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Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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O céu e o inferno de Veneza

A cidade mais apaixonante do planeta pode estar morrendo de tanto amor

Por Adriana Setti
Atualizado em 3 set 2021, 12h36 - Publicado em 19 nov 2014, 19h07
Ponte Rialto, em Veneza, Itália
Veneza é composta por nada menos que 118 ilhotas e 400 pontes, criando uma das mais belas arquiteturas do mundo. Mas o fato é que a cidade pode estar sendo vítima da sua própria exuberância (Thinkstock/Thinkstock)

Dizem os pesquisadores do comportamento humanos que esse tipo de estado mental se chama “despersonalização”. Você certamente já sentiu isso alguma vez: aquela sensação de que o mundo não é de verdade, que tudo não passa de um delírio… Veneza tem esse efeito sobre mim. Uma vez lá, é impossível manter os pés no chão.

Você acorda, abre a janela do quarto e lá está o gondoleiro: Vooooolaaaarreee, oooo oooo! Como acreditar que um lugar desse tem bombeiro, ambulância, supermercado, gente de verdade? Arrasadora, a cidade luta como pode para manter a sua condição geográfica impossível, duelando com o imponderável numa eterna queda de braços. Enquanto o mar vai roendo a cidade aos poucos, ele também lhe acrescenta o charme da fragilidade, a despeito de toda imponência erguida em pedra e cimento através dos séculos como potência marítima.

img_7663Inferno: a multidão e o cruzeiro gigante que avança sobre a cidade

img_7661Céu: um momento de respiro e a beleza gritante de um canal

A beleza é escancarada. Mas Veneza está morrendo de amor. Vítima do seu próprio complexo de Casanova, ela seduz gente demais e já não pode com tanto. Mesmo com uma nova política que reduziu o número de cruzeiros atracados a cada dia, as multidões não dão trégua. O que chega a significar dezenas de milhares de pessoas despejadas de uma vez só nas suas ruelas estreitas, somando-se às outras milhares que se hospedam ali. A multidão converge como um tsunami rumo à Piazza San Marco. Selfies, vendedores que jogam bolinhas iluminadas pro alto, guias histéricas berrando no megafone, mais selfies, orientais catatônicos, bolsas falsificadas expostas no chão, o gondoleiro de saco cheio. Nem as pombas aguentam mais tanta gente, tanta migalha. Parecem gordas, estressadas, diabéticas.

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img_7658Capital mundial da histeria coletiva das selfies

Então você decide se perder por ruazinhas misteriosas, cruzando algumas das mais de 400 pontes venezianas aleatoriamente. A multidão desaparece por alguns instantes e a felicidade volta a reinar naquele emaranhado de becos, praças e vielas, divididos em seis distritos entrecortados em “Z” pelo Grande Canal. Ali, uma faixa implora: “Stop Mafia, Venezia e sacra”. Isso só pode querer dizer que há quem se preocupe com o ponto que Veneza chegou (e que há quem ganhe muito com isso).

Mas não há multidão, sujeira ou cocô de pomba que consiga roubar a magia do lugar. Veneza faz tremer. Veneza é pra ir antes de morrer. Veneza é só uma. E cabe a você munir-se de bom senso e planejar a sua temporada com cuidado.

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img_2738Os moradores de Veneza existem: lavam panos, usam calcinha e sutiã!

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