Em pleno mês de julho, auge do verão, a recepcionista atrás de uma vitrine de acrílico era a única pessoa na recepção do maior hotel de Binibeca, um dos vilarejos mais cobiçados de Menorca, nas Ilhas Baleares. De máscara (obrigatória em todos os lugares, menos na praia), passo álcool gel nas mãos e me aproximo para fazer o check-in. Não há sofás ou outros lugares para sentar-se na recepção, em cuja porta há um cartaz que informa que apenas dois hóspedes podem permanecer do lado de dentro simultaneamente.
Além dos procedimentos normais de check-in, tenho que ler e assinar um longo documento com todas as normas para a redução de risco de contágio dentro do hotel, entre as quais está tudo aquilo que já estamos cansados de saber (distância de 1,5 entre pessoas, lavar as mãos etc) e informações específicas, como a de que somente uma pessoa por vez pode usar o elevador.
Mesmo com as fronteiras abertas entre países europeus e o sinal verde para a retomada do turismo, grande parte dos hotéis da Espanha ficará fechada neste verão. Em Barcelona, por exemplo, até o começo de julho, apenas 37 dos 450 da cidade estavam funcionando, segundo o departamento de turismo. Em Menorca, onde estou agora, a previsão é de que menos de 30% dos leitos estejam disponíveis nesta temporada. Dentro dos poucos que estão na ativa, o movimento é fraco. Até 20 de julho, os hoteleiros da ilha estimavam ocupação média de 15%. No hotel no qual me hospedei (pagando uma tarifa que corresponde a 30% do valor esperado para uma alta temporada normal), menos de um quarto dos quartos estavam ocupados.
A baixa ocupação dos hotéis não é proposital. Ou seja, não houve restrição de capacidade para promover o distanciamento. É simplesmente resultado da pouca demanda. De qualquer forma, fica difícil imaginar como os novos protocolos seriam viáveis com casa cheia. Principalmente no café da manhã. Para que não cheguem todos ao mesmo tempo no restaurante, os hóspedes são divididos por turnos (o meu era das 10h às 10h30). Uma vez lá, era preciso esperar na porta, atrás de uma faixa, para ser atendido e levado diretamente até uma mesa que já estivesse desinfetada. Obviamente, todo mundo pode tirar a máscara para comer. Mas, para circular, o uso é obrigatório, assim como para todos os funcionários (a regra vale em qualquer restaurante atualmente).
O esquema era um híbrido de self-service com a la carte. Entre os hóspedes e a bancada onde as comidas estavam expostas, havia uma mesa para forçar a distância pessoa-alimentos. E, ao invés de servir-se diretamente, era preciso pedir para um funcionário fazer o prato: “um pouco de pão, um pouco daquele queijo, presunto, por favor”, com direito a todos os “lost in translation” possíveis entre os (poucos) estrangeiros e os atendentes. Imaginem isso com o hotel cheio…
Fora da recepção e do café da manhã, a vida no hotel é praticamente normal. Na piscina, as espreguiçadeiras estão mais espaçadas. Mas, pelo menos enquanto estive lá, não vi ninguém preocupado em desinfetá-las entre cada uso. As camareiras que limpam os quartos não estão vestidas de astronauta (como em vídeos que assisti sobre higienização de hotéis pós-covid). Usam simplesmente máscara e luva.
Mesmo com pouca gente, é notável a sobrecarga que recai nos ombros dos funcionários, que são pouquíssimos devido aos tempos de vacas magras. Eles se desdobram para fazer com que as pessoas cumpram as regras, desinfetam, servem e ainda encontram forças para sorrir por trás da máscara. Nós, que amamos viajar, deveríamos sair na janela para aplaudir quem trabalha no front da hotelaria neste momento.