Dez mil setecentos e noventa e cinco rolhas? Eis o equivalente do meu peso em cortiça. Nômade? A uva que mais se assemelha à minha personalidade. E teve mais: mergulhos em uma piscina recheada de milhares de bolinhas cor de rosa simulando as borbulhas de um rosé, parada para tirar foto dentro de um caminhão antigo usado nas colheitas, workshop de enologia, degustações e brindes. Curiosidades como estas emergiam de interações sensoriais e lúdicas num complexo de 55 mil metros quadrados dedicados ao mundo dos vinhos, num lugar que tem o DNA intimamente ligado à bebida.
Estamos em pleno centro histórico de Vila Nova de Gaia, a cidade que se escancara para o Porto debruçada sobre as águas do mesmo Rio Douro, mas na margem oposta, onde durante séculos imensos armazéns estocaram e envelheceram os vinhos fortificados que chegavam a bordo dos poéticos barcos rabelo vindos das encostas de xisto da região do Douro.
Se a Ponte D. Luís I sempre presenciou um frenético vai e vem de gente do mundo todo que segue à risca a lista dos passeios imperdíveis para se fazer no Porto – no caso, a visita com degustação às caves de vinho do Porto em Gaia –, agora há inúmeras razões a mais para fazê-lo. Sendo mais precisa: são sete museus, 12 restaurantes e bares, uma escola e um pátio com uma linda vista para a Invicta, alcunha que se atribuiu ao Porto depois que a cidade resistiu a algumas tentativas de dominação no passado. Tudo no mesmo lugar, resultado de um investimento de mais de €100 milhões (o equivalente a mais de R$ 500 milhões).
Inaugurado no auge da pandemia pelo Grupo Fladgate (dono de grandes marcas do vinho do Porto como Taylor’s, Croft, Fonseca e Krohn), o WOW – sigla para World of Wine – ocupa justamente um complexo de antigos armazéns de vinho do Porto e foi desenhado nos mínimos detalhes para proporcionar experiências imersivas interessantes para todas as idades. Elas podem ter mais ou menos ligação ao mundo do vinho, mas a bebida e a cultura da região do Porto e do Douro são sempre o fio condutor.
Um dos maiores e mais completos museus, o Wine Experience aborda desde a estrutura da uva até a sua personalidade, passando pelas tradições da produção do vinho no norte de Portugal e terminando com uma degustação. No The Chocolate Story, a estrela é uma fábrica de chocolate – de verdade! –, cuja produção pode ser observada do outro lado da parede de vidro, depois de uma verdadeira aula que começa com as características do cacau. Claro que a harmonização com vinhos tem o seu lugar.
Planeta cortiça
O The Bridge Collection narra a história da humanidade através dos copos; o Porto Region Across the Ages mergulha na história da cidade (e, claro, da sua relação com a bebida); e o Porto Fashion & Fabric Museum conta a história da moda local. Um dos mais interessantes, na minha modesta opinião, é o Planet Cork, uma viagem ao mundo da cortiça, sendo Portugal o maior produtor mundial. Além de calcular o peso do meu corpo em rolha, aprendi sobre o processamento completo do material num corredor cheio de efeitos onde pude sentir a umidade e o cheiro de fumaça da cozedura! No final, é possível imprimir o nome numa rolha e levar de lembrança.
É claro que, estando no século 21, algo pensado especificamente para o Instagram tem o seu lugar de honra. É aí que entra em cena o Pink Palace, que conta a história do vinho rosé pelo mundo e, além de ter paradas estratégicas em diferentes salas para voltar a encher o copo, prevê cenários altamente instagramáveis: da tal piscina de bolinhas pink a um cadillac rosa bebê com pano de fundo de palmeiras californianas. Na saída de cada museu, uma loja temática providencial alimenta o instinto consumista nosso de cada dia com uma ótima curadoria de artigos portugueses (jogos americanos de cortiça, louças variadas, copos, saca-rolhas…).
Quem quiser se aprofundar nas experiências deve rumar diretamente para a Escola do Vinho, onde acontecem workshops, degustações temáticas e cursos especiais com enólogos e produtores.
Quando bater a fome, é possível escolher entre as especialidades italianas do Pip, as carnes premium da 1828 Steakhouse, os peixes do Golden Catch e, entre outros, as tradicionais receitas portuguesas do T&C (que tal dentro de uma pipa de vinho gigante?). O grand finale, no meu caso, foi ainda uma massagem à base de óleos essenciais de uva e vinho num spa da marca francesa Caudalíe, numa sala apropriadamente chamada Tinta Roriz (nome de uma das castas portuguesas mais famosas). Mas isso é tema para o próximo post! Tim-tim!
Serviço
O Douro River Ferry faz a travessia da Ribeira à Foz de Gaia em três minutos. Os barcos saem de 15 em 15 minutos e, do Cais de Gaia, são só 250 metros até a entrada do WOW. Já as linhas 901 e 906 do autocarro deixam na parada Choupelo, que fica a 300 metros do complexo. De metrô, basta pegar a linha D (Amarela), descer na General Torres e então caminhar 800 metros. O acesso ao WOW é gratuito (áreas comuns, restaurantes e lojas), mas cada museu tem o seu valor, que pode ser adquirido separadamente ou em conjunto. Os bilhetes individuais para adultos custam entre € 20 e € 25 e há “combos” que incluem dois (€ 34), três (€ 45) e cinco (€ 65) museus. Também há pacotes especiais para famílias. Consulte os horários de funcionamento aqui.