Os cruzeiros, finalmente, voltam a navegar pelo Brasil em grande estilo. Após a temporada 2019/2020 ter sido prematuramente encerrada com a eclosão da pandemia, impedida de acontecer em 2020/2021 e conturbada em 2021/2022, este ano tudo leva a crer que será a maior da década. Serão 8 navios – 5 da MSC e 3 da Costa – navegando do Nordeste até a Argentina. No cardápio, figura a maior embarcação que já aportou no Brasil, o MSC Seashore. E quis o destino que a minha primeira experiência a bordo de um cruzeiro fosse justamente nele.
Aqui, vale explicar que o Seashore possui um navio-irmão, o Seaview, que já navegou em águas brasileiras (a VT, inclusive, esteve nele na temporada 2018/2019). Por mais que a diferença seja pequena, coisa de alguns metros a mais, o Seashore é de fato maior, com 339 metros de comprimento, 76 metros de altura, 18 decks e 2.270 cabines que comportam até 5.877 hóspedes.
Toda essa imponência se materializou na minha frente durante o embarque em sua viagem inaugural no início de dezembro, em pleno pier Mauá, no Rio de Janeiro. O Seashore era nitidamente maior que outros navios ancorados ali e até mesmo os maiores cargueiros ficavam parecendo brinquedos de criança perto do gigante da MSC.
O protocolo pelo qual passei foi o mesmo que todo passageiro desta temporada terá de cumprir: 1) responder um questionário de saúde, 2) apresentar o certificado de vacinação completa (duas doses ou dose única da Janssen) emitido pelo Connect SUS (ou resultado negativo para um teste RT-PCR feito 24 horas antes do embarque), 3) mostrar o comprovante do seguro-viagem e 4) passar as bagagens pelo raio-X. A MSC avisa que o check-in é encerrado duas horas antes do horário agendado para a partida.
Com a burocracia resolvida, agora sim era hora de desbravar o navio. Como eu tinha lido que o Seashore homenageia Nova York, no conceito e na ambientação, meus olhos foram logo em busca das referências à cidade. De fato, no meio do cassino há uma réplica de três metros de altura da Estátua da Liberdade. E, no meio da área das lojas, uma parede de LED de 8,5 metros projeta imagens da Times Square. A decoração não é nada over e há muitas áreas abertas que permitem que se aviste o mar. As escadarias cravejadas de cristais Swarovski, uma marca da MSC, também estão lá.
Complexo aquático
Para quem curte piscinas, o cardápio inclui 5 delas, cada uma de um jeito. A principal área aberta, no último deck, no 18º andar, guarda a Long Island, a piscina principal que fica em frente a um telão que exibe paisagens naturais ao longo do dia e também um palco onde acontecem aulas de dança, de ginástica e shows. Em torno da piscina há quatro banheiras de hidromassagem e quase duzentas espreguiçadeiras (se considerar que o navio comporta mais de 5 mil hóspedes, nem é tanto).
O deck também é disputado porque ali fica o território das crianças, o parque aquático Pirates Cove. O brinquedão tem pontes suspensas, escorregadores, pistolas que atiram água para todo lado e um balde imenso que, depois de cheio, entorna sobre quem estiver embaixo para alegria da geral.
Já os quatro toboáguas, também no 18º deck, divertem tanto as crianças quanto os adultos. No principal, você escorrega de boia usando um óculos de realidade virtual, que mostra piratas sendo atacados por um polvo gigante. Nos outros três, a descida é feita sem boia. Um deles se debruça para fora do navio e tem uma parte transparente, mas a descida foi tão rápida que na emoção eu mal vi quando isso aconteceu.
Dois andares abaixo, no 16º deck, o navio reserva uma piscina pensada para os dias cinzentos. Além da água aquecida, a Jungle Pool fica em uma área com teto retrátil, que abre e fecha conforme as condições climáticas. Mesmo com sol de rachar, o lugar esteve sempre disputado, o que inclui as duas jacuzzis coletivas. O cenário é convidativo, repleto de vegetação.
O grande “tcham” do Seashore são as duas piscinas de borda infinita, as chamadas de Infinity Pools, na popa da embarcação. Elas ficam ainda mais embaixo, no 8º deck, e dão a sensação de estar no mesmo nível do mar. Em um primeiro momento, fiquei decepcionada com a profundidade – a parte mais funda só tinha 50 centímetros –, mas depois constatei que era uma delícia relaxar nas espreguiçadeiras que são colocadas dentro d’água.
Mais tarde, um funcionário me explicou o por quê das piscinas serem tão rasas: como estão na extremidade do navio, existe o risco de uma onda forte bater e fazer a água subir repentinamente, o que poderia causar algum acidente. Esse é também o motivo das crianças serem proibidas por lá – o que de certa forma veio bem a calhar. Sem música tocando e sem algazarra, as Infinity Pools são um dos recantos mais silenciosos a bordo.
Entretenimento a bordo
Enquanto o complexo aquático é o ponto de encontro de todos os passageiros durante o dia, ao anoitecer a turma se espalha pelas diferentes áreas internas do navio (ainda que eu tenha visto turmas animadas que ficaram até altas horas da noite nas hidromassagens).
Quando não estão no Pirates Cove, as crianças se dividem por faixas etárias nos diferentes espaços infantis, todos supervisionados por monitores. Os bebês de até três anos têm um cantinho com brinquedos da Chicco. Os de quatro a onze, um clubinho desenvolvido em parceria com a Lego. Dos 12 aos 17, a brincadeira rola em uma sala com jogos e videogames.
Para todas as idades, o Hall of Games foi que mais me impressionou. O espaço super colorido tem vários tipos de jogos, que vão desde as nostálgicas máquinas de pegar bichos de pelúcia e de fliperama até simuladores de rafting e Fórmula 1. Cada brinquedo deve ser pago separadamente e os valores variam entre US$ 2 e US$ 5 e serão debitados do Cruise Card, o mesmo cartão que abre a porta da cabine (falarei dele mais para o final). Não precisa reservar, aqui é só chegar.
A jogatina é mais séria e se estende madrugada adentro no cassino, esse só para maiores de 18 anos, com mesas de pôquer, roleta, blackjack e uma porção de máquinas caça-níquel. Obviamente, os jogos aqui também são pagos à parte.
Há ainda quem prefira aproveitar a academia, que tem aparelhos modernos, personal trainers à disposição e, o melhor, uma baita vista: malhar vendo o mar dá até mais força de vontade. Mas, se puxar ferro durante as férias não faz sua cabeça, o Aurea Spa é uma tentadora alternativa. A massagem relaxante de uma hora custa US$ 89 e o menu continua com outros tratamentos, banhos de vapor, sauna, manicure, depilação, barbearia….
Gastronomia
Deu fome? O principal restaurante do navio é o Market Place, que funciona 20 horas por dia com buffet self-service. Lá você encontra de tudo: do bom arroz e feijão, incluído no cardápio para agradar o paladar brasileiro, até massas, pizzas e hambúrgueres. As sobremesas são diferentonas (encontrei até quindim de frutas cristalizadas), mas durante o meu cruzeiro estavam mais bonitas do que apetitosas. Mesmo o restaurante sendo gigantesco, a formação de filas é inevitável durante os horários de pico. Não há obrigatoriedade de luvas ou máscara, mas o buffet é coberto por placas de acrílico com um vão para passar a mão e há alguns totens de álcool em gel espalhados pelo salão.
O jantar também pode ser feito em um dos três restaurante à la carte, que são de uso exclusivo para quem adquiriu os pacotes Bella e Fantástica. São eles: Central Park, Tribeca e 5th Avenue e possuem o mesmo cardápio. Não é necessário reservar, mas é preciso respeitar o horário pré-determinado e que vem informado no Cruise Card. O Manhattan Restaurant é de acesso exclusivo para quem comprou o pacote Aurea e, por lá, a refeição pode ser feita em qualquer horário dentro do funcionamento do restaurante.
Devem ser pagos à parte e reservados com antecedência somente os cincos restaurantes temáticos. Do mexicano Hola! Tacos & Cantina eu fugi porque todos os pratos vinham com o tempero mais temido por mim, o coentro. Se você também for desse time, anote aí: o nome em inglês é “cilantro”. Por outro lado, pirei no Kaito Teppanyaki. Além da comida asiática ser bem gostosa, o jantar é um verdadeiro show, com os cozinheiros fazendo malabarismos, cantando e dançando enquanto preparam salmão, camarão, carne e legumes em uma grande chapa. O auge se dá quando o chapeiro arremessa pedaços de ovos mexidos e o comensal precisa tentar abocanhar como se fosse um golfinho. Quem engolia, levava os colegas de bancada à loucura!
No Ocean Cay, especializado em frutos do mar, provei um bacalhau negro com purê de berinjela que estava sensacional. As opções continuam com o Butcher’s Cut, churrascaria de estilo americano que prepara as carnes na brasa, e o Kaito Sushi Bar, onde uma esteira rolante carrega os pratinhos com sushis (cada um custa entre US$ 4 e US$ 6).
A MSC oferece diferentes pacotes de dois, três, ou quatro jantares temáticos: o combo Butcher’s Cut + Kaito Teppanyaki custa R$ 398 por pessoa. Para comer no Ocean Cay, Butcher’s Cut e no Hola! Tacos & Cantina o valor é R$ 540. Para a experiência completa, Ocean Cay + Kaito Teppanyaki + Butcher’s Cut + Hola! Tacos & Cantina é preciso desembolsar R$ 738.
Vida noturna
Depois de jantar, os passageiros podem curtir os espetáculos que acontecem no Madison Theatre. O espaço no 7º deck comporta 1.200 pessoas e o lugar no teatro deve ser agendado nos totens digitais localizados próximos aos elevadores ou no aplicativo MSC for Me. São duas sessões por noite, a primeira às 22h30 e a segunda às 23h15.
Eu assisti ao Gravity, que mescla números circenses a la Cirque du Soleil com ilusões de ótica projetadas em um telão atrás do palco – fiquei vidrada! No total, o Seashore possui um elenco de 32 artistas que apresentam sete espetáculos diferentes, um em cada dia da semana. Ou seja, é um programa obrigatório em todas as noites do cruzeiro.
Depois, segui para a baladinha no Le Cabaret Rouge, um salão de festas todo de veludo vermelho na popa do navio. Eu já tinha estado por lá antes para assistir em um telão o Brasil ser eliminado da Copa do Mundo pela Croácia – acho que toda aquela decoração vermelha deu sorte para os adversários. Mas a lembrança amarga ficou para trás porque, afinal de contas, seria uma noite temática! Estava rolando uma “silent party”, em que cada convidado recebe um fone de ouvido e pode escolher entre três estações: uma de pop, uma de reggaeton e outra de rock.
Cabines
Na hora de voltar para a minha cabine, tive até que descer do salto. Àquela altura, o meu celular registrava que eu já tinha dado 12 mil passos no dia, o equivalente a uns 8 quilômetros, e o percurso pela frente ainda seria longo. O meu quarto, número 15014, ficava no 15º deck, bem no extremo da proa, e cruzar o navio de ponta a ponta rendia pelo menos uns cinco minutos de caminhada. Quem tiver a sorte de pegar as cabines com final de 100 a 200 estará melhor localizado, na parte mais central do navio.
Ao todo são 11 categorias de cabines. A minha, chamada “Varanda Deluxe”, tinha cama de casal, sofá, uma escrivaninha que também fazia as vezes de penteadeira, televisão, banheiro com chuveiro e uma varanda com duas cadeiras. São ainda mais aprazíveis as varandas de 32 suítes que vêm com hidromassagens privativa para relaxar vendo o mar.
Se a minha bateria já estava acabando, a do meu celular estava em situação ainda mais crítica. Procurei uma tomada para carregar o aparelho, mas ao lado da cama só havia uma entrada USB tipo A, a mais usada, mas que é incompatível com o meu iPhone 13, que tem entrada USB tipo C. Na escrivaninha até tinha uma tomada, mas ela era americana, com dois pininhos chatos. Liguei para a recepção e me orientaram a procurar pela tomada atrás da televisão – e ufa, era a tradicional brasileira! De qualquer forma, fica a dica para levar um adaptador se esse também for o seu caso.
Outro detalhe: toda a conversa com a recepção aconteceu em inglês e foram poucos os brasileiros que encontrei na linha de frente. A maioria com quem eu topei era da Indonésia, da Tailândia e da Malásia, todos muito solícitos, mas não entendiam nada de português ou espanhol. Isso quer dizer que falar um inglês básico vai ajudar quem for embarcar por aqui nessa temporada.
Um outro detalhe: como os banheiros não têm janelas, são instalados exaustores no teto que ficam ligados o tempo todo e o ruído, por menor que fosse, tirava o meu sono. Mas encontrei uma técnica para desligá-lo: remover o cartão do dispositivo que aciona as luzes do quarto. Fiquei sem luz na cabine, mas dormi ao som do mar. Tem coisa melhor?
Como outros navios da MSC, o Seashore possui uma categoria mais exclusiva chamada Yatch Club. Os passageiros têm acesso a uma piscina, hidromassagem e um bar exclusivos, além de prioridade no embarque e desembarque, área exclusiva para check-in e check-out, pacote de internet, all inclusive de bebidas, mordomo e serviço de concierge 24 horas.
Cruise Card
Assim que entrei no navio recebi o meu fiel companheiro de viagem, o Cruise Card. Esse cartão, além de concentrar as principais informações do hóspede (número da cabine, tipos de restaurantes inclusos, senha do wi-fi…), funciona como chave da cabine e é a única forma de pagamento aceita a bordo. Ao fim da viagem, o pagamento do Cruise Card deve ser feito em totens de autoatendimento que ficam espalhados por todo o navio. Detalhe: é preciso ter um cartão de crédito ou débito internacional (certifique-se de ter feito o aviso de viagem junto ao seu banco). Quem não tiver um cartão internacional, a solução é fazer um depósito em dinheiro no balcão da recepção durante o check-in (são aceitos apenas dólares americanos). Se a quantia depositada não for gasta integralmente, o restante é devolvido. Para evitar filas, vale a pena saldar a conta em algum totem na noite anterior ao desembarque.
Wi-fi
Enquanto o navio estiver navegando em alto mar, não há sinal de celular. Então, se para você internet for um item de primeira necessidade, a solução é contratar um pacote de wi-fi. O mais básico, com duração de 7 dias, acesso ilimitado e que permite checar emails e mandar mensagens por WhatsApp custa R$271,88 para um aparelho e R$ 434,91 para dois. Já o pacote com adicional de navegação, streaming de filmes e música sob demanda custa R$ 407,96 para um aparelho e R$707,07 para dois. Sobre a velocidade, na minha experiência posso dizer que baixar uma foto, ver stories do Instagram e carregar vídeo no YouTube foi uma novela. O serviço pode ser contratado antecipadamente ou a bordo.
Serviço
Entre dezembro de 2022 e março de 2023, o MSC Seashore fará viagens de 3, 6, 7 ou 8 noites pelo Brasil. Os embarques acontecerão em Santos, Salvador e Maceió, com paradas em Búzios e Ilha Grande, a depender do roteiro (veja detalhes dos roteiros nessa matéria). Os preços são a partir de R$ 2.459 por pessoa em cabine externa com vista para o mar com taxas incluídas, mas a essa altura a disponibilidade nas categorias mais baratas é pouca. Consulte valores e cabines disponíveis no site da MSC.