Poderia falar das tapas, do verão no Mediterrâneo, das formas delirantes desenhadas por Gaudí. Ou então das obras de Picasso e de Dalí, da catedral de León, da disposição infinita para celebrar o lado bom da vida. Daria ainda para citar as praias das ilhas Baleares, os vilarejos medievais nas profundezas de Aragón, a neve dos Pirineus. Mas eu caí definitivamente de amores pela maneira como os espanhóis batem palma. Trata-se de algo único e maravilhoso que deveria ser tombado como patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco.
As palmas são fundamentais no flamenco e há todo um universo ao redor desse simples ato de juntar as mãos com a intenção de marcar o ritmo. Para cada sutil variação desse estilo musical existe uma forma ideal de fazer a esquerda estalar sobre a direita e vice versa. E, dentro da rodinha, cada envolvido desempenha um papel diferente para construir o som. Eu poderia passar a vida tentando, mas jamais conseguiria. Deve ser genético.
O flamenco, como todo mundo sabe, é a música dos ciganos por excelência. Mas a maravilhosa palminha não está restrita a esse universo. Assim como quase todo mundo que nasce entre o Leme e o Pontal sabe mais ou menos o que fazer com um pandeiro, na Espanha todo mundo bate a tal da palma. E o mais espantoso e fascinante de tudo é que todos os 46 milhões de espanhóis parecem intuir exatamente quando e como fazer para que a coisa funcione. E simplesmente acontece.
Um belo dia, em uma rodinha de violão, o seu amigo que jamais manifestou amor pelo flamenco está lá, belo e formoso, batendo palminha como ninguém. Você está em uma festa de música eletrônica e, num determinado momento, alguém puxa o tacaticataca para acompanhar o DJ e é seguido pela multidão. O aplauso do show vai ficando mais ritmado quando, de repente, vira música. É mágica.
Não sei se estou conseguindo me explicar. Mas desejo muito que a maravilha das palmas espontâneas cruzem o seu caminho na próxima viagem.
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