Bodega é um lugar informal que serve vinho e vermouth barato direto do barril. Ou seja, um boteco a la europeia que, antigamente, era onde os amigos se encontravam para beber e beliscar. Uma bodega não precisa ter cozinha. Muitas vezes, serve apenas tapas frias (queijos, embutidos, azeitonas etc) e conservas.
Tudo isso pra dizer que as bodegas estão novamente em alta. Lugares velhos de guerra estão sendo frequentado por gente moderna que cansou de bar pseudo-retrô. Ao mesmo tempo, estão surgindo novos endereços concebidos à moda antiga, com um toque atual. A Bodega Els Sortidors del Parlament se encaixa na segunda categoria.
A bodega ocupa um espaço enorme onde até pouco tempo funcionava uma oficina de motos. Fica na Carrer del Parlament, a rua mais cool de Barcelona (tema do post anterior). Mas a incluo na minha série de restaurantes escondidinhos porque ela está isolada no último quarteirão da rua, longinho dos bares bombados (tanto é que antes de ler sobre o lugar, nunca tinha passado na frente).
O pé direito é alucinantemente alto. Há vigas de madeira expostas, e alguns pedacinhos de tijolos à vista. O salão abre alas é decorado com uma gaiola de passarinhos fake fofa. Logo depois vem um corredor com um lindo balcão de madeira, seguido de uma vitrine de conservas e várias estantes recheadas de comidinhas, vinhos, vinhos e vinhos. Barris originais fazem as vezes de mesa (não é muito confortável, mas vamos combinar que é lindo) e também há algumas mesonas de madeira compartilhadas. Quadros bem sacados, esculturas de madeira e grandes vasos de plantas enchem o ambiente. Rústico, pero no mucho.
A carta é enxuta e certeira. Há várias conservas de peixe e marisco (pode pedir sem medo, os espanhóis mandam bem nas latinhas), queijos artesanais, embutidos e outros quitutes tipicamente “bodegueiros”. Mas a Sortidors também tem cozinha. E isso faz toda a diferença.
Para começar, pedimos coca recapte, uma espécie de torradinha com pimentão e anchovas (€ 3). E também umas divinas batatas com mojón picón (€ 5,10), um molho delicioso típico das Ilhas Canárias. Depois, provamos três platillos (pratinhos para dividir). O primeiro, pastel roto de marisco (€ 4,70). Explicando: casquinhas crocantes com uma pastinha de marisco e um mexilhão fresco por cima. De tão bom, repetimos. Depois, devoramos uma mini cassoleta de rabo de boi com purê (€ 7,50) im-pe-cá-vel. Arrematamos com uma costelinha de porco confitada (€ 7,80), o prato menos notável da noite, mas ainda assim correto.
A carta de vinhos é honestíssima. E você ainda pode escolher qualquer exemplar das estantes (o lugar também funciona como empório), e consumir in loco pagando € 4 extra. Tomamos uma garrafa de cava Rovellat (€ 16,90). A conta deu € 25 por cabeça. Isso porque exageramos bem. Comendo como uma pessoa normal, e tomando vinho de barril dá pra sair satisfeito com € 15 por pessoa, fácil fácil.
Uma contra-indicação: o lugar tem pé direito alto e todo o catálogo de ventiladores disponíveis no mercado. Ainda assim, nos dias mais quentes, a parte do fundão é um forno. No verão, ligue para reservar mesa e peça para sentar perto da porta. Ainda assim, nos dias mais quentes, não sei não… Um ar condicionado iria muito bem.
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