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O melhor da dobradinha Cartagena das Índias e Islas del Rosario

Em Cartagena das Índias, as ruas são pura história. No pouco conhecido arquipélago vizinho de Islas del Rosario, o tempo parece ter parado. !Perfecto!

Por Peter Rosenwald
Atualizado em 12 jan 2022, 18h18 - Publicado em 17 dez 2012, 14h08
Colômbia: paisagem trivial nas paradisíacas Islas del rosario, no caribe colombiano
Colômbia: paisagem trivial nas paradisíacas Islas del rosario, no caribe colombiano  (Divulgação/)

Em 1994, estive na cidade colonial de Cartagena das Índias, na Colômbia. Naquela ocasião, amigos que viajavam comigo alugaram um barco para seguirmos até as Islas del Rosario, a cerca de uma hora do continente, navegando pelas águas cristalinas do Caribe. Lembro-me de que, quando atracamos no píer de uma das 27 diminutas ilhas do arquipélago – algumas são tão pequenas que mal têm lugar para mais de um casebre e o píer –, senti paz de espírito. Tive a sensação, tão selvagem era o lugar, de ter entrado em um quadro do pintor fancês Henri Rousseau, no caso a tela O Sonho, de 1910, hoje no acervo do MoMA de Nova York.

Corta para 2012. Estou de volta a Rosario. Quando a primeira impressão que se teve de um lugar se assenta na lembrança por anos, costuma-se pensar: será que na próxima vez a emoção será igual? Pois bem, a emoção ao rever o destino foi quase a mesma. A fauna e a flora eram diferentes das da pintura de Rousseau – não havia uma mulher nua ou um tigre a fitar a cena –, mas senti que aquele era um mundo diferente, um lugar idílico e intocado onde o tempo parou. Talvez por isso o Google seja tão lacônico em sua página sobre Islas del Rosario. A razão disso, creio, é também um de seus grandes atributos: pouca coisa aconteceu ali.

As ilhas hoje fazem parte do Parque Nacional Natural Corales del Rosario, que foi criado para proteger a rica vida marinha do entorno. A região é facilmente acessível por barcos que partem diariamente de Cartagena levando turistas para passar o dia e que retornam ao cair da tarde (são cerca de 45 quilômetros). Existe uma razão que por si só justificaria um passeio às ilhas: o mar que beira Cartagena é escuro, pouco caribenho, digamos.

Se naquela primeira visita que fiz há quase duas décadas Rosario pouco tinha a oferecer em termos de estrutura – eu me lembro de mergulhar de um píer, sentar em uma mesa de madeira improvisada e beber rum direto de uma garrafa –, agora há bares com confortáveis espreguiçadeiras e hospedagens com certo charme. Passamos, eu e Daniela, minha namorada, quatro dias em uma delas, o Hotel San Pedro de Majagua, que fica em Isla Grande, a maior do arquipélago (ainda assim, basta uma hora para andar de uma ponta a outra). Nosso bangalô era espaçoso, tinha ar-condicionado, TV (que nunca foi ligada), e a cama ganhava pétalas de flores após cada arrumação. As duas praias do hotel eram limpas e de areia branca e fofa. Poucos metros mar adentro e já surgiam os corais, mas nada que nos impedisse de nadar com segurança. O cardápio do restaurante do hotel era um pouco monótono, mas tanto as lagostas quanto os peixes inteiros assados na grelha não decepcionavam.

Turistas de um dia aproveitam igualmente o mar transparente para fazer mergulho com cilindro ou de snorkel pelos corais e comer peixe fesco nos restaurantes pé na areia de Isla Grande. Outro passeio muito popular incluído em praticamente todos os tours que saem de Cartagena é a visita ao Oceanário, na Ilha de San Martín de Pajares, centro de pesquisa marinha onde golfinhos exibem acrobacias. Ótimo para quem tem filhos pequenos.

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Colômbia: fachadas e balcões coloniais do Centro Histórico de Cartagena das Índias

Fachadas e balcões coloniais do Centro Histórico de Cartagena das Índias – Foto: Gabriele Croppi/Grand Tour

Endinheirados de Cartagena preferem atracar seus próprios iates na Ilha de Cholon e, quando muito, descem para tomar rum nos bares da praia e comer ostras fescas, caranguejos e lagostas grelhadas na hora em mesas colocadas dentro d’água. Há um inconveniente. Os iates são equipados com potentes caixas de som, e os donos não hesitam em deixar a música alta, ignorando as placas de “No generem ruido”.

Mas a sensação de tranquilidade e de tempo suspenso segue inabalável na maioria das ilhas; então, nada melhor do que explorá-las a pé e, no caso de Isla Grande, também de bicicleta. Recomendável também é pedir que um barqueiro leve você até alguma praia isolada, o que é quase uma redundância ali.

Cartagena das Índias

Após esses dias de descompressão em Rosario, voltar a Cartagena das Índias foi como chegar a uma cidade frenética. Não é de surpreender que esse lugar, fundado em 1533, tenha se tornado uma das capitais coloniais da Espanha nas Américas. Com condições geográficas excelentes para a atracação de navios, Cartagena logo virou um movimentado porto. De lá, toneladas de minérios (ouro, prata, esmeraldas e outras pedras) saqueados principalmente das cidades incas no Peru, foi embarcado em direção à metrópole. Por sua posição estratégica, Cartagena também esteve na mira de corsários franceses e britânicos. Como o inglês Francis Drake, que em 1586 realizou importantes saques na cidade. Foi a partir de suas investidas que os espanhóis decidiram erguer 11 quilômetros de muralhas de proteção beirando boa parte da orla.

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Cartagena também foi sede de um Tribunal de Inquisição, o infame instrumento que a Igreja, em consórcio com a realeza dos países ibéricos, utilizou para coibir, muitas vezes com a fogueira, condutas consideradas impróprias. A cidade, por outro lado, também testemunhou atos santos. O ótimo guia que contratamos, Duran Duran, nos levou ao bem restaurado Palácio da Inquisição, imponente edifício em estilo andaluz na Praça Bolívar, e ao Claustro e Igreja de San Pedro Claver, que fica em uma linda praça que leva o mesmo nome. Claver, de origem nobre, tornou-se sacerdote e dedicou sua vida a ajudar escravos africanos. Sua abnegação foi recompensada: ele se tornou o primeiro santo canonizado no Novo Mundo.

Hoje há sempre alguma coisa acontecendo nos limites da cidadela, cujo astral festivo me remeteu a Barcelona: músicos e dançarinos fazem shows em praças, ambulantes vendem charutos cubanos, e há as tradicionais palanqueras, que circulam pelas ruas vendendo tigelas de frutas. Irresistível mesmo no Centro Histórico é a vontade de parar de fachada em fachada e contemplar a arquitetura colonial. Os preços também não são nada extravagantes, ao menos os de roupas e comidas. Encontrei belas camisas de linho por R$ 100 e chapéus panamá por volta de R$ 30. Dois endereços muito recomendáveis são a Malvi Castañeda e a EGO, do designer Edgar Gómez Estévez. Não faltam também em Cartagena excelentes hotéis instalados em palácios antigos que mantêm sua magia. O Casa Pestagua Relais Chateaux, no Centro Histórico, tem 11 suítes que se abrem para um pátio arborizado. Eu me senti como o convidado em uma casa senhorial.

Olhando criteriosamente, acho que nem as Islas del Rosario nem Cartagena afiguram-se como eu as trazia na memória antes do meu retorno. Algo realmente mudou. Mas isso parece importar menos, pois ambos os destinos têm agora na minha mente uma nova magia e um novo encanto.

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