Sem véu e com botox: um olhar acerca da vaidade feminina no Irã
Em um dos países mais fechados do mundo, as mulheres encontram suas maneiras de burlar as regras
Estou obcecada pelas mulheres iranianas. Passo o dia tentando fotografá-las, listando mentalmente seus diferentes estilos. Estamos no inverno, mas fico imaginando a inhaca que deve ser debaixo de uma burca no verão. Prefiro falar das sem burca.
As mulheres sem burca usam hijab, o véu ou lenço na cabeça, item obrigatório. Elas vestem calça jeans, tênis verde-limão, usam óculos de sol e mostram a franja, frequentemente pintada de louro.
Vi num filme que algumas franjas são apliques grampeados no cabelo. Quando a franja é natural, até deixam aparecer toda a parte de cima da cabeça. Um acinte.
Essas periguetes são as minhas favoritas. Adotei o estilo e prendo o meu lenço no coque, o que dá um quê de tomara-que-caia incrível.
As periguetes iranianas são maravilhosas. Em geral magras, têm pele lisa, sobrancelhas grossas e lábios carnudos. O nariz possui duas variações: há a napa grande, natural, linda, e a operada, arrebitada, artificial. Muitas exibem esparadrapos da rinoplastia. É sinal de status ostentar um narizinho.
As que não têm preenchimento nos lábios, passam gloss vermelho, borrando de propósito o contorno para fazê-los maiores.
Homem ou mulher, todos devem obedecer às leis. A radical diferença é que, por se tratar de uma república islâmica, o Alcorão dita as regras.
Aqui, como em praticamente todo o planeta, quem manda é o homem. A mulher precisa de permissão do marido para viajar. No ônibus, eles vão na parte da frente, e elas, nos bancos de trás.
Pelo que notei, acredito que, sempre que as iranianas não quiserem se submeter a alguma regra, terão condições de protestar. Prova disso ocorreu em Teerã quando eu e uma diplomata brasileira pitávamos narguilé, proibido às mulheres.
Algumas clientes questionaram o dono do estabelecimento por que nós podíamos e elas não. O proprietário respondeu que nós éramos estrangeiras e, então, se resignaram.
Mas, na minha fantasia, elas saíram dali e foram juntas para a casa de uma delas, cujo marido estava viajando, pegaram um narguilé e fizeram a maior farra, dançando e rindo com os lenços caídos no chão.
Nara Alves é jornalista e acaba de lançar o livro 66 Histórias de uma Volta ao Mundo (editora O Viajante) |
Texto publicado na edição 256 da revista Viagem e Turismo (fevereiro/2017)