Confesso: tenho um lado consumista. E às vezes fica difícil controlar essa besta-fera quando você mora em Nova York, com tantas lojas incríveis e sales tentadoras.
Melhor é quando você encontra a desculpa perfeita para umas comprinhas: um lindo passeio de barco que não deixa muito a desejar aos turísticos como o Circle Line. Ah, e se eu te contar que esse rolê que estou sugerindo é totalmente grátis? GRÁ-TIS (eita palavrinha que a gente ama, especialmente em era de dólar nas alturas). Se você se animou, embarca aqui comigo que vou te contar tudo.
A Ikea é uma famosa rede sueca de móveis e objetos de decoração, um destino certo para quem precisa montar uma casa descolada e no precinho. As peças têm o celebrado design escandinavo, com linhas modernas, assinadas por grandes nomes e preços made in China. É o paraíso para quem sonha em ter uma casa daquelas de revista, mas não pode – ou não quer – gastar muito.
Existem duas lojas em Nova York, uma no Queens e a do Brooklyn, que é a unidade que nos presenteia com o tal do passeio de barco, feito pela empresa NY Waterway. O percurso só acontece aos fins de semana, com serviço de ferry gratuito de ida e volta.
O barco sai do Pier 79 (em Midtown) e do Pier 11 (em Wall Street), mas para ver o circuito mais completo recomendo embarcar em Midtown, no West Side, na altura da 38th street, perto do complexo Hudson Yards (uma boa sugestão de passeio combinado).
No caminho pela água até Red Hook, região do Brooklyn onde fica a Ikea, você vai ver pontos turísticos e cenas, aqui vale sim o clichê, de tirar o fôlego. Se puder, vá em um dia com tempo bom e, para ter a melhor vista, fique na parte superior da embarcação, que é aberta. No sentido Manhattan-Brooklyn, prepare a câmera para ver os seguintes cartões-postais:
- Pier 76 – O píer de mais de 2 mil metros quadrados foi inaugurado em junho de 2021 na orla do Hudson. O projeto envolveu a remoção de um antigo prédio e uma reforma que converteu o cais em um espaço público em apenas 81 dias. Sua grande área agora sedia eventos como aulas de dança e feiras. Foram colocados bancos para as pessoas apreciarem a vista e várias placas que contam a história da área. Há também uma hélice do navio S.S. United States, famoso por ter sido a mais rápida embarcação de passageiros a cruzar o Atlântico. Você pode aproveitar e visitar o píer antes ou depois do ferry, que fica pertinho.
- Hudson Yards – Inaugurado em 2019, o mega-empreendimento imobiliário causou frisson como o mais caro da história de Nova York desde o Rockefeller Center, com investimento de 6 bilhões de dólares. Localizado no Chelsea, colado no High Line Park e construído sobre um pátio de trens, o empreendimento é composto por um shopping, jardins públicos, escola, torres residenciais, um centro de artes (The Shed) e o badalado Vessel, a atração em formato de colmeia gigante que é o grande símbolo do lugar e que em poucos meses se transformou na atração mais fotografada da cidade. Quando estiver no barco, fique ligado no momento em que o Empire State Building fica alinhado com o The Vessel por alguns segundos.
- Frying Pan – O barco histórico, construído em 1929, ficou submerso por 3 anos. Retirado das águas e restaurado, foi então atracado na margem do Hudson River Park e ganhou uma vida nova, agora como um bar super animado para os dias quentes de verão.
- Chelsea Piers – Enorme complexo esportivo que oferece atividades em mais de 25 modalidades diferentes. Tem academia, golfe, boliche, pista de patinação, escalada e o que mais seu lado fit puder imaginar.
- Pier 57 – Um novo rooftop park inaugurado em abril de 2022, com mais de 7 mil metros quadrados e que fica na cobertura de um píer histórico no Hudson River Park. O lugar foi restaurado e agora também abriga restaurantes. Lá em cima, visitantes encontram gramados, áreas livres com sombra e podem desfrutar da vista dos espigões, do rio Hudson e do Little Island Park, que vai surgir logo na sequência (lembrando, você está vendo tudo isso que estou narrando a partir do ferry).
- Little Island Park – Um parque público super diferente que fica suspenso sobre o rio Hudson. Inaugurado em 2021 no Pier 54 (que foi destruído pelo furacão Sandy em 2012), levou 5 anos para ficar pronto e foi financiado pela The Diller – von Furstenberg Family Foundation, da estilista Diane Von Furstenberg. No topo das estacas, 132 “tulipas” de concreto compõem a estrutura do parque. Cada tulipa tem tamanho e formato únicos capaz de suportar um certo peso para segurar o solo, gramados, mirantes e árvores. Lá os visitantes vão encontrar áreas verdes, um anfiteatro, uma praça para piqueniques e vistas deslumbrantes.
- IAC Building e Jean Nouvel’s Building – Dois edifícios vizinhos super relevantes na cidade e explico o porquê. O IAC Building, uma construção branca que se destaca no skyline, foi projetada pelo famoso arquiteto Frank Gehry (o mesmo do Museu Guggenheim, de Bilbao) e concluído em 2007. As formas curvilíneas evocam as pregas de uma saia e se contrapõem às linhas retas e duras das torres corporativas de Manhattan. O prédio ao lado, que parece ser feito com peças de Lego de vidro, é o 100 Eleventh Avenue. Construído em 2010, ele é uma torre residencial de 23 andares e é descrito como “a vision machine” pelo seu criador, o arquiteto Jean Nouvel (que projetou o novo hotel Rosewood, em São Paulo). Impressionantes! Ah, você também consegue ver os dois edifícios ao caminhar pelo High Line Park.
- Whitney Museum – Não é apenas a beleza de sua coleção com mais de 21 mil obras de arte que impressiona. O lado de fora também é de cair o queixo. Projetado pelo arquiteto Renzo Piano, o edifício do Whitney, no Meatpacking District, assume uma forma escultural e surpreendentemente assimétrica – em contraste com o estilo industrial dos edifícios vizinhos e da ferrovia onde hoje é o High Line Park. De suas varandas e cobertura pode-se observar vistas espetaculares do skyline. No acervo, pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, fotografias, cinema, vídeos e instalações que ajudam na compreensão da história da arte desde 1900 até hoje.
- Empire State Building – O edifício queridinho do King Kong dispensa apresentações, mas vale contar umas coisinhas. Inaugurado em 1931, muita gente se pergunta se alguém mora lá e a resposta é não – ele é um arranha-céu comercial com 102 andares e milhares de escritórios. Durante muitas décadas foi o observatório mais visitado, mas com a inauguração de concorrentes de peso nos últimos tempos (Top of the Rock, Edge, One World Observatory e Summit One Vanderbilt) deixou de ser unanimidade no quesito mirante, mas suas linhas Art Deco continuam reinando absolutas na paisagem, despertando sempre um suspiro e a sensação de que estamos em um filme.
- One World Trade Center – O atentado de 11 de setembro de 2001 derrubou as Torres Gêmeas e no lugar subiu um único prédio, por ora o edifício mais alto do ocidente. Nos andares 100 e 102 fica o One World Observatory e, do alto de seus 541 metros, os visitantes podem ter uma incrível vista de 360º. Uma curiosidade: o arranha-céu, incluindo a torre, está a uma altura de 1.776 pés (cerca de 540 metros), referência ao ano em que a Declaração de Independência dos Estados Unidos foi assinada.
- Brookfield Place – Esse complexo com prédios de escritórios e shopping center fica no Battery Park City e, do ferry, você vai perceber que ele fica bem perto do One World Trade Center (na verdade do outro lado da rua). Dentro, lojas requintadas, praça de alimentação e o mercado gastronômico francês Le District, lugares sobre os quais falei no post sobre os melhores food halls de Manhattan (não leu? Clique aqui agora). O prédio de linhas arredondadas, que foi seriamente danificado no atentado ao World Trade Center, abriga um jardim de inverno com palmeiras que foram plantadas um ano após os ataques. Com certeza é uma atração que não vai passar despercebida nesse passeio sobre as águas.
- Pier A Harbor House – Esse lindo edifício branco, no Battery Park, faz parte da história de Nova York com seu passado glorioso como cais municipal. Nos anos recentes, abrigou bares e restaurantes, mas foi fechado definitivamente na pandemia. Por ser o último píer histórico da cidade, há planos para o futuro, mas nada ainda foi divulgado. Aguardemos.
- Battery Maritime Building – Você vai se sentir viajando no tempo com a visão desse belíssimo terminal histórico de balsas, de 1909, que fica na ponta sul de Manhattan e já foi a joia da coroa da orla da cidade. Depois de algumas reformas e adaptações, foi transformado em clube privado de eventos e hotel, o Casa Cipriani. De lá também saem os ferries com destino a Governor’s Island, que você verá logo em seguida.
- Governor’s Island – Essa ilha no East River (sobre a qual eu prometo escrever um dia) é acessível apenas por ferry, que leva 10 minutos a partir do terminal. Aberta o ano todo, o lugar é programa para um dia inteiro. Você pode alugar bicicleta, fazer piquenique, aproveitar os playgrounds e até mesmo um spa inaugurado há pouco.
- Estátua da Liberdade – Se tem uma coisa que todo mundo quer ver em é ela, a Lady Liberty. Seja de longe ou de perto. Nesse caso, vai ser de bem longe. Prepare o zoom.
No caminho até a Ikea você ainda vai avistar a Brooklyn Bridge de longe, mas não vai passar embaixo dela. Não se pode ter tudo na vida, né?
Ao chegar em Red Hook é preciso descer do ferry. Não se faça de rogado e dê moral para quem lhe proporcionou esse passeio. Entre na Ikea nem que seja só para dar uma olhadinha e, mesmo que você não seja consumista como essa que vos escreve, duvido que você saia de lá de mãos vazias. É obvio que não vai caber um móvel na sua mala, mas você pode encontrar objetos de decoração e outros itens que vão dar um toque diferente para a sua casa – e de quebra trazer ótimas memórias de um passeio lindo. Aproveite e faça uma boquinha no restaurante, que serve comida barata e boa, com destaque para a estrela do menu: almôndegas suecas.
A volta no ferry segue o mesmo trajeto, dando mais uma chance para boas fotos. Lembrando que o serviço de ferry gratuito da Ikea só está disponível aos fins de semana e você pode acessar a tabela com os horários aqui.
O ferry da Ikea é a prova de que existe, sim, Nova York para todos os bolsos. Nesse caso, até para bolsos furados. Agora assista o vídeo que eu fiz do passeio:
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