Girokastra: mais um troféu revelação na Albânia
– Vocês vão ficar quanto tempo aqui na Armênia?
– Errrr… Vamos ficar uma semana aqui na… Albânia.
– Vocês estão num grupo de excursão aqui na Armênia?
– Não, estamos rodando a Albânia de carro.
– E vocês vão para Girokastra?
– Sim, vamos.
– Então a gente se vê lá!
– Ahã. Aproveite sua viagem aqui na Armênia, tá?
A americana bizarra não tinha noção de onde estava, mas até que sabia aonde ia. Girokastra, assim como Berat (onde o diálogo surrealista aconteceu), forma a dupla de destinos óbvios e incontornáveis da AL-BÂ-NI-A.
Girokastra é terra natal dos dois albaneses mais famosos de todos os tempos. O ditador cachorro-louco Enver Hoxha e o escritor Ismail Kadare – autor do belíssimo Abril Despedaçado, que inspirou o filme homônimo interpretado por Rodrigo Santoro. Com vista para o vale de Drina e montanhas grandiosas, a cidadezinha de 40 mil habitantes foi mais uma surpresa de tremer os joelhos durante a empreitada albanesa.
No topo, há um castelo matador cujas origens estão fincadas no século 12 – ainda que grande parte da estrutura que se vê hoje date do século 19. O lugar abriga um museu militar e guarda a carcaça de um avião da US Air Force que teve que fazer um pouso de emergência no país e foi capturado como troféu na era comunista. Colina abaixo, a cidade se desenrola em ladeiras de paralelepípedo ladeadas de casarões otomanos pintados de branco.
A cidade foi tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco em 2008 mas está bem longe de ter aquele jeitinho pasteurizados dos Centros Históricos da Europa Ocidental – para o bem e para o mal. Se por um lado ainda há artesãos trabalhando nas calçadas e agricultores vendendo mel e raki caseiros nas esquinas, o emaranhado de fios elétricos faz lembrar o Sudeste Asiático. Se por um lado os próprios donos da Casa Zekate, do século 18, recebem os turistas no interior do palacete, as faixas publicitárias coloridas são um anticlímax no bairro antigo. Coisas da Albânia…
Fiquei só uma tarde. Mas deu pena. Taí um lugar onde valeria ter dormido. De preferência num hotelzinho instalado num casarão otomano (o Kalemi é uma belezinha). Em tempo: não encontrei a americana que acreditava estar na Armênia.
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