Restaurantes com espetáculos têm tudo para correr mal. O serviço fica condicionado pelas performances, a comida nem sempre corresponde ao nível dos shows (ou vice versa!) e geralmente sai-se com a impressão de que a experiência não valeu nem a refeição nem a apresentação.
Mas há quem saiba conjugar bem as duas coisas e buscar um altíssimo nível de qualidade tanto na mesa quanto no palco. O Corral de la Morería é um desses lugares: um dos restaurantes mais especiais entre toda a oferta de uma capital (cada vez mais) gastronômica como Madri. O The New York Times incluiu a casa, inaugurada em 1956 e especializada em flamenco, como um “1000 lugares para ver antes de morrer” em um compilado especial.
Tudo funciona muito bem: a comida é sofisticada e ao mesmo tempo acolhedora, com um acento basco que entrega a origem do chef, David García. Nascido em Bilbao, ele passou por cozinhas consagradas na Espanha, de cozinheiros renomados como Martin Berasategui e Ferran Adrià, no influente El Bulli.
Todos os pratos têm muito sabor e os ingredientes são de excelente procedência — uma obsessão de um chef detalhista —, como as quisquilhas (crustáceo) de Motril, a lagosta, o peito de pato e os vegetais que chegam de plantações nos arredores da capital espanhola. Unindo a cozinha tradicional e de vanguarda, García conquistou sua própria estrela Michelin, algo inusual para um espaço que atrai mais pelo line up de apresentações do que pelo menu degustação.
Nesse quesito, a escolha de artistas é primorosa: os mais famosos bailaores (dançarinos) de flamenco da Espanha, além dos cantores e músicos mais premiados (entre percussão e guitarra) se apresentam ali no tablado intimista por onde passaram estrelas dessa manifestação cultural, considerada pela Unesco um Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Foi ali que Paco de Lucia apresentou Entre Dos Aguas, onde Camarón estreou no palco aos 13 anos, e por onde passaram, entre muitas outras, dançarinas consagradas como Isabel Pantoja ou Blanca del Rey, que hoje atua como diretora artística do espaço (e aparece no vídeo abaixo).
Esposa do fundador, Manuel Del Rey, é ela quem administra hoje o Corral, ao lado dos filhos, Armando e Juanma, a segunda geração à frente do restaurante. É uma família que se dedica ao setor desde muitos anos, e que deixa claro que segue este caminho muito mais por vocação do que apenas como profissão. Das mesas ao serviço, da construção do tablado às obras de arte nas paredes, todo detalhe exalta a paixão dos Del Rey pelo que fazem.
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E pelos talentos que atraem. A maior surpresa é o sommelier Santi Carrillo, um dos maiores especialistas do mundo em Jerez, vinho transformado em culto que também representa a riqueza da cultura andaluza. Nascido na província de Córdoba, ele foi seduzido pela oferta de mais de 1.200 rótulos diferentes de Jerez que o Corral de la Morería tem em sua adega. Incluindo raridades que nem sempre chegam ao mercado, como o La Inglesa Bota 0, da barrica fundadora desta adega de Montilla, com 150 anos: são quatro gotas servidas em um conta-gota, tão única é a experiência.
Entre olorosos centenários, palo cortados com número de série e outras joias, ele fica a cargo da harmonização dos pratos. Mas é também prova que tudo ali segue uma sintonia fina, em um espaço único e muito especial.
Serviço
Corral de La Morería
Calle de la Morería, 17 – Madri
@corralmoreria
www.corraldelamoreria.com
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