A capital do sexo, das drogas e do bike’n’roll vive um momento especial. Em 2013, Amsterdã comemora quatro séculos da urbanização de seus canais e 125 anos da criação da orquestra Royal Concertgebouw, já eleita a melhor do mundo. No embalo, dois extraordinários museus reabrem até o começo de maio: o Rijksmuseum, há dez anos em obras, e o Van Gogh, que celebra seu 40º aniversário após um semestre fechado. Fato inesperado, a renúncia da monarca Beatrix, em janeiro, transformou o próximo Dia da Rainha (o maior feriado holandês, em 30 de abril) na data de coroação do novo rei, o príncipe Willem-Alexander. Imagine a festa… Embelezando as efemérides, milhões de tulipas colorem a “primavera mais bonita do mundo” no Parque Keukenhof, a 40 minutos da cidade, até 20 de maio. “Tudo está acontecendo agora”, diz Marcel Wanders, um dos expoentes do design holandês, que assina o interior do Hotel Andaz – somente um entre a dúzia de hotéis-design que surgiu à espera de 7 milhões de turistas. E, ainda que novas diretrizes políticas restrinjam um pouco sua liberdade, Amsterdã insiste em celebrar seus velhos hábitos sem perder o tram da modernidade.
A Ronda Noturna, de Rembrandt – Foto: Diomedia
Autorretrato
Imagine Nova York sem o MoMa e o Metropolitan. Pois foi essa a sensação de quem visitou Amsterdã nos últimos anos, quando os três museus do complexo Museumplein ficaram parcialmente fechados. Reinaugurado em setembro, o Stedelijk (stedelijk.nl) recebeu uma distinta fachada de fibra sintética que lembra uma enorme banheira, bem apropriada para abrigar os 90 mil trabalhos de Warhol, Chagall, Kandinsky e Mondrian. No dia 13 de abril será a vez do Rijksmuseum (rijksmuseum.nl) de mostrar sua nova cara uma década e € 375 milhões depois. Lar de Mulher de Azul Lendo Uma Carta, obra-prima de Vermeer, de A Ronda Noturna e outros 39 Rembrandt, o Rijks é dono do maior acervo de arte da Holanda. Repaginado, o velho edifício ganhou um pavilhão inteiro dedicado à Ásia e 80 galerias redesenhadas, que agora expõem 8 mil obras em ordem cronológica. Curiosamente, o endereço que ficou apenas sete meses fechado foi o que fez mais falta: campeão de público, o Museu Van Gogh (vangoghmuseum.nl) passou por uma reforma técnica à altura da maior coleção mundial de quadros do holandês, com 200 pinturas e 500 gravuras. Menos popular, o centro cultural Felix Meritis (felix.meritis.nl) celebra 225 anos abrindo seu observatório a partir de 19 de abril. Em seus telescópios, os visitantes podem focalizar obras de arte escondidas temporariamente na paisagem urbana. Dedicado à matéria-prima do “abstracionismo holandês”, o Hash (hashmuseum.com) atualizou seu acervo e reabre no dia 26 com 3 mil itens associados à cultura da maconha.
Museu Van Gogh – Foto: Divulgação
Dutch Design
Em uma cidade com tanto apelo mochileiro, são comuns os albergues meia-boca. Aos poucos, porém, Amsterdã vem mudando essa premissa. Em julho passado, a cadeia alemã Meininger inaugurou o City West (meininger-hotels.com; desde € 23), com dormitórios e quartos single, carpetes coloridos e LCDs. Na mesma época nascia o futurista City Hub (cityhubamsterdam.com; desde € 49), montado com cápsulas japonesas – o essencial em 6 metros quadrados: cama, luz e wi-fi. Entre as novidades upscale, em outubro a rede Hyatt abriu o Andaz (andaz.hyatt.com; desde € 276), hotel-butique na antiga sede da Biblioteca Pública. Também de 2012, o Conservatorium (conservatoriumhotel.com; desde € 250) ocupa um prédio neogótico de 1901 e entrega o jornal do dia no conforto de uma king-size. Por fim, há três meses dois novos hotéis deram o que falar: o Fletcher (fletcherhotelamsterdam.com; desde € 119), cujos chuveiros ficam dentro de cápsulas de vidro, e o Sir Albert (siralberthotel.com, desde € 229), que mima os clientes com chá verde da China e amenities Molton Brown.
Hotel Conservatorium – Foto: Divulgação
Acima do nível
Para entender a teia de 165 canais, que completa 400 anos em 2013, voltemos no tempo. O nome oficial do país, Nederland (“Países Baixos”), deriva de sua localização alguns metros abaixo do nível do mar. Erguido para conter as constantes enchentes, o aterramento entre canais criou espaço para novas moradias e originou uma rede fluvial de mais de 100 quilômetros que abriga 2 700 casas flutuantes. Em seu leito há passeios de barco dia e noite, do requintado Unique Dinner (amsterdamcitycruises.rezgo.com; desde € 75), com jantar a bordo, aos passeios self-service, em que você aluga uma embarcação (desde € 50 por duas horas), compra sua Appeltaart e explora a cidade por conta. Em março, o Museu de Amsterdã (amsterdammuseum.nl) lançou o tour guiado Canals Stories, que margeia construções dos quatro séculos. Os canais também compõem o percurso da Maratona de Amsterdã (amsterdammarathon.nl), em outubro, e são o mais belo cenário dos 400 quilômetros de ciclovias da cidade. As principais locadoras, como a Mac Bike (macbike.nl), estão próximas da Estação Central.
Vista do observatório Felix Meritis – Foto: Divulgação
Cof, Cof Shops
“Turistas pensam que Amsterdã é a cidade do pecado. Mas ela é a da liberdade. Uma vez em liberdade, muitos encontram o pecado”, diz o autor americano John Green em seu best-seller A Culpa É das Estrelas. Mas essa liberdade vem sendo questionada pelas autoridades. A lei nacional de 1o de janeiro de 2013 proíbe os não residentes de comprar maconha, haxixe e congêneres, legalizados desde 1976. O decreto, porém, não vingou na capital. A própria prefeitura usou de sua autonomia para defender o ganha-pão de 220 coffee shops, responsáveis por atrair cerca de 1,5 milhão de visitantes. Entre os cafés mais famosos, o Green House (greenhouseseeds.nl) é o atual campeão da Cannabis Cup, e o Bulldog (thebulldog.com) ditou a moda hemp na cidade. A New Europe (newamsterdamtours.com; € 9) leva para todos eles e explica o que não se aprende na escola sobre hemp.
As cores da luberdade no coffee shop Bulldog – Foto: Alamy
Geladas e quentes
E quem não fuma? Bebe. Os melhores pubs de cerveja estão na vizinha Bélgica, mas Amsterdã promove visitas à matriz da Heineken (heinekenexperience.com), hit entre os brasileiros, produz geladas orgânicas na Brouwerij’t IJ (brouwerijhetij.nl) e serve todas as holandesas no Arendsnest (arendsnest.nl). A maioria dos bares e coffee shops fica no Red Light District, o famoso bairro das messalinas nas vitrines. Legalizado em 2006, o meretrício segue aos trancos e barrancos – entre 2007 e 2009, a prefeitura fechou um terço das janelas. Decadente para uns, fervilhante para outros, a região conserva o mix de turistas, moradores e profissionais do sexo. Nada mais dutch.
Pub Arendsnest, onde as loiras vêm na caneca – Foto: Divulgação
Larica Fina
Uma cidade especialista em museus, bicicletas e Cannabis não pode ser referência em tudo. “Os garçons até riem quando você pede um prato típico”, diz Daniel Duclos, do blog Ducs Amsterdã. Mas, se queijo gouda, batata frita e sopa de ervilhas não saciam o seu paladar, você pode se dar bem nos restaurantes internacionais. Próximo da Estação Central, o &samhoud places (samhoundplaces.com) conquistou duas estrelas no Guia Michelin 2013 em poucos meses de vida graças às receitas cheias de emulsificações do chef holandês Moshik Roth. Outra novidade, a moderna cocina italiana do Bussia (bussia.nl) tem menu de almoço e serve jantar com uma seleção de massas caseiras. Mais ousado, o vegetariano De Culinaire Wekrplaats (deculinairewerkplaats.nl) esbanja design na apresentação dos pratos, levando um pouco de arte também à culinária de Amsterdã.
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