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Festa nos Bálcãs

Na Croácia, nossa correspondente curtiu palácios e fortalezas medievais, topou com loiras e loiros de arrasar e ainda fez um tocante bate e volta a Sarajevo

Por Cassia Dian (texto e fotos)
Atualizado em 24 set 2021, 16h39 - Publicado em 8 ago 2012, 11h14

Os dias na Espanha foram agitados. Recebemos a visita de um casal de alemães amigos do Danilo, meu namorado, da minha irmã, da minha cunhada e do namorado dela. Resultado? Muito papo regado a cinco garrafas de cachaça trazidas na bagagem de dona Izildinha, minha mãe, que também passou aqui por Valência. O descanso merecido que teríamos se chamava Croácia, mas, antes, eu e o Danilo demos um pulo em Colônia, na Alemanha, para comemorar meu aniversário. A cidade é encantadora, mas a única grande atração é sua enorme e belíssima catedral gótica, que levou quase 600 anos para ser concluída. Valeu o esforço para chegar ao topo, que fica a 157 metros do chão. Comemoramos o feito e os meus 33 bem vividos anos na casa do Chris, amigo de Danilo e nosso anfitrião na cidade. Admito, porém, que eu não via a hora de deixar aquele céu cinza para trás e mergulhar logo no Adriático.

Chegar à Croácia foi uma maratona. Tentados pelos € 35 do tíquete da Ryanair, não notamos que o aeroporto do qual partem os voos não ficava exatamente em Dusseldorf, como dizia o site, mas em uma cidade vizinha que distava uma hora de lá. Sorte que o Chris nos deu uma carona. Após seis horas de sono no chão do aeroporto e três de voo, bastou pisarmos em solo croata para sentir o calor fervente que havíamos deixado na Espanha. O aeroporto de Zadar me remeteu ao de Fernando de Noronha: minúsculo, cheio de jovens de chinelão. De lá fomos à estação de ônibus para comprar, por 90 kunas, a moeda local, o equivalente a € 12, a passagem para Plitvice, cidade em que fica o parque nacional em que dormiríamos em nossa primeira noite. Eu ainda consegui um assento, mas o Danilo teve de encarar as duas horas de viagem em pé em um ônibus em que o ar-condicionado estava quebrado e as janelas eram lacradas. Dica: se não estiver viajando com o dinheiro contado como nós, alugue um carro no aeroporto.

Todo o perrengue foi esquecido quando chegamos a Plitvice. A paisagem se assemelhava àquelas de propaganda de chocolate suíço: casinhas de madeira, jardins extremamente floridos e nenhum portão ou muro à vista. No dia seguinte, acordamos cedo para visitar o Parque Nacional de Plitvice e fugir dos ruidosos grupos de turistas. A infra surpreendeu: caminhos impecáveis, sinalização precisa e ônibus grátis entre uma portaria e outra, assim como o barco que conduz os visitantes pelo grande lago. No entanto, tudo fica em segundo plano quando se colocam os olhos na água, de cor ora verde-esmeralda, ora azul-turquesa.

Despedimo-nos de Plitvice com um lanche rápido no próprio parque e desembolsamos mais € 20 cada um no ônibus até Split. Ainda estava claro quando descemos na estação, e seguimos para o Hostel Split Mediterranean House. O burburinho contrastava com a calmaria de Plitvice. Até mesmo a nossa anfitriã, a espevitada Iris, nos lembrava que aquela era a segunda maior cidade da Croácia. Tomamos um banho e corremos para curtir o resto do longo dia, que prometia sol até as 22 horas. Saímos a bater pernas pelo calçadão onde está o imponente Palácio de Diocleciano, mas resolvemos deixar a visita para outro momento. Havia tanta gente, tanta música saindo dos bares e tantas loiras lindas de 1,80 metro (os homens também são bonitos, tá?) que levamos alguns minutos para assimilar o lugar. Encolhi a barriga, agarrei a mão do Danilo para impor respeito e atravessamos a multidão rumo ao restaurante Fife. A garçonete (também loira e de olhos azuis, claro) nos serviu um belo prato de peixe, lula, batatas, salada e cerveja. Pagamos € 23 e fomos dormir felizes.

Decidimos pegar leve no segundo dia (ainda tínhamos mais dois em Split), pois a madrugada seria em claro para aguardar o primeiro jogo entre Corinthians e Boca Juniors pela final da Libertadores. Caminhamos para as praias ao leste e logo de cara descobrimos que a primeira delas, Bacvice, era muvucada. As duas praias vizinhas – Ovcice e Firule – eram mais aprazíveis, e optamos pela última para esticar a canga e dar o primeiro mergulho no Adriático. Na volta para casa, conhecemos Vladimir, um simpático tiozinho que amava o futebol brasileiro. “Pelé é melhor do que Maradona!”, sentenciou antes de nos indicar um restaurante para assistir à semifinal da Eurocopa. Foi um longo jantar, já que a Espanha só venceu Portugal nos pênaltis e o garçom era uma figura! Assim que soube que éramos brasileiros, nos perguntou sobre Neymar e Michel Teló.

Acordamos às 10 horas naquele terceiro dia e escolhemos visitar o Parque Marjan, uma colina que abriga um zoológico, uma rústica igreja medieval do século 13 e a melhor vista da cidade. Reservamos a noite para vasculhar as vielas do lindíssimo Palácio de Diocleciano e conhecer o antigo mausoléu do imperador, que foi convertido em catedral. Uma vez no interior das muralhas, o melhor a fazer é se perder pelas ruelas cheias de lojas e bares iluminados. Dedicamos nosso último dia a descansar e andar pelas praias que ficam no sopé do Parque Marjan, tranquilas e com recantos deliciosos para mergulhar. E nos despedimos de Split bebendo drinques jogados em pufes no Fluid Bar, dentro do Palácio de Diocleciano.

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Fim de tarde memorável em Sarajevo, Bósnia- Herzegovina Fim de tarde memorável em Sarajevo, Bósnia- Herzegovina

Emoção em Sarajevo

De Split, compramos uma passagem de ônibus para Saravejo (€ 24), na Bósnia- Herzegovina. No albergue, o melhor em que já me hospedei, nada me desapontou. Enquanto as hospedagens na Croácia cobram preços dignos de Mykonos, em Sarajevo o marco convertível, a moeda local, deixa qualquer turista durango feliz. Fomos direto ao centro para constatar o pacífico convívio de muçulmanos, católicos e judeus. Enquanto eu via a fachada da Catedral de 1889, ouvia o chamado da mesquita Gazi Husrev Begova, de 1531.

Sarajevo protagonizou outros dois grandes marcos históricos. O primeiro foi o assassinato do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, fato que culminou na Primeira Guerra Mundial. O segundo foi o cerco de 43 meses (de 1992 a 1996) durante a Guerra da Bósnia, que deixou cicatrizes na paisagem urbana e nas pessoas. Foi tocante conhecer o túnel que permitia a entrada de mantimentos e medicamentos para os sitiados. Foi lá que conhecemos o guia Mirsad. Ele contou que na época tinha 6 anos e que se lembrava de tudo. Perdeu o pai (que aderiu ao Exército bósnio formado por civis), o avô (que morreu em um bombardeio) e o irmão (que adoeceu, mas não foi medicado). Fiquei emocionada.

Apesar do passado triste, não há sinal de desânimo no povo. Os mesmos edifícios atingidos por balas abrigam hoje bares animados. Poucas horas antes de voltarmos à Croácia, subimos uma colina para ver mais um belo pôr do sol e, ao descê-la, tivemos a chance de assistir ao concerto de verão da orquestra sinfônica da cidade. Despedida memorável.

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Pérola aos turistas

É do poeta Lord Byron a expressão utilizada até hoje como slogan nos folhetos turísticos: “Dubrovnik, a pérola do Adriático”. Ele tinha razão. Avistar da estrada o centro histórico, uma fortaleza erguida entre os séculos 11 e 17 e rodeada pelo azul do mar, é arrebatador. O relógio ainda marcava 6 da manhã enquanto sacolejávamos no ônibus que nos deixaria em nosso hotel em Cavtat, pequena cidade distante 17 quilômetros de Dubrovnik. Senti receio de ter errado na escolha quando vi que ficaríamos longe da fortaleza. Sorte que o agradável quarto na pousada Apartment’s Carol dissipou por algumas horas o arrependimento. Pela tranquilidade dos outros hóspedes, tive a sensação de que Cavtat era a base ideal para conhecer Dubrovnik. E eu não estava errada.

No dia seguinte, apanhamos o ônibus que em 25 minutos nos levaria a Dubrovnik. Não sei se o calor de 36 graus ajudou no atordoamento que senti quando me vi rodeada por uma multidão de turistas na Porta de Pile, o principal acesso ao Centro Histórico. Conferimos a Fonte de Onofio, de 1438, o Palácio Sponza, sede de manuscritos milenares, e a torre do relógio na praça central, erguida em 1444. Esperamos o sol dar uma trégua e tapeamos a fome com pizza. O objetivo final do dia era caminhar sobre a muralha que rodeia todo o centro e assistir dali ao último pôr do sol daquela viagem. Coroamos tudo com um jantar romântico para celebrar dois anos de namoro.

Neste momento, Cassia e Danilo devem estar em algum lugar entre Moscou e São Petersburgo, a quarta etapa desta volta ao mundo, que já passou por Nova York, Valência e Andaluzia (e você leu na VT). Boa viagem, meninos!

Croácia (DDI 385)

FICAR

Em Plitvice, o ótimo bed & breakfast Krizmanic Family (Rastovaca, 15, 53/758-028, reservas no site booking.com; diárias desde € 75; Cc: A, D, M, V) tem acomodações superconfortáveis e um farto café da manhã. Se as diárias dos hotéis em Dubrovnik assustarem, hospede-se em Cavtat no Apartament’s Carol (Poluganje, 29, 91/583- 1043, reservas no site airbnb.com; diárias desde € 45), onde a calmaria e o pôr do sol da piscina são de arrasar. Em Split, o Hostel Split Mediterranean House (Vukasoviceva, 21, 21/987-1312, hostel-split.com; diárias desde € 13; Cc: M, V) fica numa bela casa de pedra.

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COMER

Em Split, peça uma cerveja Karlovacko para acompanhar os frutos do mar do restaurante Fife (Trumbiceva Obala, 11, 21/345-223). E chegue cedo para garantir uma mesa ao ar livre no Fluid Bar (Dosud, 1), no interior do Palácio de Diocleciano. Em Dubrovnik, no porto do Centro Histórico, farte-se da vista e da comida do Lokanda Peskarija (Ribarnica bb, 20/324-750; Cc: M, V) ou engane a fome com uma fatia de pizza na Pizzeria Mea Culpa (Gorica Sv Vlaha, 77, 20/324-747; Cc: M, V).

PASSEAR

Impossível não ficar embasbacado com a cor da água no Parque Nacional de Plitvice (Plitvicka Jezera, 53/751- 014, np-plitvicka-jezera.hr; € 15), em Plitvice. Em Split, perca-se pelas vielas no interior do Palácio de Diocleciano (Obala Hrvatskog Narodnog Preporoda, 22, 21/345-606), herança da dominação romana, e reserve um tempo para ir à Catedral (Diocletian’s Palace, 21/342-589; grátis), considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, e ao Parque Marjan (Jesenice). Em Dubrovnik, caminhe sobre a principal muralha (Brsalje Old Town Off Put Iza Grada, 20/324-641; € 10) que cerca a cidade e dê um pulo no Palácio Sponza (Luza Square, 20/321-032; grátis), que no passado abrigou a Alfândega e a Casa da Moeda e hoje abriga um museu histórico.

Bósnia-Herzegovina (DDI 387)

FICAR

Em Sarajevo, os quartos privativos do barateiro albergue Travellers Home (Cumurija, 4, 70/242-400, myhostel.ba; diárias desde € 13,50) são grandes e bem decorados – o café da manhã é farto, e os funcionários são uma simpatia.

COMER

Experimente o tradicional cevap (sanduíche de carne de porco ou cordeiro com vinagrete) e a premiada cerveja local Sarajevsko no Galatasaray (Gazi Husrev-begova, 44, 33/535-446; Cc: M, V). Já o Bosna (Bravadziluk, 11, 33/538-426) prepara o burek, iguaria que lembra a empanada argentina (€ 8 o quilo).

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PASSEAR

O Museu de História (Zmaja od Bosne, 5, 33/210-418, muzej.ba; grátis) retrata com simplicidade e competência a Guerra da Bósnia. Se você é mulher, lembre-se de carregar um lenço para cobrir a cabeça na hora de visitar a bela mesquita Gazi Husrev Begova (Saraci, 18, 33/534-375, vakufgazi.ba). Bastante danificada durante a guerra, a Catedral de Sarajevo (Ferhadija bb Barcarsija; 2ª/dom 8h/19h) passou por restauração para recuperar a fachada, inspirada na Catedral Notre-Dame, em Paris.

 

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