Réveillon em Portugal: mais um ano sem celebrações
Recorde de casos desde o início da pandemia, isolamento antecipado, falta de testes: o feriado da marmota, mais uma vez
Debaixo das minhas cobertas, com leves trovoadas ao fundo, acompanho pela internet o noticiário de hoje: recorde diário de casos de covid desde o início da pandemia – os dados desta segunda-feira, dia 27 de dezembro, dão conta de que Portugal registrou exatos 17.172 casos. O noticiário segue: a ministra da saúde anuncia que serão mais que o dobro (37 mil) na primeira semana de janeiro. Mais? “Falta de resposta do SNS24 [o SUS de Portugal] e dos centros de saúde pressiona urgências dos hospitais”, noticia o Público, um dos principais jornais do país.
Eu, que há muito parei de seguir minuto a minuto as notícias da pandemia por pura exaustão mental, hoje não tive escapatória – e nem muito mais o que fazer, para dizer a verdade. Menos de 24h antes de embarcar para os ultra esperados dez dias de descanso em família na Provence, fomos à farmácia fazer o protocolar exame de antígeno com a promessa de voltarmos daí a duas horas para buscar os relatórios e acabar de arrumar as malas. Menos de 15 minutos depois, toca o celular com a notícia que jamais imaginávamos ouvir: minha enteada de 12 anos testou positivo.
Desde então passamos a sentir na pele (e não apenas nos apps de notícias na tela do celular) o que o noticiário replica: que a nova variante se espalha com muito mais velocidade, que o sistema de saúde está sobrecarregado e que – inacreditavelmente – não há como fazer testes facilmente em todo o país. Aos fatos: cada chamada ao Serviço Nacional de Saúde custou cerca de uma hora de espera a cada membro da família. A notificação com o pedido de teste, horas a fio. E a marcação dos testes… pelo menos três dias. Esta é a atual situação em Portugal: laboratórios completamente lotados para PCRs até os primeiros dias de 2022 e o pedido de realização massiva de testes por parte do governo. A equação não está fechando.
Antecipando que as festas de final de ano seriam um escorregão na pandemia, o governo anunciou, no final de novembro, uma estratégia para conter as transmissões nesta época: entre uma série de novas regras, foi anunciada uma “semana de contenção” depois do réveillon, sem aulas, sem bares e discotecas, com home office. Recentemente, os números levaram a uma antecipação na data de início desta fase para 25 de dezembro. Nos dias 30 e 31 de dezembro e 1 de janeiro, será ainda proibido reunir grupos com mais de 10 pessoas e consumir bebidas alcoólicas nas ruas; e os restaurantes exigirão testes negativos de todo mundo, inclusive dos vacinados.
Embora o número de casos agora seja bem alarmante, é preciso fazer uma ressalva: a vacina reduziu drasticamente a gravidade da doença. No dia em que registrou o maior número de casos desde março de 2020 (27/12/2021), o país contabilizou 19 mortes; no segundo dia com o maior número de casos (28/01/2021), o número de mortes foi 15 vezes maior: 303. Outro dado relevante noticiado hoje pelo Público: com o número infinitamente maior de testes atualmente, é preciso relativizar o número de casos – se naquele fatídico 28 de janeiro passado os resultados positivos representavam 23,5% dos testes, hoje eles representam 7,3%. O número de internamentos e de pacientes na UTI também é muito mais baixo.
O que no fundo quero dizer com este texto? Que a pandemia não acabou, que a ômicron está aí, que ela espalha muito rápido, que os sintomas tendem a ser mais leves (ou até mesmo inexistente em vacinados), que os testes positivos são cada vez frequentes, que não vai ter comemoração de ano novo por aqui e que a vacina funciona. A VACINA FUNCIONA! À espera ansiosamente de um PCR conseguido com unhas e dentes para o dia 31/12, com leves sintomas que lembram uma gripe e no dia 2 da minha quarentena de um total de 14, desejo um 2022 mais leve e com mais viagens (em segurança) a todos!
EM TEMPO: se um ano atrás as compras de supermercado online eram uma gincana que podia demorar semanas a chegar, agora elas chegam de um dia para o outro.