Após o sucesso da mostra na França, no Cité de la Musique – Philharmonie de Paris, Jamaica, Jamaica!, chega em São Paulo ainda mais completa. Com curadoria do jornalista e diretor cinematográfico, Sébastian Carayol, e produção e realização do Sesc São Paulo, a nova exposição inaugurada no dia 15 de março no Sesc 24 de maio apresenta um panorama social, político e, principalmente, musical da terceira maior ilha das Grandes Antilhas e destaca o impacto da música jamaicana em outros países, especialmente naqueles que foram marcados pela diáspora africana.
A mostra, que apesar de ter um espaço inteiramente dedicado ao grande ícone do reggae, Bob Marley, não fica limitado a ele. Por meio da exposição de discos, banners, folhetos, maquetes, fotos, instrumentos originais e áudios de importantes figuras políticas e estrelas musicais, Jamaica, Jamaica! interage diretamente com o público dando a ele uma visão mais ampla do país, diferente daquela criada pelo senso comum.
![Instrumentos musicais Jamaica Jamaica Instrumentos musicais Jamaica Jamaica](https://gutenberg.viagemeturismo.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/20180510_1349181.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Diante dos oito núcleos montados no ambiente, (divididos em 400 anos, independência Ska!, Ei, Mr Music, Som no “sistema”, Black-Man Time, Nós Somos de Trenchtown, Estilo Dancehall e Um olhar sobre a trajetória do reggae no Brasil), a exposição reconstrói a história da ilha dando destaque para os períodos que mais a impactaram politicamente e socialmente e discute sobre a importância da música em cada um destes momentos.
Música Jamaicana
A história musical da Jamaica vai muito além do reggae. Conhecida como o berço de vários gêneros musicais que hoje se tornaram populares ao redor do mundo, ela se inicia ainda no período de escravidão, em 1670, com o surgimento do mento nascido da mistura da música folclórica rural, dos cultos religiosos e das danças e cantos trazidos da África Ocidental.
No entanto, foi com o ska, gênero musical que surgiu após a independência da ilha, que o movimento musical ganhou mais importância no país. Encabeçado pelo grupo Skatalites, ele misturava elementos já difundidos localmente, como o calipso e o mento, com o R&B norte-americano, o jazz e o blues. Em 1950, a popularização dos sound system reuniu os jamaicanos que se divertiam nos bailes ao ar livre ao som de novos estilos que estavam pipocando dentro e fora do país.
![Bob Marley – Jamaica Jamaica Bob Marley - Jamaica Jamaica](https://gutenberg.viagemeturismo.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/20180510_1340451.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
O reggae surge após a disseminação de gêneros como o dub e rocksteady. Trazendo em suas letras os ideais do movimento rastafári, o amor e a luta contra os conflitos armados que atingiam Trenchtown, um dos guetos mais famosos do mundo, Bob Marley & The Wailers se firmaram como uma das bandas mais importantes da Jamaica. Após se separar do grupo, Marley atingiu sucesso internacional com músicas como No, Woman no cry e I Shot the Sherriff. Logo após sua morte, o ritmo que predominou foi o dancehall, feito para dançar nas ruas e nos bailes.
Influência da música jamaicana no Brasil
Um espaço dedicado a influência da música jamaicana no Brasil foi feito especialmente para a mostra. Na sala Mistério Sempre Há De Pintar Por Aí: Um olhar sobre a trajetória do reggae no Brasil, é possível entender mais sobre a inserção do reggae no país, que teve início nos anos 50, no Maranhão, com a introdução dos primeiros sistemas de som, chamados na época de radiolas. Na Bahia, a divulgação do estilo coincidiu com o início da cultura dos blocos afro que contribui para a criação do samba-reggae que depois passou a ser conhecido como axé music.
Em 2000, o dub e o dancehall fizeram parte da vida noturna de São Paulo e em seguida os sound system ganharam popularidade nas periferias da cidade. Na mostra, o que mais chama a atenção é a forma como o período foi relembrado: pela exposição de algumas fotos e pôsteres de eventos que aconteceram na cidade e por outros que acontecem atualmente no centro de São Paulo, como a festa FLASH Dancehall.
O oitavo espaço, dedicado ao Brasil, conta com instrumentos do Olodum e com a exibição do documentário “Kaya N’Jamaica: Gilberto Gil na terra de Bob Marley“, que mostra a imersão do cantor Gilberto Gil, um dos primeiros a trazer o reggae para o Brasil, no país de Bob Marley. Uma bela lembrança para os fãs de Gil.
Interatividade
![Jamaica Jamaica](https://gutenberg.viagemeturismo.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/fone-de-ouvido.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
A interatividade está presente em toda a exposição. Além das “caixas de som” com entrada para fones de ouvido (onde é possível ouvir as músicas e os discursos de políticos jamaicanos), o visitante pode ter uma ideia de como funcionam os equipamentos de sound system, os sistemas de sons portáteis que agitavam as ruas da Jamaica na década de 50.
![Jamaica Jamaica, SP Jamaica Jamaica, SP](https://gutenberg.viagemeturismo.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/dub.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Na sala Dub it Yourself, (uma das partes mais divertidas da exposição) um painel tátil fica exposto para as pessoas praticarem as técnicas dos selecta (os “djs” da época) como a separação de frequências, o uso de sirene e efeitos sonoros e a variação do volume.
O espaço contribui para destacar a importância do sound system, que influenciou a criação da cultura de bailes ao ar livre, o design de pôsteres e a criação do primeiro estúdio jamaicano, o Studio One, responsável por lançar artistas como Bob Marley e The Wailers, Burning Spear, Alton Ellis, Horace Andy e The Skalites.
Já a utilização de vídeos durante a exposição, principalmente aqueles com apresentações de artistas, ajudaram a criar um ambiente ainda mais musical.
![Jamaica Jamaica](https://gutenberg.viagemeturismo.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/poster.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Rádio Jamaica
Jamaica Broadcasting Corporation foi a primeira rádio a ser criada na Jamaica, em 1959, sendo portanto, a primeira rádio voltada exclusivamente para a música da ilha. Em homenagem a ela, o Sesc 24 de maio disponibilizou uma web rádio 24h feita unicamente para a exposição, que transmitirá músicas e playlists criada pelos curadores convidados. |
Até o dia 26 de agosto, o Sesc 24 de maio irá contar com uma programação especial sobre o país, com apresentação de filmes, aulas de produção de dreads, palestras com grandes figuras jamaicanas, oficinas demonstrativas de operação de sistemas de som e outras atividades que dialogarão diretamente com a mostra. Não perca!
Jamaica, Jamaica! fica em cartaz até o dia 26 de agosto de 2018, com visitação de terça a sábado, das 9h às 21h, e aos domingo e feriados, das 9h às 21h. O atendimento a grupos pode ser agendado através do email agendamento@sescsp.org.br. A entrada é gratuita.