Todos os domingos, um trem deixa a paulistana Estação da Luz às 8h30, chegando uma hora e meia depois em Paranapiacaba, um longínquo distrito de Santo André, bem no alto da Serra do Mar.
Sucesso total de público, nos próximos passeios disponíveis à venda, só há um lugar disponível em cada dia de junho (4, 11 e 18). O trem retorna às 16h30.
Como quem vem de carro, permanece mais ou menos esse mesmo tempo no vilarejo, pensemos num programa de 6h30, tempo suficiente para uma boa esquadrinhada local.
Contextualizando, a vila ferroviária de Paranapiacaba surgiu por volta de 1860, quando os ingleses desembarcaram por essas bandas para operar a São Paulo Railway, ferrovia que liga o Porto de Santos a Jundiaí.
Coincidência ou não, os britânicos encontraram um território amistoso a eles, com frio, chuva e muita, mas muita neblina. Para reforçar ainda mais os traços com a Inglaterra, ergueram um relógio inspirado no Big Ben londrino.
Com o fim da operação desse trecho da ferrovia em 1982, Paranapiacaba deu uma guinada total para o turismo.
De carro ou de trem, as boas-vindas ao vilarejo são dadas pelo enorme relógio. Junto à estação ferroviária funciona o Museu Tecnológico Ferroviário, praticamente o ponto de partida de todo o visitante.
Também chamado de Museu Funicular, exibe locomotivas da São Paulo Railway e um monte de objetos da antiga estação, além da explicação do sistema funicular, em que os trens desciam e subiam a Serra do Mar presos por cabos.
Uma pena que o pequeno passeio de trem até o início da descida da serra esteja inoperante.
Devidamente apresentados, hora de atravessar a passarela e caminhar pelas ruas de paralelepípedos da vila. Casas de madeira vão surgindo seguidamente.
Uma delas, a Fox, transformou-se num pequeno acervo da memória da vila ferroviária. Já o Antigo Mercado virou um centro cultural.
Uma das construções mais imponentes, o Clube União Lyra Serrano, fundado em 1903, é o principal palco do disputado Festival de Inverno, que ocorre em julho.
Quem dá uma pescoçada para o alto deparará com uma bela casa. Infelizmente, encontra-se fechada, sem previsão de reabertura.
Mas externamente, a vista do Castelinho não decepciona. Era ali que morava o engenheiro-chefe da ferrovia. Sua residência em uma casa cheia de janelas na parta mais alta da vila possibilitava a ele total controle sobre os operários, uma espécie de precursor do Big Brother.
Se você quiser trocar as ruas de paralelepípedos e as casas de madeira, por uma trilha no meio do mato siga para o Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba. São quatro atrativos com algumas trilhas bem tranquilas de serem percorridas. Um monitor sempre acompanha os grupos, afinal, para se perder na Mata Atlântica é um pulo.
Caminhando no barro ou no paralelepípedo, o estômago já deve estar roncando. Sendo bem sincero, pela força turística da vila, falta um maior número de restaurantes.
Típica da região, a azedinha cambuci é uma fruta presente em algumas receitas, como a costelinha suína servida com sua geleia, o prato campeão de audiência do Estação Cavern Club Restaurante & Wine Bar.
Para finalizar o tour, do outro lado da passarela, em uma parte bem menos charmosa, há varias lojinhas de artesanato. Quem resiste a não levar uma miniatura do “Big Ben” para casa?