Viena divide com Milão o título de capital mundial da ópera. Na minha primeira vez na cidade, achei que fazia todo o sentido que também estreiasse nesse gênero de espetáculo absolutamente único.
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Ópera são como ostras: uns amam e outros não suportam. Não há meio termo. Convenhamos, não é para qualquer um: chegam a durar mais do que três horas, envolvem performances carregadas de teatralidade, fazem os seus tímpanos vibrarem em acordes nunca dantes escutados e, muitas vezes, jogam com uma estética exagerada, para dizer o mínimo.
Eu não tinha a menor ideia de como digeriria aquilo tudo, mas fiz um pacto comigo mesma que “agüentaria” firme o primeiro ato, sim ou sim. Se a coisa fosse insuportável demais sairia de fininho no intervalo. Não precisou: fiquei e adorei. Minha mãe, fã e entendida, ganhou companhia para ir ao teatro. Suponho que a experiência não tenha sido tão divertida para as dez japonesinhas colegiais (e vestidas como tais, de sainha, meias ¾ e gravatinha), que dormiram dos primeiros aos últimos acordes – e não acordaram nem no intervalo, para delírio de uma senhora austríaca que quase enfartou de tanto rir quando as luzes se ascenderam.
Assisti L’Italiana in Algeri, de Gioachino Rossini, uma mistura de ópera tradicional com opera buffa (um gênero meio cômico e escrachado). Surpresa total! Jamais imaginava que num templo da formalidade como a Staatsoper houvesse espaço para piadas que beiram a baixaria: em certos momentos, o sultão protagonista aparece semi-nu, com uma pança apoteótica de fora e chumaços de pelo artificial grudados pelo corpo. Era, em outras palavras, uma ópera “menor”, mas com uma leveza que caiu bem para uma primeira vez.
Antes de ir, pedi dicas de quem entende, a americana Louisa Muller trabalha como diretora de palco freelancer na ópera de Viena. Vejam o que ela me disse:
– A programação da Staatsoper muda a cada duas semanas. Isso significa que, se você passar uma semana indo à ópera, e voltar a Viena dentro de quinze dias, pode repetir a experiência com um repertório totalmente novo.
– Em julho e agosto a Staatsoper fecha para as férias de verão.
– Na Staatsoper, a programação tende a englobar as produções mais tradicionais. Para ver algo mais alternativo, vá ao Theater an der Wien, que ainda por cima fica ao lado do Naschmarkt – perfeito para jantar antes da ópera!
– A etiqueta é a mesma que para concertos de música clássica: ainda que haja uma certa flexibilidade, o dress code é formal e conservador. Isso significa paletó para homens e cocktail attire (traduzindo, um pretinho básico, um sapato bacana e uns acessórios elegantes resolvem) para mulheres – a menos que você esteja no “Stehplatz”*, onde jeans é tolerado, apesar de ainda não ser o ideal.
*Aqui vale um parênteses: o “Stehplatz” (ou “sala de ficar em pé”) é uma área onde o público assiste à ópera como um dois de paus. Os ingressos são vendidos de última (80 minutos antes do início) hora e custam uma miséria: € 3 a € 4 (sendo que um ingresso para um lugar minimamente razoável, como o que eu comprei em uma das primeiras filas da platéis láááá de cima, custa € 38). Vale para quem quer “dar uma olhada”, afinal de contas, três horas em pé é um perrengaço! Este post, do blog Likely Impossibilities, em inglês, é excelente para explicar como tudo funciona.
– A maioria dos assentos da Staatsoper (que tem um tamanho compacto) é boa. Só não recomendo a segunda fila dos boxes (os camarotes), que são caros e podem ter a visão prejudicada pela pessoa da frente por causa da inclinação. Compre os ingressos pela internet (no site oficial da Staatsoper), com antecedência.
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