A expressão em inglês define com precisão o que achei da Puglia: underrated. Em português, a palavra que mais se aproxima é “subestimada”. Ofuscada por atrações poderosas como Toscana, Roma, Veneza e tantas outras, a região que ocupa o “salto” da bota do mapa da Itália é, para muitos, uma ilustre desconhecida. Eis os motivos pelos quais eu acho que você deve pensar seriamente em incluir a Puglia no roteiro da sua próxima viagem:
- É uma viagem “barata”
Em tempos de euro nas estrelas, qualquer menção a “barato” deve vir entre aspas. Mas, para os padrões europeus, a Puglia é um sopro de otimismo. Nenhuma refeição nababesca da minha viagem, com (muito) vinho incluído, passou de € 25 por cabeça. Querendo, dá pra gastar muito menos. Fugindo dos meses de julho e agosto, é possível encontrar acomodação básica confortável a menos de € 50 para o casal. Ou seja, em termos de gastos, está mais para Portugal do que para Itália.
- É um destino peso-pesado
Em uma semana visitei 10 cidades que, individualmente, já justificariam a viagem. Há vilarejos milenares forrados de mármore, ruínas greco-romanas, igrejas revestidas de mosaico, cidadezinhas brancas encarapitadas em colinas, outras que se debruçam vertiginosamente sobre falésias à beira do mar cor de esmeralda. Alguns nomes: Polignano a Mare, Ostuni, Locotorondo, Alberobello, Cisternino, Otranto, Gallipoli… Obviamente, elas renderão um post (ou vários) à parte.
- Tem as praias mais bonitas da Itália continental
Sicília e Sardenha à parte, nenhuma outra região da Itália tem tantas praias bonitas. A variedade é absurda. Algumas se parecem ao Caribe, com areia fina e água rasa azul turquesa. E também há falésias, enseadas de pedrinhas e até dunas! Para completar, ainda que haja uma ou outra particular, e alguns espaços reservados aos lidos (beach clubs a la italiana), há trechos públicos de sobra.
- É banhada por dois mares
De um lado, o Adriático, com seu inconfundível tom esmeralda. Do outro, o Jônico, com seu poderoso azul turquesa, que ora pende para o cobalto. Vem daí, também, a diversidade dos cenários praianos (os meus favoritos definitivamente foram os do mar Jônico).
- É uma terra de gente amável
Se você algum dia se queixou da rispidez dos romanos (por “aqui” de tanto turista) ou do ar de superioridade milanês, espere até chega na Puglia. Taxa de simpatia 100%: do início ao fim, só topei com pessoas que tive vontade de abraçar.
- É uma alternativa que passa longe do turismo de massa
Apenas um dos 10 vilarejos espetaculares que visitei (Alberobello) sucumbiu ao turismo de massa. Nos demais, ainda há “vida real” no centro histórico, um sabor autêntico, poucas lojas de souvenir made in China. Que maravilha é poder fugir da mesmice…
- É um destino que ainda não está na rota dos cruzeiros
Com todo respeito aos que viajam de cruzeiro, topar com os grupos numerosos que descem dos grandes transatlânticos é um dos piores pesadelos de quem se dá o trabalho de ser um viajante independente. Na Puglia, ainda que algumas das cidades mais belas estejam à beira mar, a modesta infraestrutura ainda não permite a aproximação de grandes navios. Torçamos para que isso dure.
- É um dos paraísos gastronômicos da Itália
Come-se bem em qualquer lugar. E come-se muito. Glutona assumida, tive que fazer um halterofilismo estomacal para lidar com as porções do padrão pugliese. E dá-lhe bombette (um bolinho de carne recheado com coisas gulosas), orecchiette (massa em forma de orelhinha), scamorza (um queijo matador), taralli (um biscoitinho viciante), caldeirões de frutos do mar, linguiças gigantescas, tábuas de frios…
- É um dos paraísos enológicos da Itália
Pouco conhecidos fora da Itália, os vinhos da Puglia são potentes, saborosos, diversificados e… baratos. Há belíssimos tintos (Primitivo é o mais famoso), rosés e brancos. A Itália definitivamente não dá ponto sem nó quando o assunto é beber bem.
- É um destino low profile
O que pode ser uma contraindicação para alguns, para mim é um alento. A Puglia não é um destino glamuroso. É um destino rústico, simples e democrático. Nas praias em geral, você verá mais famílias numerosas do que clima de azaração, principalmente fora de julho e agosto. É um lugar para ficar à vontade. Zero ostentação.
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