O navio Evergreen, operado pela companhia taiwanesa Evergreen Marine, desencalhou depois de ter obstruído por seis dias a passagem do Canal de Suez, no Egito. Na manhã desta segunda-feira (29), a embarcação de 400 metros de comprimento e 220 mil toneladas foi rebocada até uma área de espera onde passará por inspeção técnica. Com isso, o canal voltou a ficar navegável.
O Evergreen encalhou no Canal de Suez na terça-feira (23) em razão de uma falha técnica. O bloqueio formou uma fila de mais de 300 navios atrás dele que não puderam seguir viagem. Estima-se que o prejuízo econômico tenha sido da ordem dos R0 bilhões. A rota marítima criada pelo Canal de Suez é uma das mais importantes do mundo e por onde trafega 12% do comércio mundial.
Turismo no Canal de Suez
Além da importância econômica, canais como o de Suez também são atrações turísticas pela imponência de sua engenharia que eleva e rebaixa navios gigantes com facilidade. Tudo funciona como um elevador de rios e mares, que através de eclusas que funcionam como comportas nivelam a água para cima ou para baixo, oferecendo um caminho para as embarcações seguirem adiante.
A história do Canal de Suez começa ainda no tempo dos faraós que ordenavam escavações no deserto para a criação de vias marítimas que facilitassem as viagens entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho. Foi somente em 1869 que os egípcios, com a ajuda tecnológica dos franceses, rasgaram o deserto em uma obra faraônica e abriram uma ligação direta entre os dois mares, criando assim a conexão mais rápida entre Oriente e Ocidente. O atalho reduziu a viagem entre os continentes em mais de 7 mil quilômetros.
O nome é uma homenagem à Companhia Suez de Ferdinand de Lesseps, diplomata e empresário francês responsável pela construção. O canal possui 193 quilômetros de comprimento, 24 metros de profundidade e 205 metros de largura. Um navio leva de 12 a 15 horas, sem interrupções, para cruzar toda a sua extensão. A navegação só é permitida em comboios de no máximo 15 embarcações.
O Canal de Suez está na rota de vários navios de cruzeiro. É uma navegação direta e reta, sem paradas, que agrada principalmente os entusiastas de grandes obras da engenharia. Há quem diga que os navios vistos à distância causam a ilusão ótica de estarem flutuando sobre a areia. Outro ponto de destaque da travessia é a passagem por debaixo da Ponte da Amizade Egípcio-Japonesa, via rodoviária que cruza o canal e interliga África e Oriente Médio.
Os cruzeiros que passam pelo Suez podem partir de locais como Barcelona e Lisboa e ter como destino Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. No Egito, a porta de entrada ou saída é a cidade de Porto Saíde, a 200 quilômetros ao norte do Cairo, mas turistas podem zarpar em embarcações que saem do porto da capital. Existem outras opções para encontrar as águas do canal, uma delas é a cidade de Ismaília, que fica a uma hora de carro do Cairo. Conhecida como jardim do Egito, a cidade fica às margens do canal e foi onde Ferdinand de Lesseps residiu até a conclusão da obra.
Um turista português fez um relato no site TripAdvisor de uma viagem a bordo do navio MSC Fantasia. “A travessia demora cerca de 12 horas a uma velocidade muito baixa. É interessante a sistematização em como é feita a passagem com comboios de cerca de 15 navios (enormes cargueiros e petroleiros) nos dois sentidos, com rebocadores por perto que só se cruzam na zona dos chamados grandes lagos. A distância entre cada barco é de cerca de 1,5 milha náutica. Não passam barcos isolados. Com cerca de 200 metros de largura, a paisagem é inóspita e quase sempre desértica. Há partes arborizadas e aqui e ali, alguns aglomerados populacionais e pequenos barquinhos artesanais de pesca. Experiência única.”
Outros canais marítimos
Canal do Panamá: aberto em 1914, o canal permite que navios de vários tipos e tamanhos se movam entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Possui 82 quilômetros de comprimento, 152 metros de largura e 26 metros de profundidade, sendo necessárias de 6 a 8 horas para uma embarcação cruzar toda a sua extensão. Estima-se que por ano em torno de 15 mil navios cruzem o canal do Panamá, que interliga cerca de 80 países e ajuda a movimentar, aproximadamente, US$270 bilhões em cargas por ano, o que corresponde a cerca de 4% do comércio mundial.
Além de toda a sua importância comercial, o Canal do Panamá se tornou um ponto turístico, não por ser um local de beleza natural, mas sim pela engenharia moderna das suas três eclusas que são abertas ao público. A mais conhecida é a de Miraflores, sendo que um tour completo pela eclusa (que compreende a visita ao deck de observação do canal + filme explicando a história do local + visita do museu da eclusa) custa US para adultos e US para crianças.
Canal da Mancha: localizado entre a França e a Grã-Bretanha, o Canal da Mancha não é uma obra do homem, mas tem uma grande importância para o turismo na Europa. A passagem já foi alvo de invasores ao longo dos anos em virtude de sua posição privilegiada. Hoje é um dos locais de maior circulação de embarcações do mundo, conectando o Mar do Norte com o Oceano Atlântico. São 560 quilômetros de extensão e largura que varia de 180 quilômetros na parte oeste e 34 quilômetros na parte leste.
A travessia a nado do Canal da Mancha se tornou uma aventura esportiva, sendo feita no trecho em que a Grã Bretanha se encontra mais perto do continente europeu, o estreito de Dover. A maioria, no entanto, prefere o jeito mais cômodo que é pelo Eurotunel, túnel ferroviário com 50 quilômetros de extensão construído sob o estreito de Dover, ligando a Inglaterra a Calais, no norte da França. Uma passagem no trem Eurostar custa de € 80 a € 150.