corte reforça a conexão com o processo natural que antecede a produção dos vinhos.

Depois da colheita, ainda há a possibilidade de provar as uvas ali mesmo, direto do cacho, uma experiência que me fez sentir parte de uma tradição muito maior do que eu imaginava.

Do tanque à garrafa: os bastidores da produção

barris que armazenam os vinhos
Entre barris de carvalho, o vinho segue seu processo, ganhando corpo e complexidade em silêncio (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

Depois da colheita, seguimos para a parte industrial, onde pude conhecer de perto as etapas que transformam as uvas colhidas em vinho. A visita começa na sala dos tanques de aço inox, onde acontece a fermentação alcoólica, e passa pelos chamados “ovos” de concreto, estruturas que favorecem a micro-oxigenação e preservam melhor as características das uvas.

Em seguida, chegamos à sala das barricas de carvalho, um dos espaços mais emblemáticos da vinícola. Ali, o vinho repousa e amadurece lentamente, ganhando corpo, complexidade e aromas que só o tempo e a madeira são capazes de conferir. A escolha do tipo de barril interfere diretamente no perfil sensorial de cada rótulo da Guaspari, e é por isso que a vinícola trabalha com as barricas de maior qualidade, feitas com carvalho francês.

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Percebi, nessa etapa, como o processo é silencioso. Depois de tanto trabalho nos vinhedos e na vinificação, o vinho precisa apenas de tempo para se transformar, num ambiente de temperatura e umidade cuidadosamente controladas. Chama atenção ainda a diferença de temperatura entre a sala dos barris e o exterior: ali dentro, o ar era mais fresco e tive até que colocar meu casaco.

Por fim, conhecemos a cave de garrafas, onde os vinhos ficam armazenados antes de serem lançados ao mercado. Estar nesse espaço me fez entender o quanto a produção é um trabalho de longa duração, feito de muitas esperas e escolhas meticulosas.

A visita, nesse sentido, é importante justamente por permitir que o visitante acompanhe todas essas fases, saindo da ideia mais superficial do vinho como um produto final e percebendo-o como o resultado de um processo artesanal, técnico e profundamente enraizado no tempo.

A hora mais esperada: o almoço harmonizado

A parte mais aguardada de toda a visita é sem dúvida o almoço harmonizado. Para os passeios especiais da vindima de 2025, o menu foi criado pelo chefe Tuca Mezzomo, do renomado restaurante Charco em São Paulo, e será servido no restaurante Casa Guaspari Cozinha de Raízes durante todos os fins de semana de julho.

Conhecido por sua cozinha na lenha e no carvão, Tuca elaborou um cardápio em quatro tempos, valorizando ingredientes sazonais da região, muitos deles cultivados na própria fazenda. A ideia é exaltar a potência dos vinhos Guaspari, harmonizando cada prato com um rótulo diferente.

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Antes dos pratos, os visitantes podem se deliciar de petiscos para preparar o paladar, com opções de tábua de frios e pães artesanais, acompanhados do vinho do Vale da Pedra Branco.

Depois, o primeiro tempo: uma salada de folhas, stracciatella fresca, supreme de laranja-Bahia, folhas de erva-doce e ovas de salmão – também com o Vale da Pedra Branco. O prato é uma experiência gastronômica, com as ovas que estouram na boca.

Salada de folhas com ovas de salmão
Prato do primeiro tempo, com salada de folhas, stracciatella e ikura (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

No segundo tempo, berinjela grelhada glaceada com romã, creme de castanha-do-pará e cevada crocante, ao lado do Porcellino Tinto. Confesso que não sou a maior fã de berinjela, mas pela primeira vez comi o vegetal com gosto: o tempero acabou sendo um diferencial no prato.

berinjela com molho chefe tuca
Prato do segundo tempo, com berinjela grelhada e castanha-do-pará (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

Depois, um dos meus favoritos: camarão carabineiro levemente defumado, purê de abóbora cabotiá e abóbora de pescoço tostada e farofa de amêndoas, servido com bisque e harmonizado com o Guaspari Terroir Pinot Noir.

camarão molho de abóbora
Prato do terceiro tempo, com camarão carabineiro e purê de abóbora (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

No quarto tempo, a chuleta de vaca velha vem em uma porção para dividir, acompanhada de cuscuz campeiro, radicchio, tomates com butarga, broccolini tostado e romesco. O prato é harmonizado com o Guaspari Syrah Vista da Serra. 

Para fechar, a sobremesa: um picolé de coco tostado com caramelo salgado, servido com café ou chá (ambas as bebidas são produzidos na própria Guaspari e vendidos em sua lojinha). O sorvete com o chá finalizou o menu de forma leve.

picolé coco caramelo salgado
Sobremesa formada por picolé de coco e caramelo salgado (Cecília Carrilho/Arquivo pessoal)

A comida estava excelente e o vinho, melhor ainda, então não custa repetir a recomendação: beba sempre com moderação.

Serviço

A Vinícola Guaspari fica na Rua Pedro Ferrari, número 300, no bairro Parque dos Lagos, em Espírito Santo do Pinhal. A propriedade realiza diferentes tipos de visita ao longo do ano. Confira a seguir:

Visita da Vindima 2025 com menu cozinha de raízes

Quando? De maio a junho, às sextas-feiras, sábados e domingos. Duração de, aproximadamente, 6h.

Quanto? A experiência custa R$ 868, por pessoa e inclui: café da manhã da fazenda, visita ao vinhedo, colheita simbólica, tour pela indústria e menu harmonizado.

Visita da Vindima 2025 com menu do chefe Tuca Mezzomo

Quando? Nos fins de semana de julho (dias 5, 6, 12, 13, 19, 20, 26 e 27). Duração de, aproximadamente, 6h.

Quanto? A experiência custa R$ 980 por pessoa e inclui: café da manhã da fazenda, visita ao vinhedo, colheita simbólica, tour pela indústria e menu harmonizado.

Degustação Vista

Quando? Durante todo o ano, mas é preciso consultar a disponibilidade na agenda. Duração de, aproximadamente, 2h30.

Quanto? A experiência custa R$ 348, por pessoa e inclui as etapas: café tradicional, visita ao vinhedo e à indústria e degustação de rótulos.

Menu Guaspari

Quando? Durante todo o ano, às sextas-feiras, sábados e domingos, mas é preciso consultar a disponibilidade na agenda. Duração de, aproximadamente, 4h.

Quanto? A experiência custa R$ 598 por pessoa e inclui as etapas: café especial, visita ao vinhedo e à indústria e menu harmonizado em 5 tempos.

Experiência Seleção Guaspari Syrah

Quando? Durante todo o ano, às sextas-feiras, sábados e domingos, mas é preciso consultar a disponibilidade na agenda. Duração de, aproximadamente, 3h30.

Quanto? A experiência custa R$ 428 por pessoa e inclui as etapas: café especial, visita ao vinhedo e à indústria e degustação dos Syrahs acompanhados de finger foods.

Saiba mais sobre o enoturismo em Espírito Santo do Pinhal

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