RIVIERA NAYARIT
Esqueça do mar azul-caribe de Cancún só por um instante e considere o México, que está na outra costa, banhado pelo Pacífico. O mar naquele outro lado tem um azul mais profundo, menos transparente, é verdade, mas ainda assim a temperatura fica na casa dos 24°C. Agora pegue uma baía com uma das maiores biodiversidades marinhas do planeta, coloque no centro uma cidadezinha charmosa, Puerto Vallarta, e espalhe ao longo de 100 quilômetros, para o sul e para o norte, hotéis com muita mordomia e algumas praias desertas. Tudo isso em uma área pertencente a dois estados mexicanos vizinhos, Jalisco e Nayarit, que podem e devem ser combinados em uma mesma viagem.
Comecemos por Nayarit, que ganhou o nome “Riviera”, em 2007, para definir a faixa litorânea que se estende da divisa de Puerto Vallarta até Boca de Teacapán, 307 quilômetros ao norte. O foco, aqui, serão os primeiros 50 quilômetros que ficam dentro da Bahía de Banderas por concentrarem o luxo do luxo, hotéis que, se o hóspede preferir, nem precisa arredar o pé até o dia de voltar para o aeroporto.
O Vidanta, um dos resorts mais próximos do aeroporto de Puerto Vallarta, abriga quatro hotéis no mesmo terreno. O paisagismo é espetacular, luxuriante (sim, essa é a palavra), com canteiros impecáveis envolvendo lagos, piscinas e um campo de golfe idealizado pelo campeão Jack Nicklaus. Os hotéis estão conectados por 1 316 metros de passarelas de madeira, que são um astral de serem percorridas à noite, quando ganham iluminação indireta. É possível também circular em carrinhos de golfe, que nunca tardaram mais que cinco minutos quando eu precisei. No meio do complexo há um centro comercial, com minimercado e várias lojinhas gourmetizadas. Restaurantes são 18. A praia, linda quando vista das varandas, perde um pouco o elã de perto: o Rio Ameca, que deságua ao lado, apesar de belíssimo, deixa o mar turvo em toda a extensão do resort. Mas, com tantas piscinas à disposição, não é nenhum problema. O Grand Mayan, um dos hotéis do complexo, tem apelo para famílias com crianças por causa da piscina de ondas, do tobogã e de um rio de correnteza.
Punta Mita: Simplesmente un lujo
Quem não abre mão de praias com águas azuis e pode abrir bem a carteira, o melhor é seguir por 40 quilômetros até o extremo norte da Bahía de Banderas. Lá ficam dois hotéis exclusivíssimos, o St. Regis e o Four Seasons. No primeiro, as habitações estão espalhadas por um impecável jardim. Já na praia, privativa por supuesto, a areia é branca e fofa. O mar é quase uma piscina e de um azul-quase-cancún. O cúmulo da regalia? Mordomos atendem aos pedidos dos hóspedes por WhatsApp.
A faixa de areia do Four Seasons é mais extensa, o mar é mais agitado, ainda que bastante azul, e as daybeds ficam suspensas por cabos de aço. Algumas acomodam bem umas quatro pessoas, e as que eu vi pareciam inertes pelo balancinho, pela brisa e pelos drinques que chegavam de bandeja ao menor movimento do indicador.
Ilhas Marietas e Playa Escondida
Mas, se a vida nos hotéis estiver mansa demais, um pulo às Ilhas Marietas, acessíveis a qualquer mortal, é a pedida. As lanchas saem tanto de Puerto Vallarta (uma hora de viagem) quanto do vilarejo pesqueiro de Enclote (20 minutos), em Punta de Mita. O arquipélago é formado por duas ilhas principais, sendo a maior com um pouco mais de 1 quilômetro de comprimento. O único ponto onde é permitido pisar é um pequeno trecho de areia chamado Playa Escondida, lugar que virou milho para pombo depois que algumas fotos viralizaram na internet. O único jeito de chegar é a nado. Com coletes e nadadeiras a postos, pulamos na água e seguimos até alcançar uma marquise natural de pedra. Após nadar alguns metros, surge um grande buraco acima de nossas cabeças, como se uma incisão no topo de uma caverna tivesse aberto uma tampa, deixando exibir uma pequena praia de águas calmas. Dica: embarque no primeiro passeio do dia, às 8 horas, e seja o primeiro grupo a aportar ali. Depois disso, a lotação na diminuta faixa areia pode atingir a marca de mais de 200 pessoas!
Sayulita e San Pancho
Ao norte de Punta de Mita, fora da Bahía de Banderas, dois vilarejos praieiros, alheios ao mundo dos resorts, merecem uma conferida, mas sem muita expectativa. Sayulita tem um astral Porto de Galinhas no centrinho, lojas bacanas e boas ondas na praia. Sete quilômetros depois, em San Francisco, mais conhecido como “San Pancho”, vale conferir o projeto social chamado Entreamigos. Lá as crianças da comunidade têm aulas de acrobacias graças a um padrinho especial, Gilles Ste-Croix, um dos fundadores do Cirque du Soleil, que tem uma casa de veraneio em San Pancho. As apresentações são esporádicas, mas, durante o ano, é possível espiar pelas janelas a criançada fazendo piruetas.
ARTE HUICHOL
O estado de Nayarit abriga o maior grupo indígena da etnia huichol, que são exímios artistas, principalmente na confecção de máscaras e esculturas de animais em que são coladas milhares de miçangas coloridas. Adeptos de rituais xamânicos regados a peiote, bebida feita a partir de um cacto com propriedades alucinógenas, os huichois buscariam daí a inspiração para suas criações coloridíssimas e psicodélicas. Em Sayulita há várias lojas que vendem esculturas feitas pelos huichol.
PUERTO VALLARTA
Puerto Vallarta, no estado de Jalisco, até a década de 1960 não passava de um pacato vilarejo litorâneo, com cerca de 15 mil habitantes. Praticamente isolado do resto do país pela cadeia de montanhas de Sierra Madre, naquele tempo não havia telefone, eletricidade, água encanada, mas não faltavam escorpiões e iguanas. Em 1963, o diretor John Huston, um apaixonado pelo México, chegou ali para rodar um dos seus filmes, A Noite do Iguana, baseado em um conto do dramaturgo Tennessee Williams. Junto com ele veio um elenco de peso: Ava Gardner, Deborah Kerr e Richard Burton, que na época era casado, mas vivia, à boca pequena, um affair com Elizabeth Taylor. A atriz, então em seu terceiro casamento, mandou uma banana para o então marido e foi se unir a Burton durante as filmagens. O caso foi um prato transbordante para a imprensa, que então descobriu a existência de Puerto Vallarta. Em seu livro de memórias, John Huston escreveu que nas locações, na Praia de Mismaloya, ao sul de Vallarta, havia mais repórteres e fotógrafos que iguanas. Durante as filmagens, Burton comprou duas casas na parte alta cidade, uma em cada lado da Calle Zaragoza, e mandou construir uma ponte unindo as propriedades – uma para ele e outra para Liz. Burton prezava por ter um canto só dele e achou melhor que cada um tivesse sua própria casa. Ela ganhou o nome de Casa Kimberly e hoje se tornou um luxuoso hotel. O bairro, chamado Gringo Gulch, é zero glamour e ostentação, mas é um charme só: ruas estreitas, calçadas de pedras, sossego e as melhores panorâmicas de Vallarta, com o Pacífico ao fundo.
Mas, antes de explorar a parte alta, voltemos ao nível do mar, que é onde qualquer passeio por Vallarta deve começar. Beirando a orla do centro histórico há um malecón, ótimo para um footing. Durante o dia, além das lojas de artesanato, há os vendedores ambulantes empunhando cabaças onde carregam uma bebida deliciosa, a tuba, feita a partir da fermentação da palmeira e servida com maçã e nozes. Há também performances dos voadores de papantla, uma dança da fertilidade aprimorada pelos astecas em que quatro homens sobem em um mastro de uns 20 metros com cordas enroladas nas pernas e na cintura e se jogam no vazio. Enquanto um homem toca uma flauta e um tambor no topo do mastro, os quatro vão girando como um carrossel e desenrolando a corda dos seus corpos até pisarem no chão.
Mais adiante, na altura dos arcos, um marco de Vallarta, já se vê do outro lado da rua a torre da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Depois de visitá-la, vale subir qualquer uma das escadarias atrás do templo para alcançar a Calle Matamoros, onde há um farol-mirante que descortina a vista mais bonita da cidade. Seguindo a Matamoros em direção ao sul, você topa com a já citada Calle Zaragoza. Pertinho da casa em que Burton e Liz viveram, que foi reaberta como um hotel-butique, uma escadaria conecta a parte alta até uma ilha, em pleno Centro, que é contornada pelo Rio Quale, que deságua no mar. Ali há muitas bancas de artesanato e uma estátua de John Huston, o eterno embaixador honorário de Vallarta.
No trecho sul do malecón, conhecido como Zona Romántica, está a Praça Lazaro Cárdenas, e, se for um sábado, não deixe de dedicar algumas horas ao Farmer’s Market, ocasião em que são montadas cerca de 80 barracas, que vendem tacos, frutas, pães, sucos e artesanato de todas as partes do México. O evento é sazonal.
Vamos a la playa
Ao final do malecón surge a Playa de los Muertos, a mais famosa da cidade, cujo marco é um píer modernoso sempre repleto de pelicanos. O canto onde está Los Muertos e adjacências é também um famoso point gay, com vários beach clubs, bares e outros inferninhos. Se quiser pegar uma praia com estilo, busque o Mantamar, o clube de praia mais bem montado dali.
Do Píer de Los Muertos saem barcos para praias semidesertas ao sul de Vallarta. A mais preservada é Yelapa, a cerca de uma hora de viagem. Ao chegar lá, os guias dos barcos costumam se oferecer para levar os turistas até uma cachoeira, que não tem a mínima graça, e também tentam convencê-los a ficar em uma barraca de praia onde o garçom logo de cara coloca uma iguana no seu ombro. Você deverá voltar com uma imagem melhor de Yelapa se ficar nas barracas de sapê, as chamadas palapas, que estão no canto esquerdo da praia próxima ao Hotel Lagunita.
OS MELHORES UPGRADES
Fora do núcleo urbano de Vallarta, em direção ao sul, vão surgindo praias e mais praias. Se você faz questão de se hospedar à beira-mar com alguma privacidade, foque seus esforços aqui. Há desde o simples Costa Sur, que tem um molhe em frente que forma uma ótima piscina natural, até o novíssimo e exclusivo Mousai, que, em seu 18º andar, surpreende com uma piscina de borda infinita a 112 metros do nível do mar. É de cair o queixo.
RITMOS DE LA NOCHE
John Huston viveu os últimos anos de sua vida em Las Caletas, uma praia deserta ao sul de Puerto Vallarta, cercada de mata nativa. Hoje o lugar é explorado com exclusividade pela agência de passeios Vallarta Adventures, que diariamente leva grupos para passar o dia, andar de stand-up paddle, caiaque, mergulhar. Mas o melhor está reservado para as noites de segunda a sábado, quando acontece o espetáculo acrobático Ritmos de la Noche em um anfiteatro natural. Após a apresentação, rola um jantar na beira da praia, que fica iluminada por centenas de lamparinas. Vale o show. Saiba mais com a Vallarta Adventures.
Guia VT (serviço apurado em julho de 2015)
MÉXICO
Puerto Vallarta
Ficar
A um pulo do aeroporto, o Casa Velas é um luxo, com pavões circulando pelo jardim, uma piscina deliciosa e um ótimo restaurante, com mesas na área externa. O Hacienda San Angel, no Gringo Gulch, está instalado em um casarão colonial que foi presente de Richard Burton para a sua segunda mulher, Susan. Caso não se hospede, reserve ao menos um jantar. O coloridíssimo Catedral está perto de tudo o que interessa no centro histórico; os quartos voltados para o átrio são mais silenciosos. Quem preferir ficar com uma boa praia em frente, vale buscar o Costa Sur, o Garza Blanca ou seu vizinho elegante, o Mousai, que tem uma incrível piscina de borda infinita.
Comer
Saborear um tiradito de atum, um salpicón de pato ou um chuletón de porco no Vista Grill, num fim de tarde, ouvindo jazz e com a cidade quase inteira aos seus pés, é increíble! As mesas no jardim do bistrô Café des Artistes são de uma “aconchegância” sem igual e a cozinha é das mais famosas de Vallarta. O Mariscos El Guero (Lazaro Cárdenas, 507), ao sul do Rio Quale, tem os melhores e mais baratos petiscos; comece com as tostadas de pulpo (polvo). Para se ter um panorama amplo e rápido da culinária mexicana, vale embarcar no Vallarta Food Tours e provar várias especialidades em três horas.
Riviera Nayarit
Ficar
Para se hospedar em um dos quatro hotéis do Vidanta, o cliente precisa ligar para o México, mas os atendentes falam português. Em Punta Mita, o fino do fino está no St. Regis e no Four Seasons.
Comprar
Em Sayulita, a Revolución del Sueño vende camisetas, quadros e objetos de decoração com imagens de famosos personagens nacionais, como os líderes revolucionários Francisco Madero e Emiliano Zapata e, claro, Frida Kahlo.
Como chegar
A Aeromexico leva a Puerto Vallarta, com conexão na Cidade do México.
Quando ir
A média da temperatura anual é de 27°C. A baixa temporada, por causa da chuva e umidade, vai de julho a outubro. De dezembro a março, a Bahía de Banderas recebe a visita de baleias-jubarte e cinzenta, e também de golfinhos e orcas, e há passeios diários para avistá-las.
Idioma
Espanhol, mas o inglês é praticamente uma segunda língua por causa da grande quantidade de americanos que visitam o lugar.
Comunicação
Ligações a cobrar para o Brasil podem ser feitas pelo 01800-1230221. Para chips pré-pagos busque a Telcel.