É preciso três vidas para conhecer todos os bons bares de tapas de Barcelona. E a angústia diante de tantas opções só aumenta.
Depois de alguns anos de marasmo decorrente da crise econômica, a cidade voltou a pulsar em um ritmo frenético e as boas novas gastronômicas acompanham.
Está perdido? Então eis aqui três novidades mais do que certeiras na capital catalã:
Tapas&Cia
A avenida Gaudí, que desemboca na Sagrada Família, é o típico “território minado”, onde todo cuidado é pouco para não topar com uma bomba gastronômica. Entre tantos restaurantes turísticos que vendem paella congelada, o novo Tapas&Cia é um porto seguro, seguríssimo.
Jamais entraria nesse lugar se não soubesse um pouco da sua história, tanto pelo endereço quanto pelo visual. Mas este ótimo bar de tapas disfarçado de restaurante de turista é a mais nova empreitada do restauranteur Javier Cotorruelo, sócio do todo-poderoso chef Carles Abellán em vários projetos (inclusive o Suculent, um dos meus restaurantes favoritos, e o novo La Barra – veja abaixo) e proprietário do inovador 4amb5. Além do mais, no comando da cozinha está o jovem promissor Manel Lapuerta (antes à frente da Taverna del Suculent). Ou seja, não tem erro.
A carta tem tapas tradicionais e clássicos da cozinha mediterrânea com um twist. A famosa bomba (um potente bolinho recheado), por exemplo, é turbinada com cordeiro desfiado (ao invés de carne bovina) e servida com molho de mostarda (no lugar da clássica salsa brava).
A torradinha com steak tartar vem à mesa com uma fina camada de bottarga (ovas de peixe salgadas) defumada. Viro os olhos ao abocanhar o croquete de berinjela com queijo azul, crocante por fora e quase líquido por dentro, com gostinho suavemente defumado.
E vou ao delírio com a inusitada combinação de foie gras e vieira na chapa, “afogados” em um creminho de alcachofra (três coisas que adoro mas nunca imaginei ver no mesmo prato).
O gran finale vem na forma de um arroz “meloso” de camarão e costela de porco com verduras de temporada, um prato belíssimo e consistente que talvez seja a grande estrela da casa.
O preço é honestíssimo pelo que oferece em uma localização tão crítica. Calcule €25 por pessoa para uma refeição completa, sem a bebida. Querendo, também dá para sentar na terraza com vista de camarote para a Sagrada Família e pedir só umas tapinhas.
Outras boas novas…
La Barra de Carles Abellán
Carles Abellán foi criado na cozinha do mítico e finado El Bulli e chegou a ser condecorado com uma estrela Michelin à frente do Comerç 24 (fechado desde 2014).
Um dos chefs mais influentes de Barcelona atualmente, foi um dos pioneiros a embarcar na onda dos gastrobares com seu Tapas 24 e, hoje em dia, ataca em todas as frentes, de barraca de praia ao elegante Bravo 24 no hotel W, passando por food truck de pão com linguiça.
Uma das novidades mais esperadas do ano, La Barra de Carles Abellán é o único restaurante de sua coleção que ostenta o seu nome, pilotado pelo mesmo Arnau Munió que era seu braço direito no Comerç 24.
O foco aqui é o balcão (“la barra”), que aparece em dose dupla, um de frente para o outro. Peixes e outros seres do mar aparecem na décor (espetacular) e são as estrelas da carta, a fina flor da alta cocina marinera, com tapas criativas de abre alas.
Não à toa, fica na Barceloneta, que apesar do boom turístico ainda tem o seu lado de bairro de pescadores. Espera gastar uns € 60 por pessoa sem bebida.
Dos Pebrots
Assim como Abellán (e boa parte dos chefs influentes do planeta), Albert Raurich passou pelo El Bulli (onde foi chefe de cozinha por vários anos) e pilota o Dos Palillos, certamente um dos melhores restaurantes da cidade, com pegada oriental e premiado com uma estrela Michelin.
Nos bastidores, se comenta que há anos Ferran Adrià o incentivava a “voltar” à cozinha mediterrânea. Eis sua resposta: um restaurante de tapas essencialmente catalão com a pegada criativa que Raurich leva no sangue. Calcule uns €35 por cabeça sem bebida.
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