Mar calminho, silêncio, sol morno de outono. A caminho do nirvana que só o segundo dia de férias pode proporcionar, estou mergulhada no meu livro, estirada numa das espreguiçadeiras esparsamente distribuídas pela praia quase vazia. Então alguém decide alojar-se no guarda-sol ao lado e se põe a falar no celular: voz rouca, sotaque britânico, “volto para Londres domingo”, blá blá blá. Respiro fundo, lamento a morte do sossego absoluto e lanço um olhar maligno à intrusa – daqueles por cima dos óculos. Naomi Campbell, você por aqui? Cinco minutos depois, a supermodelo é absorvida pela última edição da Harper’s Bazaar e a (minha) paz volta a reinar.
Cenas assim fazem parte do cotidiano do hotel Aman Sveti Stefan, cujo eixo central é uma vila medieval amuralhada do século 15, equilibrada sobre uma ilhota de 12 400 m2. O cenário onírico ao sul do balneário de Budva é a joia da coroa de Montenegro, um diminuto país de 620 mil habitantes ao sul da Croácia, que ostenta a bandeira de Riviera europeia da vez. Parte da rede Aman Resorts, ícone-mor do luxo no estilo “íntimo e discreto” (especulações à parte, um dos co-proprietários da rede é o magnata russo Vladislav Doronin, ex-namorado da supermodelo Naomi) o hotel também foi o cenário do casamento do tenista sérvio Novak Djokovic no mês de julho. A julgar pela potência dos iates que circulam ao redor da ilha durante o dia – à noite, eles atracam na suntuosa Marina Porto Montenegro, a poucos quilômetros dali – muitos outros figurões douraram a silhueta nessas bandas do Adriático neste verão.
Ao chegar ao hotel, todo hóspede tem os seus minutos de fama, seja Naomi ou Adriana. Os táxis estacionam no começo do istmo que dá acesso à ilha. A partir daí, é preciso desfilar por cerca de 100 metros até adentrar o grandioso portal do vilarejo medieval, sob o olhar atento dos banhistas das praias que amparam a “passarela”. Se ouvisse o rufar de tambores naquele momento, juro que não estranharia.
Não é de hoje que o glamour mora em Sveti Stefan. O vilarejo que repousa sobre a ilhota foi erguido no século 15 para abrigar 12 famílias do poderoso clã Pastrovic (que ocupava as terras costeiras dos arredores de Budva) e protegê-las dos frequentes ataques de piratas. Diz a lenda que o dinheiro para a construção veio de um tesouro encontrado num galeão turco abatido em combate. Importante porto comercial, Sveti Stefan chegou a ter 400 moradores no século 18. Mas, pouco a pouco, foi perdendo relevância e população até que, nos anos 1950, passou aos domínios do governo da antiga Iugoslávia e foi convertida num hotel de luxo estatal.
Cessado o vai e vem de damas como Sophia Loren e Marilyn Monroe, o lugar sucumbiu à decadência, que atingiu o ápice com o dramático desmembramento da Iugoslávia a partir dos anos 1990. Uma vez restaurada a paz e conquistada a independência de Montenegro (em 2006), a Aman Resorts venceu uma concorrência internacional para devolver Sveti Stefan a seus tempos de glória. A aparência externa dos edifícios que compõem a vila foi mantida. Os 50 quartos e suítes ocupam as antigas residências. Pracinhas foram convertidas nas áreas sociais e as capelinhas do povoado, também restauradas, incrementam e conferem autenticidade ao conjunto. Como se não bastasse, a villa dos anos 30 que serviu de residência de verão à rainha Marija Karadordevic completa o hotel, com oito suítes instaladas de frente para uma praia no continente.
Ainda que o hotel tenha sido inaugurado em 2008, o complexo só foi concluído este verão, com a abertura de um spa MA-TA-DOR, uma nova piscina e os últimos arremates na ilha. Justamente por isso, esperei até agora para conhecê-lo.
Para não cansar a sua beleza com tanto texto, conto os detalhes sobre minhas 48 horas no hotel no próximo post.
Siga @drisetti no Twitter e no Instagram