O Alentejo pode ser definido, oficialmente, como aquela porção de terra no centro-sul de Portugal que faz fronteira a oeste com o Atlântico, a leste com a Espanha, a sul com o Algarve e a norte com o Ribatejo e as Beiras. Mas, poeticamente, é a terra prateada pelas folhas das oliveiras milenares, ora verde, ora avermelhada pelos vinhedos de troncos retorcidos e pontilhada aqui e ali por casas caiadas branquinhas, de janelas coloridas e resquícios mouros. Na roça portuguesa, os campos suavemente ondulados estendem-se até onde a vista alcança, enfeitados por rebanhos de ovelhas e pastores munidos de cajados, à moda antiga. Tudo tem o seu tempo – e aqui ele insiste em passar mais devagar, especialmente sob o sol inclemente que brilha na maior parte do ano.
Graças a ele, Portugal pode se gabar de, apesar de seu território diminuto, ser o quarto maior produtor de azeites da Europa. Ou de ter o maior olival privado do mundo, com impressionantes 10 mil hectares. Não é pouca coisa. Entre os meses de outubro e janeiro, quando o fruto passa do verde aos tons de roxo, os campos protagonizam o espetáculo da colheita, que pode ser acompanhado – e degustado – de perto.
A outra preciosidade local vem de tempos imemoriais. Reza a lenda que as videiras foram introduzidas na região pelos romanos dezenas de anos antes de Cristo. Hoje as suas oito sub-regiões levam o selo de Denominação de Origem Protegida da União Europeia, expoente máximo de sua qualidade. As castas são bem típicas da zona e originam vinhos encorpados e cheios de personalidade: roupeiro, antão vaz e arinto entre as brancas; trincadeira, aragonez, castelão e alicante bouschet entre as tintas. A rolha também é assunto sério por aqui. Sempre de cortiça, claro. Portugal é o principal produtor mundial do material, feito a partir da casca do sobreiro – árvore abundante no Alentejo que só cresce sob o efeito das brisas do Mediterrâneo.
Não bastasse sua porção campo, o Alentejo tem ainda a sua porção mar. O litoral da região, que vai de encontro à famosa Costa Vicentina, é declarado parque natural em sua maior extensão. Isso significa que as dunas, falésias e areais são protegidos por lei e mantêm ares selvagens, com pouca infraestrutura (no ótimo sentido). A areia é fininha e as águas, embora frias para os nossos padrões tropicais, são sempre transparentes. Há baías calminhas, trechos com ondas perfeitas para o surf, lagoas e rios para alternar banhos de água salgada e doce.
Além de seus predicados naturais, o Alentejo é ainda recheado de vilas históricas encantadoras que contam séculos e séculos da história do país. Muitas delas, graças às funções estratégicas de defesa que já exerceram num passado distante, são coroadas por castelos e cercadas de muralhas imponentes que atravessaram os séculos praticamente intactas. Há importantes monumentos megalíticos aqui e ali. Percorrer os caminhos alentejanos é, também, uma deliciosa viagem no tempo.
QUANDO IR
Embora Portugal não seja um país de temperaturas extremas, especialmente quando comparamos com o resto da Europa, o Alentejo tende a registrar os altos e baixos. Isso significa que pode fazer muito calor no verão (com picos acima dos 40ºC) e bastante frio no inverno (não raro abaixo dos 10ºC). No litoral, as temperaturas tendem a ser mais amenas, de maneira geral – e pode ventar. As melhores estações para explorar a região, com clima agradável e dias maioritariamente ensolarados, são a primavera, quando os campos se enchem de flores (e viram verdadeiros tapetes amarelos e roxos), e o outono (época em que os vinhedos estão no seu auge de beleza, com folhas que vão do dourado ao vermelho).
COMO CHEGAR
Para quem vem do Brasil, a melhor porta de entrada do país é Lisboa, já na fronteira da região (basta atravessar o Tejo!). As cias aéreas TAP, Azul e LATAM operam voos diretos para a capital portuguesa. Com o maior leque de opções, a TAP voa sem escalas desde 10 cidades brasileiras (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). A LATAM voa de Guarulhos, assim como a Azul, que também opera via Campinas (Viracopos).
Uma vez em Lisboa, é possível chegar até as principais cidades do Alentejo nos trens operados pela CP (em Portugal chamados comboios, com saídas das estações de Entrecampos, Sete Rios ou Oriente) ou de ônibus – chamados de autocarros. A principal empresa é a Rede Expressos, com saídas das gares do Oriente ou Sete Rios. Mas a melhor alternativa, para ter uma maior liberdade de explorar as cidadezinhas da região, é ir de carro. A Rental Cars busca as melhores tarifas entre as operadoras locais, inclusive as low-cost. Mas atenção: fazer o seguro total, seja através do site, seja no próprio balcão da locadora, é altamente recomendável.
Outra maneira de explorar a região que é pura curtição é a bordo de autocaravanas (motorhomes). A Indie Campers é uma das principais locadoras do país. Para quem está em busca de uma aventura épica a bordo de Kombis vintage, a Camper Tales e a Siesta Campers têm verdadeiras pérolas. A distância de Lisboa a Évora, a capital alentejana, por exemplo, é de cerca de 130 quilômetros; a Odeceixe, no litoral, já na fronteira com o Algarve, 230 quilômetros; a Marvão, no Alto Alentejo, 240 quilômetros; e à encantadora vilinha de Estremoz, 170 quilômetros.
COMO CIRCULAR
Até é possível circular pela região de comboio (trem) ou autocarro (ônibus), mas só quem está de carro tem maior liberdade e flexibilidade para explorar os encantos alentejanos e alcançar as vinícolas, as praias mais afastadas e os vilarejos pequeninos, perdidos no tempo. O Alentejo é, ainda, uma das regiões mais agradáveis de ser exploradas em autocaravanas, com uma boa infraestrutura de parques de campismo e estacionamentos.
PASSEIOS
Alentejo interior
Ruas calçadas em pedra, casas de fachadas branquinhas, praças singelas. Em Évora, a bonita capital do Alentejo, a vida insiste em passar mais devagar, apesar de ser uma importante cidade universitária e já ter ultrapassado a marca dos 50 mil habitantes. Principal porta de entrada de toda a região, está cercada dos típicos campos forrados de oliveiras, onde muitas vezes os rebanhos de ovelhas são mais numerosos do que os moradores locais. Mas há, também, importantes atrações históricas por aqui. O centro da cidade guarda, além de trechos de uma antiga muralha e bonitas igrejas, um templo romano erguido no século 1 que exibe impressionantes colunas bem preservadas (chamado Templo de Diana). A imponente Catedral, do século 13, combina estilo românico e gótico – esse último bem visível nos claustros do século 14. As bandeiras da rota de Vasco da Gama que partiram para o Oriente em 1497 foram benzidas aqui. Sóbria e robusta, a Igreja de São Francisco foi construída entre 1480 e 1510 e é um dos destaques da arquitetura gótico-manuelina no país. O pórtico da fachada exibe os emblemas régios dos dois monarcas que a construíram: D. João II e D. Manuel I. Em anexo fica uma atração curiosa: a Capela dos Ossos, uma salinha erguida (paredes, colunas e altar) com os restos mortais de 5 mil monges.
Nos arredores da cidade, voltamos ainda mais no tempo: há monumentos megalíticos do período neolítico que sobreviveram intactos à passagem dos séculos. O principal deles atende pelo nome de Cromeleque dos Almendres e é formado por 95 menires (pedras verticais) dispostos em forma circular. Acredita-se que tenha sido um templo dedicado ao culto ao sol. Outra atração imperdível dos arredores, mas de cunho mais, digamos, mundano, é a Adega da Cartuxa, uma das principais vinícolas da região. Seu vinho tinto mais famoso é uma verdadeira instituição portuguesa: o raro (e caríssimo!) Pêra Manca. É possível fazer visitas guiadas e participar de degustações.
A exatos 22 quilômetros de Évora, Arraiolos é dona de um bonito casario branco, de um castelo do século 14 cercado de imponentes muralhas e de uma bela igreja do século 16. Mas essa cidadezinha de menos de 10 mil habitantes fez fama, mesmo, com os seus históricos tapetes bordados em lã (as primeiras referências datam do século 16). Por todo canto é possível ver as bordadeiras em ação. A Rua Alexandre Herculano concentra boa parte das tapeçarias. A também pequenina Estremoz, com menos de 15 mil habitantes, cerca de 40 quilômetros adiante, parece uma vila de mentira. De longe, ainda da estrada, já dá para avistar o grande cartão-postal local: a imponente Torre de Menagem, do século 13, erguida totalmente em mármore ao longo de três reinados. Ela domina todo o centro histórico, a chamada parte alta, de traçados medievais e cercado por muralhas. Dentro há um castelo, palacetes e um dos mais antigos conventos franciscanos do país.
Nos seus arredores, uma das principais atrações é a encantadora Vila Viçosa, dona de um um valor histórico incalculável: foi sede da Casa de Bragança, que se tornaria a quarta dinastia de Portugal a partir de 1640 com o reinado de D. João IV. Para sentir o peso da história, basta ir ao Paço Ducal, o palácio construído a partir de 1502 pelo quarto duque de Bragança, D. Jaime, e finalizado no século 18. Ele tem uma fachada de 110 metros coberta de mármore e, por dentro, os ambientes reais estão praticamente intocados. A Sala dos Duques exibe o retrato de 18 deles no teto.
Seguindo rumo ao interior, a poucos quilômetros da fronteira com a Espanha, a vilinha histórica de Monsaraz mais parece uma miragem: dominada por um castelo do século 13 no alto de um morro, é cercada de muralhas e tem um casario branco impecável. Ruas principais só há três; habitantes, menos de mil. A panorâmica dos arredores é linda: vê-se campos a perder de vista e o Rio Guadiana logo abaixo. É um dos destinos mais encantadores do Alentejo, e o sobe e desce costuma estar cheio de forasteiros. Ali pertinho fica outra vinícola alentejana incontornável: a Herdade do Esporão, dona de mais de sete séculos de história e de uma boa infra-estrutura. É possível explorar a propriedade de bike, fazer degustações de vinhos e azeites e ainda almoçar em seu ótimo restaurante.
Com cerca de 35 mil habitantes, Beja é a principal cidade da região chamada Baixo Alentejo, e fica a meio caminho entre Évora, ao norte, e o Algarve, que encontra o Oceano Atlântico, ao sul. É moderna nas extremidades, mas o que mais interessa é o seu bonito centrinho histórico, no meio de tudo, delimitado por trechos da antiga muralha e guardado pelo imponente castelo bem preservado. Ficam ali importantes construções que ajudam a contar a história portuguesa, caso de um convento do século 13 transformado em pousada (a de São Francisco) e da igreja da Misericórdia, do século 16. Curtos passeios levam a vinícolas e cidades interessantes, caso de Mértola, às margens do Rio Guadiana.
Alto Alentejo
Aos pés da bonita Serra de São Mamede, não muito longe da fronteira da Espanha, esta região é linda e bucólica. Mares sem fim de oliveiras cedem espaço para vinhedos, que cedem espaço para vilas paradas no tempo e de repente… uau, um castelo. Maior estrela da região, hoje casa de menos de 100 habitantes, Marvão, uma vilinha estrategicamente plantada em um dos pontos mais elevados do Alentejo (e a meros 13 quilômetros de distância da fronteira com a Espanha) desempenhou um importante papel na defesa do território português desde a conquista do país aos mouros, no século 13. Dessa época e dos séculos que vieram a seguir muita coisa sobreviveu para contar a história – a linda muralha que emoldura toda a vila de casas branquinhas, o Largo do Pelourinho, a singela Igreja do Espírito Santo… Parece cenário de filme!
Capital do Alto Alentejo, Portalegre tem cerca de 25 mil habitantes e uma história intimamente ligada ao âmbito religioso, uma vez que ganhou a sua própria diocese no século 16 e viu nascer belos monumentos. O principal deles é a Catedral da Sé, a grande estrela da Praça do Município, que começou a ser construída em 1556 (e depois, no século 18, ganhou adendos barrocos, caso das duas torres). Vale ainda conhecer o Convento de Santa Clara, que hoje abriga a biblioteca municipal; o Mosteiro de São Bernardo, do século 16, dono de bonitos painéis de azulejos; e o curioso Museu da Tapeçaria de Portalegre Guy Fino, com lidas peças da famosa tapeçaria local em exposição.
A boa e velha fórmula alentejana de uma vila no alto do morro + um punhado de casinhas brancas + ruelas estreitas e floridas + um castelo para coroar tudo se repete na pequenina Castelo de Vide com louvor. Junte, neste caso, lindas vistas que se descortinam para o sobe e desce do Parque Natural da Serra de São Mamede e pronto, está feita a festa. Dentro das muralhas do castelo ainda há uma vilazinha e a Igreja de Nossa Senhora da Alegria, do século 17.
Crato completa a lista de cidadezinhas imperdíveis deste pedacinho alentejano. Fundada no século 13, sua maior joia é a aldeia de Flor do Crato, um aglomerado de casinhas com uma praça principal com direito a igreja, coreto e um mosteiro imponente, com ares de castelo e fortaleza, com mais de sete séculos de história. Hoje transformado em pousada, o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa foi mandado construir pelo primeiro prior do Crato, D. Alvaro Gonçalves Pereira, no ano de 1.356.
Uma vez na região, vale visitar algumas vinícolas locais. Uma delas merece atenção especial: a Adega Mayor, cerca de 45 quilômetros ao sul de Portalegre, nos arredores de Campo Maior, dona de um belo edifício assinado pelo maior arquiteto português de todos os tempos: Álvaro Siza Vieira, o primeiro do país a ganhar o prêmio Pritzker, espécie de Oscar da arquitetura mundial. Cercada por 350 hectares de belos vinhedos, tem um terraço que descortina lindas vistas dos arredores (até a Espanha!) e diferentes modalidades de visitas – com degustação, com almoço, com piquenique… Outra boa opção é a moderninha Herdade da Rocha, que produz os vinhos Couto Saramago em uma bonita propriedade.
Costa Alentejana
Oliveiras, vinhedos, vilas branquinhas e sonolentas que parecem perdidas no tempo. Se a fórmula alentejana por si só já é encantadora, imagine acrescentar um belo litoral à equação? E bota belo nisso: o município de Grândola, a cerca de 120 quilômetros de Lisboa, onde começa a costa do Alentejo, detém o título de terceiro maior areal do mundo: são 45 quilômetros ininterruptos de lindas praias, muitas vezes escoltadas por dunas e falésias, desde Tróia até Melides, cidadezinha que ficou famosa por ser o refúgio do famoso estilista francês de sapatos Christian Louboutin (ali, uma bela maneira de explorar a sequência de praias é fazendo um passeio a cavalo). Pelo meio fica a Comporta, a beira-mar mais cool e badalada do país, um pequeno aglomerado de lojas cheias de charme, bons restaurantes e hotéis design que virou reduto do jet-set – Madonna inclusive, já flagrada inúmeras vezes em cavalgadas na praia ou em meditação e ioga nos arredores dos campos de arroz verdinhos que cercam a vila.
Seguindo pela costa, não muito longe tem início o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, uma estreita faixa que se estende por exatos 110 quilômetros de norte a sul às franjas do Atlântico, entre as praias de São Torpes, em Sines, e Burgau, na Vila do Bispo, já no Algarve. Aqui o campo encontra o mar num dos melhores segredos da Península Ibérica. São Torpes, o ponto de partida, é uma praia peculiar. Suas águas são famosas por serem as mais quentes de Portugal, mas isso não se deve a nenhum fenômeno natural misterioso. A razão para tal feito é, na verdade, um demérito da paisagem: sua proximidade com uma usina de energia elétrica, que usa suas águas para esfriar as turbinas. Vale concentrar os olhos na linha do horizonte e aproveitar os raros momentos de águas a 30ºC na Europa.
Os 11 quilômetros que a separam da encantadora Porto Covo pela estradinha M-1109 se debruçam sobre um dos trechos mais bonitos da região, com praias idílicas esculpidas por rochas (e uma curiosa fazendinha de pôneis e avestruzes que virou uma espécie de atração turística local para quem viaja com crianças). Antes de chegar à vila de pouco mais de mil habitantes, vale conhecer com calma pelo menos duas delas: a pequenina Pouso da Águia, que forma piscinas naturais na maré baixa e se comunica, através de grutas, com enseadas vizinhas; e Samouqueira, uma sucessão de prainhas protegidas por falésias. Para chegar em ambas é preciso descer escadarias junto às encostas. A recompensa? Baías protegidas do vento e a sensação de estar isolado do mundo…
Porto Covo tem poucas ruas e praças, uma linda igrejinha e uma sucessão de cafés e restaurantes deliciosos nos fins de tarde. A vida ali passa sem pressa – e se faz de prazeres simples, como um singelo sorvete ao pôr-do-sol. No seu limite sul, passa-se pela Ilha do Pessegueiro e, menos de 10 minutos de viagem depois, chega-se a Vila Nova de Milfontes, outro dos destinos queridinhos da região, com praias de rio e mar. Mas a Praia do Malhão, 4 quilômetros antes do centro, justifica o desvio, com suas dunas selvagens e areal extenso.
Zambujeira do Mar, que aparece na sequência, é um encanto de vila onde o emaranhado de casinhas brancas está estrategicamente posicionado de camarote para a imensidão azul, no alto do penhasco, com umas quantas ruas, fontes, portas e janelas coloridas, uma igrejinha Matriz pintada em azul e branco. Casa de cerca de 600 habitantes, a vila é um oásis de tranquilidade que só dá uma trégua anualmente no início do mês de agosto, quando ela se transforma no palco de um dos mais badalados e tradicionais festivais de verão de Portugal: o Sudoeste, que traz bandas famosas do mundo inteiro para este cantinho ibérico mal pontilhado no mapa. O grand finale da região atende pelo nome de Odeceixe, já na fronteira com o Algarve. Não bastasse a vila no topo da falésia ser fofíssima, a praia é também linda: uma língua de areia entre o mar cor de esmeralda e as águas transparentes da Ribeira de Seixe.
ONDE FICAR
Nos últimos anos, Portugal viu nascer hotéis ultra confortáveis, que colecionam estrelas e diárias polpudas de três dígitos, como jamais em sua história – e o Alentejo foi palco de muitos deles. Só a Comporta tem dois – um deles, a Quinta da Comporta, acabou de abrir as portas e é um charme, com décor em tons neutros que privilegiam os materiais que abundam na região: madeira, vime, vidro, pedra. Sua piscina, com vista para o arrozal, é um espetáculo! Além de um ótimo restaurante que serve pratos de inspiração mediterrânea, tem um spa que tem uma série de tratamentos à base de arroz (nada mais a cara da região, cercada de campos verdinhos!). O outro já tem fama que ultrapassa as fronteiras do país e é considerado um dos melhores da Terrinha: o Sublime Comporta. Alguns quartos têm piscinas particulares incríveis, e a grande novidade são os bangalôs construídos em cima de uma piscina orgânica, tratada sem produtos químicos, com águas cor de esmeralda. Outras opções interessantes na região pertencem ao grupo Silent Living: Casas na Areia, um conjunto de quatro casas boutique, e Cabanas no Rio, lindos caixotes de madeira à beira do Rio Sado, ambos projetados por Miguel Aires Mateus, um dos maiores arquitetos portugueses dos dias de hoje.
A lista dos superhotéis alentejanos inclui o charmoso São Lourenço do Barrocal, pertinho de Monsaraz, uma antiga vilinha abandonada de casas brancas, com janelas e portas azuis, imersa numa imensidão de 7,8 milhões de metros quadrados de oliveiras, sobreiros, azinheiras. O projeto de recuperação foi minucioso e cada cantinho respira história. Do ofurô do spa a vista descansa sobre os vinhedos, que dá origem a ótimos tintos. Seu restaurante é um dos melhores da região. Outros três wine hotels incríveis são o L’And Vineyards, em Montemor-o-novo, dono de um spa Caudalíe, um restaurante estrelado pelo Guia Michelin e interiores com a assinatura do Studio MK27, liderado pelo brasileiro Márcio Kogan; o Torre de Palma, já no Alto Alentejo, um oásis cercado de vinhedos que faz parte da grife Design Hotels; e a Herdade da Malhadinha Nova, cerca de 30 quilômetros ao sul de Beja, um autêntico monte alentejano recheado de surpresas – podem ser os móveis assinados por Charles Eames ou Philippe Stack, os workshops de culinária, as delícias do restaurante gourmet… além dos vinhos, claro, que têm rótulos superespeciais desenhados pelas crianças da família dos proprietários (não deixe de provar o branco Monte da Peceguina!).
As opções de hospedagem no Alentejo são quase infinitas – afinal, trata-se da maior região do país, que ocupa um terço de seu território. As Pousadas da região, segmento do grupo Pestana que ocupa construções históricas muitas vezes seculares, estão entre as melhores de Portugal – e são ótimas alternativas em destinos como Évora, Arraiolos, Estremoz, Marvão, Crato… Sendo um dos principais hubs da região, Évora concentra ainda outras tantas boas opções, caso do Convento do Espinheiro, do Tivoli Évora Ecoresort e, numa versão mais budget, do The Noble House. Em Estremoz, o Pateo dos Solares, um casarão histórico de três andares com uma gostosa piscina, tem uma ótima relação custo-benefício.
No Alto Alentejo, a Herdade da Rocha tem quartos gostosos que se abrem para bonitas oliveiras e para os vinhedos. A piscina é providencial para os dias mais quentes e a propriedade, que tem uma linda vinícola, uma delícia de ser desbravada sem pressa em caminhadas ou passeios de bicicleta. Aos pés da aldeia de Marvão, a guesthouse Train Spot ocupa a construção desativada da linda estação de trens Marvão-Beirã, do século 19. Os quartos ficam no que era o antigo refeitório. Um avarandado com bonitos painéis de azulejos se abre para as linhas de ferro. A sala de estar, com lareira, livros e jogos, é um convite a não arredar os pés dali.Por fim, na região litorânea que pertence ao Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina estão algumas das hospedagens mais charmosas de todo o Alentejo. É o caso da Herdade do Reguenguinho, em Cercal, a 20 minutos de Vila Nova de Milfontes. Os quartos podem estar instalados na casa principal, cheia de cor, ou em bangalôs erguidos sobre palafitas com total privacidade. A piscina tem infinite view para o campo recheado de oliveiras. Pertinho dali, em São Luís, fica uma boa alternativa para amantes de cavalos: o Naturarte Campo. Estrategicamente localizadas a 5 minutos de Zambujeira do Mar, as Casas da Lupa reúnem o melhor dos mundos: quartos branquinhos com décor caprichado, café da manhã servido até 13h e mimos como aulas de ioga, passeios a cavalo e cestas de piquenique para os hóspedes mediante solicitação. Algumas suítes têm piscinas particulares.
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ONDE COMER
O Alentejo é famoso por ser a região onde melhor se come em Portugal. Não espere modernices ou estrelas (até tem!), mas comida bem feita, bem servida, com cara de comida de vó. A seguir, recomendamos alguns endereços espalhados por toda a região, mas a melhor dica é seguir o faro onde estiver. Uma coisa é certa: dificilmente a cozinha vai decepcionar.
Há quem viaje até Évora só para provar as receitas do tradicionalíssimo Fialho, uma verdadeira ode aos sabores alentejanos. Para começar, a vitrine da entrada está recheada de delícias que vão de saladinha de polvo a tenras empadas. A sopa de cação é deliciosa, assim como a perdiz à moda do Convento da Cartuxa. Outras duas instituições locais que preparam receitas bem portuguesas são a aclamadíssima Tasquinha do Oliveira e o Café Alentejo – prepare-se para provar bons bacalhaus, folhados, arroz de pato… Para criações mais rebuscadas, a pedida é viajar até Montemor-o-Novo para provar as receitas do único restaurante alentejano dono de uma estrela Michelin: o do L’And Vineyards, a cerca de meia hora de distância. Ali, o chef José Miguel Tapadejo revela o sotaque de sua experiência escandinava junto a ingredientes que são a cara do país em pratos que parecem obras de arte. Uma ressalva: quando o restaurante foi premiado pelo Guia Michelin, o chef era outro, Miguel Laffan, hoje no Estoril. Entretanto, o restaurante continua apostando na manutenção da estrela com uma cozinha muito bem conduzida.
Em Estremoz, uma brasileira de Petrópolis é um dos nomes por trás de uma das casas mais queridinhas da vila: a ótima Mercearia Gadanha, um mix de adega, restaurante e delicatessen. Ali, são famosas as bochechas de porco preto, que derretem na boca, o polvo grelhado, o tártaro de atum. Antes, porém, peça um prato de presunto cru, delicioso! Outra boa aposta local é a Cadeia Quinhentista, dona de um terraço que descortina um belo visual dos arredores. Do menu, são famosos os peixinhos da horta (vagem empanada, um clássico português!) e o bacalhau dourado. Vale escapar pelos arredores da cidade (cerca de meia hora) até o hotel Torre de Palma para provar as receitas moderninhas de seu restaurante Basilii, reinterpretações de clássicos portugueses com ingredientes especiais. A presa de porco preto com shitake e migas de batata doce é especial. Para acompanhar, peça o vinho da casa (o hotel é também vinícola).
Na região de Monsaraz, vale desviar o caminho independentemente da direção a seguir para provar as receitas preparadas sob o comando do chef Carlos Teixeira no restaurante da Herdade do Esporão. Ali, em um ambiente moderninho, de ares nórdicos (a despeito dos séculos e séculos de tradição da propriedade), são servidas criações surpreendentes e ao mesmo tempo descomplicadas, que mudam de acordo com os ingredientes mais frescos do mercado. Não muito longe dali fica mais um restaurante imperdível: o do hotel São Lourenço do Barrocal, onde muitas das delícias vêm da própria horta e de fornecedores dos arredores. É o caso, por exemplo, do saborosíssimo arroz de legumes ou das costeletas de cordeiro ao molho de mostarda, acompanhadas de batatas coradas e um delicado purê de marmelo.
Já mais ao sul da região, a Quinta do Quetzal amplia a experiência gastronômica para o mundo das artes, o que faz com que a visita à propriedade seja um programaço. Em um moderno edifício cercado pelos vinhedos da região de Vidigueira, a cerca de 30 quilômetros de Beja, seus donos holandeses organizam exposições de arte contemporânea do espólio particular. No menu, entradas como os raviólis de perdiz e o camarão frito com alho e pimentas da horta particular; pratos como o magret de pato com purê de aipo e frutos vermelhos e o cremoso risoto de abóbora e cogumelos; e sobremesas como o brownie de chocolate escoltado por sorvete de banana. Há uma adega na propriedade.
Na região do Alto Alentejo, merece destaque o restaurante Sal, Alho e Etc, em Portalegre – mais típico impossível, com suas toalhas de mesa em xadrez de vermelho e branco e ares de mercearia. As estrelas do cardápio são os pratos à base da carne de porco preto de bolota, animal típico da região que se alimenta do fruto do sobreiro (o bom e velho pata negra criado logo ali, depois da fronteira espanhola) – vale, inclusive, começar com um belo prato de presunto cru fatiado na hora. O grand finale fica por conta de uma sobremesa que é a cara do Alentejo: a sericaia, um bolo conventual de massa leve e molhadinha, servido com as famosas ameixas de Elvas (que, de tão especiais, mereceram o selo DOP, de Denominação de Origem Protegida!). Outra boa opção na cidade é o Tombalobos, onde também brilham os embutidos da região, os pratos de porco e outras especialidades como o bacalhau gratinado com aspargos.
Em Marvão, um dos melhores restaurantes é o Varanda do Alentejo, que serve receitas tipicamente portuguesas, caso do ensopado de cordeiro. Nos arredores de Crato, o restaurante da Pousada Mosteiro do Crato é uma boa pedida para clássicos (pense em favas com chouriço ou plumas de porco preto). Mas a melhor surpresa da região fica na Herdade da Rocha, que serve delicadezas como as bolinhas de alheira cobertas com gergelim branco e preto, com mel e nozes, ou os bifes de carne maturada com migas de aspargos selvagens. Para acompanhar, peça o tinto Couto Saramago Selection, fabricado na propriedade (se preferir algo mais fresco e leve, o rosé é uma boa opção).
Junto ao Atlântico, na Costa Alentejana, o campo encontra o mar também à mesa. Na Comporta, são ótimas pedidas pé na areia o Café Comporta, na praia de mesmo nome, e o Sal, na Praia do Pego. Prefere algo mais gourmet? O Cavalariça, no coração da vila, é um charme e serve receitas deliciosas, criativas e muito bem executadas, que podem ser antecipadas por ótimos coquetéis preparadas por um barman afiado. Pense em combinados de dourada, arroz negro e physalis; porco ibérico, maçã e cebola assada; e brioche, parfait de galinha e laranja. O Museu do Arroz é, há anos, um clássico local, instalado na antiga fábrica de descasque de arroz local – desnecessário dizer que os pratos à base de arroz são especiais. Há, ainda, os restaurantes dos melhores hotéis da região, sempre boas pedidas: o Sem Porta, de menu moderninho à base de ingredientes locais, e o Food Circle, exclusivo para 12 pessoas ao balcão, onde o fogo é o protagonista de um menu degustação que custa € 165 com bebidas, ficam no Sublime Comporta. Na Quinta da Comporta, a proposta é de sabores mediterrâneos.
Na Praia de São Torpes, nos arredores de Sines, de frente para o mar, o Trinca Espinhas tem um simpático interior decorado em branco e azul e serve bons pratos de peixes. Em Porto Covo, a estrela é o Zé Inácio, com bons grelhados – antes, porém, vale pedir a salada de polvo ou as amêijoas a Bulhão Pato. Em Vila Nova de Milfontes, duas casas disputam as preferências locais: Choupana, debruçado sobre a praia, onde a especialidade são os peixes na brasa; e a Tasca do Celso, no centrinho, que serve receitas com a açorda de camarões, os secretos de porco preto e a carne à alentejana.
DOCUMENTOS
Quem viaja para a Europa a turismo pode ficar até 90 dias sem necessidade de visto e precisa ter o passaporte válido por pelo menos seis meses. O grupo de países que integram o Espaço Schengen, do qual Portugal faz parte, exige, ainda, um seguro de viagem com cobertura de pelo menos € 30.000.
DINHEIRO
A moeda de Portugal é o Euro. Evite levar dólares ou outras moedas, pois as casas de câmbio já não são muito comuns (e costumam cobrar taxas salgadas). É possível sacar dinheiro da conta corrente no Brasil em moeda local nos caixas automáticos (chamados Multibanco), por uma pequena taxa – apenas certifique-se de que o seu cartão está habilitado para a função (pode ser necessário fazer desbloqueios ou os chamados “avisos de viagem”). Nem todos os estabelecimentos portugueses aceitam cartões internacionais, sejam eles de débito ou crédito. É comum só aceitarem os cartões bancários nacionais, especialmente nas cidades menores do interior. Na dúvida, vale ter sempre algum cash.
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