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Como são as Maldivas, o paradisíaco e luxuoso arquipélago

Ilhotas-resort num mar espetacular, mergulhos com arraias, cabanas para jantares íntimos. Éden dos casais, Maldivas são para poucos (mas muito) felizardos

Por Laura Capanema
Atualizado em 12 ago 2019, 18h50 - Publicado em 3 fev 2016, 14h33

Maldivas: 98% mar, 2% terra, 100 ilhas-resort, 1 000 ilhotas desertas

A República das Maldivas, a sudoeste da Índia, é uma nação azul: 98% do seu território está coberto pelo mar. Os outros 2% correspondem a cerca de 1 200 pedaços de terra espalhados pelo Índico (em divelhi, o complexo idioma local, Maldivas é Maldwipa, o que significa “mil ilhas”), onde apenas 200 são habitados. Desses, mais de 100 são ilhas-resort.

Algumas, como Orivaru, de 14 hectares, estão à venda, e quem desembolsar US$ 14 milhões ainda terá o direito de construir mais um… resort. Juntas, todas as ilhotas formam um complexo lisérgico de 26 atóis – ilhas oceânicas formadas por recifes de coral que revelam uma lagoa azul no interior.

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Cabana para jantares íntimos do Velaa Private Island, um dos hotéis mais luxuosos da Ásia, nas Maldivas (Foto: Toby C./Flickr RF/Getty Images)

Na chegada, a capital Malé é a única cidade urbana e “comum” das Maldivas

Se cada atol fosse um estado nacional, o Distrito Federal maldivo seria o de Kaafu, que abriga a capital Malé, único lugar do país a exibir a silhueta de uma cidade de verdade, com edifícios compridos, casinhas em tons vibrantes, mesquitas, mercados de rua lotados, casas de chá e caixas eletrônicos. E onde aterrissam todos os voos internacionais.

Apesar de não ter nenhum atrativo essencialmente “turístico”, a cidade de 80 mil habitantes é o lugar que permite contato com a população local – onde se entende que as Maldivas não são só praia e sombra fresca.

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Mas, ao descer no Aeroporto Internacional Ibrahim Nasir, em Malé, a maioria dos turistas nem pensa em perder tempo na cidade – sai direto do raio X para os guichês dos resorts, que se organizam lado a lado em um saguão. Quem ainda não tiver reservado sua ilhota particular com sombra e água morna, vai ver muita gente oferecendo pacotes “superexclusivos” em alto e bom som (e, sim, é possível fechar tudo na hora, mas não vale arriscar, principalmente na alta temporada, durante as férias de verão dos europeus).

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Garotos de Malé, a capital e o núcleo urbano das Maldivas, se divertem na praia (Foto: Felix Hug/Lonely Planet Images/Getty Images)

Os hidroaviões que vão da capital das Maldivas para as ilhas revelam os pingos de azul-turquesa na imensidão do azul-marinho

Há duas maneiras de chegar até os hotéis: pelo mar e pelo céu. Quem tem pânico de teco-teco deve escolher uma hospedagem mais próxima da capital e seguir de ferry.

Mas a chance de voar em um hidroavião, que funciona como um táxi em um país sem rodovias, é impagável, apesar de a experiência raramente custar menos de US$ 150 (tudo depende da distância entre Malé e o seu destino). Descrever paisagens das janelas dos aviões pode ser um clichê inapelável, mas a vista do arquipélago lá de cima lembra uma pintura surrealista – parece que alguém deixou cair milhares de pingos de tinta azul-turquesa em uma imensidão azul-marinho. Parece mais que estamos caindo dentro de uma imagem clássica de fundo de tela de computador.

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Lá de cima dá para avistar as ilhotas com detalhes e começar a entender que a vida ali acontece mesmo sob bangalôs posicionados em formato de meia-lua. Embora cada atol tenha lá suas particularidades – um é queridinho dos mergulhadores, repleto de tubarões-martelo; outro, dos turistas, com ondas gigantes –, há um certo espírito de unidade no país.

Com um território espalhado por uma área de 90 mil quilômetros quadrados, as Maldivas detêm o recorde de país mais disperso do mundo. E, como as distâncias entre Malé e os resorts podem ser de centenas de quilômetros, muitos funcionários se mudam de mala e cuia para o local de trabalho, como David, que hoje mora no Atol Noonu, onde está o hotel Velaa, a 45 minutos de hidroavião da capital. Ele vive junto com outros membros do staff, a maioria com o perfil vim-de-fora-para-ficar-um-bom-tempo-no-paraíso.

É o caso, também, da eslovaca Martha, uma das únicas mulheres instrutoras de mergulho na Ásia, onde o esporte é massivamente dominado por homens; e Sri, do Sri Lanka, um professor de ioga e meditação de 50 anos de idade com vitalidade de 20. Ele me inspirou dizendo que, apesar de atrair muitos endinheirados, o país tem uma vibração especial e “que ali a natureza sempre sobressaía, colocando todos os visitantes no mesmo lugar”.

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Sobrevoo de hidroavião nas Maldivas revela o tracejado dos atóis, as ilhotas-resort e a aquarela turquesa sobre a imensidão azul-marinho (Foto: Doelan Yann/Hemis fr RM/Getty Images)

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Nas ilhas das Maldivas, onde tudo é importado, enterrar os pés na areia fina sob o sol equatorial custa cerca de US$ 7 000 por semana 

Além de ter sol o ano inteiro, culpa da proximidade com a Linha do Equador (a média vai de 26 a 32 graus, e as estações se diferem apenas entre seca e chuvosa), todas as regiões, sem exceção, têm praias idílicas, com coqueiros tortos e areia branca e fininha, daquela que não gruda no pé. Ou seja, não interessa qual será a sua ilha, você estará muitíssimo bem servido de atributos naturais. Não existem exceções.

Para desfrutar desse paraíso, quase 1 milhão de turistas desembolsam todos os anos uma grana considerável: a média de uma estadia de sete dias, por exemplo, é de US$ 7 000! Mesmo que existam hospedagens mais em conta (as guest houses têm crescido em ritmo acelerado, mas não cobram menos que US$ 200 por dia), o custo de sobrevivência é alto. O país insular importa e dolariza tudo, da água com gás ao protetor solar, passando pela cerveja.

De fato, as pequenas ilhas não são vilarejos com centrinho e vida real para além do turismo de praia. E, por mais que sua escolha seja all-inclusive, sempre haverá custos extras com barcos, hidroaviões, excursões marítimas e aluguel de bicicletas. “Vale cada centavo”, diz a aposentada austríaca Maria Benitez, de 56 anos, que já foi 16 vezes para lá. Ela, que gosta de testar resorts diferentes a cada viagem, disse que todos eram parecidos, mas que “desta última vez estava investindo na comida”.

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Bangalô Water Villa do Conrad, na Rangali Island, instalado sobre o mar das Maldivas (Foto: Divulgação)

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Restaurante-aquário, mergulhos exóticos e spas refletem o luxo dos resorts, mas a natureza das Maldivas não dá margem à ostentação

Maria apostou no Conrad, da rede Hilton, famoso por ter uma dezena de restaurantes, incluindo um 5 metros abaixo do nível do mar, onde você se sente dentro de um aquário invertido: almoça em uma cápsula enquanto cardumes de peixe e filhotes de tubarão nadam tranquilos do lado de fora do vidro.

Independentemente dos custos, poucos resorts não vão ter aulas de mergulho e passeios de snorkelling sobre os corais, spas com terapias milenares asiáticas feitas por terapeutas importadas da Tailândia e cardápios que servem o clássico da cozinha universal, como massas, peixes e legumes cozidos.

Alguns têm detalhes que podem facilitar a seleção, como uma carta de restaurantes variados (caso do Conrad), alimentação de arraias gigantes no fim da tarde, piqueniques em ilhotas vizinhas, safáris com tubarões-baleia e jantares exclusivos em cabanas de frente para o mar. Alguns oferecem thakurus (mordomos) particulares e investem em experiências com vinhos e champanhes, de olho nos hábitos dos bons vivants mundanos.

E todos são desprovidos de vida noturna – nas Maldivas, a lei é aproveitar enquanto houver sol iluminando as águas, ou seja, é preciso dormir cedo para acordar mais cedo. Por fim, sua escolha deve contemplar o seu perfil, já que não há só paraísos específicos para casais como também para mergulhadores, surfistas e famílias com crianças. Mas, claro, você há de trombar com muitos pombinhos apaixonados.

Porém, quem viajar solteiro pode até se sentir um peixe fora d’água, mas vai se encontrar muito fácil dentro dela, em que todas as pessoas se cruzam. Naquela natureza toda, dá pra esquecer, ainda que por horas, de que existem frescurites e exclusividades – o lugar é caro, mas não esnobe, ninguém se sente desconfortável.

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Dá para se entreter por uma semana inteira fazendo passeios de barco, stand-up paddle, snorkelling e mergulhando entre os recifes de coral ou só tomando drinques coloridos a bordo de uma boia gigante. Quem dita todas as regras ali é o mar.

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Restaurante-aquário Ithaa Undersea, do Conrad Maldivas, montado 5 metros abaixo da superfície (Foto: Michel Renaudeau/keystone)

Ele foi às Maldivas fotografar artistas de Bolly e Hollywood, xeiques e casais abonados, e por lá ficou

David Bernard era um fotógrafo tcheco especializado em “casamentos em preto e branco”. No final de 2014, foi convidado por um velho conhecido de Praga para trabalhar em um resort nas Ilhas Maldivas – aquele cenário era bonito demais para ser capturado apenas pelos smartphones dos hóspedes, que, além de passarem férias ali, promoviam festas milionárias dignas de registro.

E David nem precisaria estudar divelhi, já que inglês era a língua oficial dos turistas. Ele topou. Deu um cano nos últimos clientes e se mandou para o Velaa Private Island, um dos hotéis mais luxuosos da Ásia (as diárias começam em US$ 1 500), de cara para um dos mares mais azuis-turquesa da Terra.

Desde então, ele usa as objetivas a favor de xeiques árabes, astros de Bolly e Hollywood e casais do mundo inteiro em lua de mel – inclusive brasileiros. Quando perguntei por mais quanto tempo gostaria de ficar por lá, o tcheco me respondeu com uma gargalhada: “Forever”. A vida pé na areia, “com menos álcool no sangue e mais ioga na veia”, agradou. E, diante de tanta cor, suas fotos nunca mais foram em preto e branco.

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Mergulho com snorkel e máquina fotográfica subaquática nas Maldivas (Foto: Predrag Vuckovic/vetta/getty images)

Tubarões e mantas ao alcance do snorkel: por que as Maldivas são um dos melhores destinos de mergulho do mundo

O mergulho atrai tanta gente para as Maldivas quanto as certidões de casamento. A água morna faz, inclusive, com que muitos se aventurem no mar com mais tranquilidade durante a noite. Estar ali é ter a chance de entrar em contato com uma fauna marinha avassaladora – as correntes rápidas do Oceano Índico transportam nutrientes que atraem um número absurdo de peixes, como barracuda, peixe-morcego e peixe-palhaço.

Só de tubarão são quase 30 espécies, incluindo o baleia, o maior tubarão do mundo (ele pode ter até 10 metros de comprimento). Também, nem é preciso ir muito longe para avistá-los, já que é comum encontrar tubarõezinhos em águas rasas, na frente dos hotéis. Não há razão para pânico: esses pequeninos não atacam, e o tubarão-baleia também não – ele se alimenta de plâncton. Ataques são muito, mas muito raros por lá.

A arraia-jamanta, a “manta”, uma das mais procuradas pelos mergulhadores, é bastante comum por lá também. Para quem nunca mergulhou de cilindro, é bom viajar sabendo que nem é preciso descer mais de 10 metros para ver toda essa profusão subaquática, já que o espetáculo está ao alcance de um simples passeio de snorkel. Os melhores meses para a exploração marinha são de dezembro a março, quando as águas estão ainda mais cristalinas.

O mergulho tem tudo a ver mesmo com o espírito da ilha: deixar a vida fluir em câmera lenta. Nesse mundo todo aquático, a ameaça do aquecimento global é bastante presente. Por sua altitude média de apenas 1,5 metro (outro recorde: o de país mais baixo da Terra), existe a preocupação de que, com a elevação no nível dos oceanos – decorrente do aquecimento do planeta –, todas as ilhas sejam submergidas e seus moradores se tornem refugiados climáticos.

Por isso, era de se esperar que a nação fosse a primeira a assinar o Protocolo de Kyoto, que limita a emissão de gases poluentes na atmosfera. Logo, nunca é tarde para aconselhar o clássico: vá, antes que as férias dos sonhos dos seus sonhos sejam apenas uma foto de fundo de tela de computador.

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Peixe-palhaço entre anêmonas, espetáculo de cores no mergulho das Maldivas (Foto: Neville Wootton/flickr)

Maldivas: o que não deixar de levar, os cuidados e outras dicas para se dar bem na viagem

1. As distâncias entre as ilhas são longas e elas podem ter fusos horários diferentes. Por mais que você queira se desligar do relógio, há hora marcada para todos os passeios. Quem não estiver no tempo certo dança.

2. Vai até o seu hotel de hidroavião? Programe-se para ter a melhor vista da janela. A boa é se sentar nos fundos, o mais longe possível da turbina, e sempre no lado oposto ao da luz. Na contraluz, o sol incide na água e deixa o mar mais prateado que azul.

3. Leve o que puder na viagem. Itens como protetor solar, chapéu, boné, bronzeador, chinelo, óculos escuros, remédios e adaptadores de tomada podem custar uma fortuna nas lojinhas dos hotéis.

4. Garrafas de bebida alcóolica não passam no aeroporto de Malé. É comum os casais desavisados comprarem vinho ou champanhe em free shops nos aeroportos de conexão – só que, chegando lá, a mercadoria acaba confiscada na alfândega. Se quiser beber álcool, vai ter de consumir o que for vendido no hotel (e pagar uma paulada).

5. Nada de topless na areia. O país é muçulmano, e a prática não é permitida em nenhuma ilha. Você verá, inclusive, várias pessoas de véu e burca nas praias. No entanto, biquíni tem carta branca. Mas é bom ficar atento às regras locais.

6. Apesar de todas as ilhas abrigarem postos médicos (é regra no país), leve seus remédios de rotina. As farmácias locais só fornecem medicamentos básicos.

7. Se você estiver viajando em lua de mel, comemorando bodas ou celebrando aniversário, avise na recepção do seu hotel – há uma série de benefícios e surpresinhas especiais. Mas leve documentos para comprovar que você não está de malandragem.

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Hidroavião que transporta os turistas de Malé, a capital das Maldivas, para as ilhas do arquipélago (Foto: Maldivian Air Taxi/flickr)

 

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