A sua saudade de viajar é tanta a ponto de embarcar em um voo para… lugar nenhum? Em tempos de coronavírus, fronteiras fechadas e crise das companhias aéreas, voos que começam e terminam no mesmo destino se tornaram uma maneira de matar a vontade de quem não vê a hora de pirulitar pelos ares.
Recentemente, aéreas começaram a apostar nos chamados “voos cênicos”, em uma tentativa de amenizar a crise financeira do setor. No ar por algumas horas, a experiência junta a contemplação das paisagens locais com outras atividades a bordo – como degustação de comidas típicas e gincanas, a depender do voo.
A moda dos voos “sem destino” está pegando especialmente na Ásia e na Austrália. A companhia EVA Air, uma das pioneiras nesse estilo de viagem, lotou todos os 309 assentos do seu jato temático da Hello Kitty no começo de agosto em Taiwan. Em Brunei, a Royal Brunei Airlines já realizou cinco viagens de uma hora e meia no estilo “jante e voe”, enquanto a japonesa All Nipon Airways providenciou uma “experiência de resort havaiano” para mais de 300 passageiros no mês passado.
Mas nenhum dos “voos a lugar nenhum” deu tanto o que falar quanto o da aérea australiana Qantas. Na quinta-feira (17), os 134 bilhetes do voo cênico da companhia esgotaram em impressionantes 10 minutos. Durante as sete horas em que estará no ar, os passageiros poderão apreciar de cima lugares icônicos de toda a Austrália, como a Grande Barreira de Corais, a praia de Bondi, as Ilhas Whitsunday, a Baía de Sydney e até a região do Outback.
A viagem acontecerá em um Dreamliner B787, conhecido por ter uma das maiores janelas do setor, o que é perfeito para uma viagem panorâmica. O preço dos bilhetes, divididos entre as classes econômica e executiva, oscilavam de 747 até 3.787 dólares australianos (cerca de 3 mil e 14.500 mil reais). O voo acontecerá no dia 10 de outubro, saindo de Sydney, e a Qantas ainda prometeu a presença de uma celebridade-surpresa para ser anfitriã a bordo.
Apesar de movimentar o debilitado setor aéreo e ter alta procura entre viajantes, a novidade não ficou isenta de críticas. Ambientalistas problematizaram o uso desnecessário de combustível e a emissão de poluentes, como o dióxido de carbono, durante os voos sem destino algum. Para o New York Times, a Qantas disse que comprou compensações de carbono (uma iniciativa que junta recursos para reduzir, ou pelo menos equilibrar, os índices de carbono na atmosfera) para aliviar o impacto do seu voo de sete horas. Já a Royal Brunei Airlines afirmou que o modelo Airbus A320neo que usará é menos poluente do que outras aeronaves.