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Roteiro de 48 horas em Lima, a capital do Peru

Os próprios peruanos se surpreendem com a transformação da capital; siga nosso roteiro para conhecer o melhor da cidade

Por Fábio Vendrame
Atualizado em 19 jul 2021, 12h53 - Publicado em 2 Maio 2012, 13h04
Plaza de Armas, em Lima (John Coletti/Getty Images)
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Atualizado em fevereiro de 2019

Lima vem se reinventando nos últimos anos. Os próprios peruanos ainda se surpreendem com a transformação da capital de quase 9 milhões de habitantes. Antes opaca e ensimesmada, a cidade agora mostra outra cara: está mais colorida e radiante.

Aos poucos parece retomar a altivez dos tempos em que foi capital do Vice-Reino espanhol do Peru, quando era chamada de Cidade dos Reis e abastecia a Coroa com ouro e prata. Prova disso é a restauração do centro histórico, dominado por uma elegante Plaza de Armas, um dos mais belos conjuntos coloniais do continente. Eis o ponto de partida ideal para curtir 48 horas em Lima.

Dia 1

Comece o reconhecimento da cidade pelo Centro. O Monumento ao Almirante Miguel Grau, herói da Guerra do Pacífico, travada contra o Chile, demarca a região, declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1991. Esse título se deve muito ao fato de o coração da cidade ter sido desenhado por Francisco Pizarro, o mesmo que comandou o sequestro e assassinato do último imperador inca, desmantelando o maior império pré-colombiano. Diz-se que o capitão espanhol se inspirou num tabuleiro de xadrez para planificar a área.

Lima, Peru
Praça Maior, localizada em meio ao Centro Histórico de Lima e cercada pelo Palácio do Governo e pela Catedral da cidade peruana (Frankvanden Bergh/iStock)

Como costuma ocorrer em países de colonização espanhola, o centro administrativo e religioso concentra-se na Plaza de Armas, ou Praça Maior. Ali, chama a atenção o estilo neoclássico da Catedral de Lima, três vezes construída em decorrência de terremotos. Diante dela, uma fonte jorra pisco em datas festivas. Ao lado, ficam os palácios do governo. O projeto de remodelação do centro restaurou a maior parte dos edifícios do entorno e ainda devolveu a tranquilidade aos limenhos, que há muito haviam deixado de frequentar a região. Nova iluminação e reforço no policiamento também contribuíram decisivamente nesse resgate.

Catedral de Lima, Peru
Fachada da Catedral de Lima (David Stanley/Reprodução)

Também nos arredores da Plaza San Martín as construções estão impecáveis e relembram as primeiras décadas do século passado, quando a arquitetura peruana buscava inspiração na francesa. No centro da praça reluz a estátua equestre do general José de San Martín, artífice, ao lado de Simón Bolívar, da independência do Peru, decretada a 28 de junho de 1828. Ali perto, aliás, a história do país é contada no Museu do Banco Central.

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Há outros acervos dignos de nota, e de visita, tal como o Museu do Ouro Miguel Mujica Gallo, que possui um extenso acervo de peças de ouro, prata e pedras preciosas reunidos em saques durante a colonização. Mas nenhum exibe o frescor da Casa da Gastronomia Peruana, inaugurada em 2011 e que ocupa parte do histórico prédio dos Correios, de 1860. O museu celebra a culinária local e sua identidade cultural, numa aula de lamber os beiços.

Com o estômago roncando, siga para o Restaurante e Bar Cordano, o mais antigo em funcionamento na capital. Aberta em 1905, a casa mantém a mesma aura das antigas e serve lanches e pratos simples e saborosos. Aproveite para provar a butifarra, substancioso sanduíche de jamón e salsa criolla, à base de cebola roxa e pimenta. Experimente também a chicha morada, o adocicado suco de milho roxo cultuado pelos nativos. Essa clássica combinação peruana tem um excelente custo-benefício num ambiente propício a jogar conversa fora, inclusive com os atenciosos donos, de origem italiana.

Agora, tome o rumo do Monastério de São Francisco enquanto faz a digestão. A construção, do século 17, esconde impressionantes catacumbas, resquícios do primeiro cemitério municipal de Lima. Arqueólogos contabilizaram a existência de cerca de 75 mil ossadas ali. Tombado pela Unesco, o conjunto arquitetônico colonial contempla também a Iglesia de La Soledad e a Capilla Del Milagro. O local abriga um sem-fim de obras de arte sacras, azulejos sevilhanos, pinturas… uma visita indispensável.

Igreja e monastério de San Francisco, em Lima, no Peru
Igreja e monastério de San Francisco, em Lima, no Peru (Thinkstock/Thinkstock)

Lima ainda não conta com metrô, portanto deslocamentos mais longos devem ser feitos de ônibus, táxi ou a bordo dos populares tuc-tucs. Uma boa referência é a Avenida Arequipa, que corta a cidade de norte a sul e interliga os principais bairros. Caminho fácil de ser seguido.

Eleja Miraflores como base. Ali concentram-se as melhores opções de hospedagem, ótimos restaurantes, muitos bares e cafés. Boêmio e cultural, o bairro é o cenário favorito dos romances de Mario Vargas Llosa, para citar apenas o autor mais reconhecido da rica escola literária peruana. Há pouco a cidade passou a oferecer um tour literário inspirado nos livros do prêmio Nobel.

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Bairro de Miraflores, em Lima, conhecido por suas praias, jardins e shoppings
Bairro de Miraflores, em Lima, conhecido por suas praias, jardins e shoppings (iStockphoto/iStock)

Entre outros pontos de interesse, o roteiro inclui o Parque Salazar, atualmente conhecido como Larcomar. Trata-se de um amplo shopping de arquitetura arrojada, de frente para o mar, que reúne desde renomadas butiques internacionais a lojas de artesanato de alta qualidade, roupas de alpaca, bijuterias de prata e, claro, mais e mais opções gastronômicas. Integrado ao Malecón, o Larcomar também ajuda os turistas no quesito serviços, já que ali você encontra bancos e farmácias.

Siga pelo calçadão à beira-mar limenho, sinta a brisa do Pacífico no rosto, caminhe até a Plaza Del Amor. Inspirada nos traços do Parque Güell, clássico da Barcelona de Gaudí, a praça é palco de concursos de beijo no dia dos namorados (14 de fevereiro) e um belo cenário para curtir o fim de tarde. Não por acaso, no centro do parque fica a escultura “El Beso” (O beijo), de Victor Delfín. Quando a noite cair, deixe-se levar pelos bulevares miraflorinos, escolha um dentre seus muitos restaurantes e relaxe.

Plaza del Amor, Miraflores, Lima, Peru
A Plaza del Amor, bairro de Miraflores, em Lima, capital do Peru (Fábio Vendrame/Reprodução)

Se quiser mais animação, tome um táxi rumo a Barranco, bairro com uma das noites mais badaladas do continente. Acredite. Lá você vai entender o que significa “salir de boleto”, gíria local para “cair na balada”, e ainda vai aprender a conjugar o verbo “piscotear”, derivado da bebida nacional peruana, o pisco.

Dia 2

Recuperado da badalação da noite anterior, reserve a manhã do segundo dia de estada na capital peruana para se surpreender com uma de suas características mais marcantes e, curiosamente, menos divulgadas. Semelhante ao que ocorre na Cidade do México, para ficar numa comparação latino-americana, Lima tem um grande número de sítios arqueológicos escavados em meio à urbe.

O mais emblemático é a Huaca Pucllana, extenso centro cerimonial da cultura lima, cujo maior assentamento teve lugar em Pachacamac, a 40 quilômetros da capital. No coração de Miraflores, seus templos foram feitos há séculos em barro e adobe e possuem bases piramidais. Como praticamente nunca chove em Lima, cerca de 30% de suas construções originais permanecem intactas.

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Huaca Pucllana, Lima, Peru
Os prédios modernos de Miraflores (ao fundo) colorem o horizonte da grande pirâmide de Huaca Pucllana (Fábio Vendrame/Reprodução)

Depois de descobrir que Lima tem muita história para contar, é hora de caprichar na escolha de um restaurante à altura do seu apetite. Nesse aspecto a metrópole revela sua melhor vocação nos dias de hoje. Capitaneada por Gastón Acurio, embaixador informal da gastronomia peruana no mundo, uma nova geração de chefs emana da filial limenha da centenária Cordon Bleu francesa.

Pois é. Não tenha pudores em escolher entre o Astrid & Gaston, considerado o melhor do pedaço, a oficina de cozinha de Ricardo Cavenecia em exibição no Los Cavenecia, o La Red ou Señorío de Sulco, onde você ainda pode participar de uma aula de preparo dos pratos típicos. Todos eles são expoentes da alta gastronomia contemporânea do Peru. Endereços em que se cultuam ceviches, paltas, causas, lomos saltados, suspiros… fique à vontade. A arte das caçarolas é levada tão a sério naquelas bandas que Lima abriga atualmente o maior festival do gênero na América do Sul, o Mistura, que reúne os melhores mestres-cucas do mundo a cada setembro.

Praça de Miraflores, à beira do Pacífico
Praça de Miraflores, à beira do Pacífico (Reprodução/Reprodução)

Ao entardecer volte a Miraflores para uma experiência inusitada. Perto da Plaza del Amor, parapentes colorem o céu de Lima. De cara para o Pacífico. O voo duplo não requer prática ou habilidade. Com a coragem, sim, é bom estar em dia. Vento no rosto, batimentos cardíacos acelerados. Fotos e mais fotos. Sensacional.

À noite, o Parque de La Reserva é o programa favorito de muitas famílias – e turistas, claro. Nele está o Circuito das Águas, com 13 fontes iluminadas, uma delas com jatos de 80 metros de altura. As fontes formam diversos arcos cheios de luz, e os visitantes passeiam por dentro deles. Impossível não se divertir.

Parque la Reserva, em Lima, Peru
Parque la Reserva, em Lima, Peru (PromPeru/Divulgação)

De lá siga de volta a Barranco, sim, o bairro da balada. Mas, antes de se perder de bar em bar, procure a Ponte dos Suspiros, que une as ruas Ayacucho e Hermita. Suspensa a oito metros do chão, a passarela tem 44 metros de extensão. Dizem que quem a atravessa num só fôlego tem um desejo realizado. Tente se lembrar disso, prenda a respiração e vá em frente. Depois, bem, depois você já pode voltar a praticar o verbo “piscotear”.

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