O pastel é frito na hora e servido quentinho (só quem vive em Portugal sabe a falta que isso faz, pois aqui a regra é servir todo e qualquer salgado frio, como se fosse a coisa mais normal do mundo). Como recheio, o clássico trio boêmio: queijo, camarão e carne.
A mandioca aterrisa macia por dentro, dourada e crocante por fora, também quente. Para acompanhar, caipirinha de verdade, feita com cachaça (que não é a 51!), limão e açúcar branco. Das caixas ecoa Jorge Bem, Elza Soares, Novos Baianos. Preciso dizer algo mais? Tá feita a festa!
O Boteco da Dri, à beira-Tejo no Cais do Sodré, abriu as portas no mês passado com a proposta de mostrar a Portugal que a gastronomia brasileira é mais do que rodízio, picanha e feijoada. E de apresentar a Lisboa a nossa gostosa cultura de bar, de informalidade, de comida para partilhar, de passar horas “enchendo a cara” e “jogando conversa fora”, como bem define o chef, o goiano Pedro Hazak.
A cozinha cumpre muito bem a sua parte. Ao lado da mandioca e do pastel, a lista de petiscos inclui um delicioso pão de queijo feito na casa, com queijo Minas, e caldinho de feijão. Sabe aquela cozinha confortável, de mãe, que a gente só encontra em boteco? Tem também.
A picanha e a feijoada estão lá no menu, como não poderia deixar de ser, mas brilham lado a lado com o picadinho, servido com arroz e farofa, e um surpreendente estrogonofe de filé com arroz e batata palha, que demora mais de três horas para que a carne possa ser apurada no capricho. Fica claro: de comfort food Pedro entende muito bem. E estende essa sabedoria até altas horas: a cozinha só fecha às 3h da manhã, o que faz do Boteco da Dri um boteco de verdade, aquele porto seguro no meio da madrugada. É muito amor.
Na minha modesta opinião, o único lapso do Boteco da Dri é conceitual. Ele se intitula um boteco carioca e gosta de fazer referência à mulher brasileira, à garota de Ipanema e todo aquele blá. Tudo bem que criamos um marketing vencedor por anos a fio, mas o Boteco da Dri é mais do que isso.
Reconheço ali mais traços da minha Minas Gerais e da minha querida São Paulo do que propriamente do (meu tão amado também) Rio, para dizer a verdade. Ok, ok, o Cristo Rei do outro lado do Tejo pode até lembrar o Cristo Redentor depois de umas e outras , mas as minhas referências ficam um pouco por aqui.
Para ir direto ao ponto, eu diria que o Boteco da Dri é um autêntico boteco brasileiro sem fronteiras – porque isso ele é de alma. Me lembrou demais o Filial e o Genésio, na paulistana Vila Madalena; ou o Tizé e tantos outros do bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Me fez sentir saudades do Brasil, cantarolar uns sambinhas de raiz, me teletransportar durante as horas que passei ali. Mesmo ao me deparar com poréns como uma maionese para acompanhar o pastel e outra para a mandioca. Provei as duas e achei deliciosas, mas… melhor não, né? Pastel é pastel, mandioca é mandioca, e para mim eles se bastam.
Talvez ainda demore para que o ambiente seja realmente de boteco. Tem um quê de seriedade, tem uma luz que não é nem de restaurante, nem de bar, tem aquele clima de que precisa de um clique para acontecer. Falta uma baguncinha. Que venha! Se depender da batida de coco, do sanduba de pernil e da deliciosa inspiração do Pedro, a diversão tá garantida!
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