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Rafael Tonon colaborou com Anthony Bourdain no site Explore Parts Unknown e coordena o Mestrado em Comunicação Gastronômica do Basque Culinary Center, no País Basco. Autor do livro 'As Revoluções da Comida', vive hoje entre Portugal e Abu Dhabi – e viaja o mundo para comer
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Café da manhã de hotel é assunto muito sério

Dedicação no preparo e horário estendido já são realidades – até porque café da manhã até às 10h é um crime de lesa-hotelaria

Por Rafael Tonon
Atualizado em 9 fev 2023, 19h55 - Publicado em 8 fev 2023, 10h15

Somos todos obcecados por café da manhã de hotel: aquela infinidade de possibilidades nas primeiras horas da manhã é quase sempre uma prova de que a vida pode ser muito mais generosa logo cedo. 

Pois depois do ovo, há o bacon. O pão de fermentação natural precede um pouco de frutas (com aveia, mel e chia, claro) e uma fatia de bolo fresquinha, acompanhada de suco verde, uma xícara de capuccino, quem sabe uma tacinha de espumante. A mesa posta com fartura é, em grande parte, uma das razões pelas quais escolhemos um lugar para ficar fora de casa. 

E o café da manhã tem mesmo se tornado tão sério no mundo da hospitalidade que há hotéis investindo pesado para conquistar os hóspedes pelo estômago — ainda em jejum. A questão nem é só a oferta, que historicamente sempre foi bastante vasta em muitos deles, mas o foco na escolha dos produtos e na forma de servi-los.

Desde que abriu as portas em Lisboa no final de 2021, o Hotel das Amoreiras busca oferecer um café da manhã com jeito de casa. De frente ao jardim do qual empresta o nome, o pequeno hotel de luxo concebido por Pedro Oliveira, empresário que trocou uma carreira em bancos para se dedicar à hotelaria, escolheu o café como a única refeição do dia — os hóspedes podem, depois, escolher muitos petiscos e entradas de um menu fixo feito pela cozinha. Por isso, ele vai até meio dia: uma verdadeira alegria para quem está de férias. E digo mais: essa coisa de café da manhã até às 10h é uma afronta.

O menu com ingredientes 100% portugueses conta com ovos biológicos, pão de fermentação natural feito com cereais locais e embutidos de pequenos produtores, como o presunto do Zambujal e o queijo do Azeitão. É para ser pedido à carta (tudo é feito na hora) e inclui frutas, iogurtes e até um bolo de banana da Madeira — um dos que ficam sobre a bancada para ser cortado durante todo o dia, acompanhado com uma xícara de chá ou café.

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Sobre os cafés, aliás, alguns hotéis estão dizendo adeus às cápsulas e às máquinas automáticas e investindo em baristas para servir os hóspedes cada vez mais exigentes. No Only YOU em Valência, na Espanha, foi criada uma estação com grãos especiais de distintos países produtores do mundo — inclusive o Brasil, claro — que servem para os métodos filtrados (como V60), mas também como base para as bebidas preparadas com leite, de macchiato a cappuccino. 

O hóspede escolhe entre Guatemala, Etiópia, Costa Rica e outras origens e, enquanto o barista faz o café na sua frente, esquece de uma vez por todas aquele café passado que fica horas esfriando na garrafa térmica ou que sai “com sabor de firma” das máquinas industriais. A iniciativa tem funcionado tão bem que a rede planeja ter baristas em todas as suas unidades. 

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Outra novidade do OnlyYou foi criar uma seção de comidas locais valencianas (como a abóbora assada, e a coca de Luanda, um bolinho esponjoso) para dar a conhecer os sabores da cidade aos hóspedes, coisas que muitos hotéis também passaram a adotar, como se fosse uma prateleira de produtos nativos já comuns nos supermercados.

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Outra novidade dos cafés da manhã é a própria arquitetura do espaço: o Downtown Camper em Estocolmo, na Suécia, criou diversos ambientes para seus hóspedes (e visitantes, já que o hotel também atende os passantes) tomarem café. Há mesas comuns até outras coletivas com tomadas para quem deseja comer alguma coisa enquanto trabalha. Também há sofás mais convidativos e até uma rede suspensa com almofadas para aqueles cuja cafeína ainda pode não ter feito tanto efeito. 

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