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Palm Beach: o lado luxuoso e quase europeu da Flórida

Playground de bilionários, o destino coleciona heranças da Gilded Age, antiquários, praias e um traçado de ruas delicioso para se percorrer a pé

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 11 Maio 2023, 12h57 - Publicado em 20 abr 2023, 18h04
Flagler Museum, Palm Beach, Flórida, Estados Unidos
O tropical abre alas para as colunas dóricas do imperdível Flagler Museum (The Palm Beaches/Divulgação)
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Quando o assunto é luxo, não há destino na Flórida que se destaque mais do que Palm Beach. Espremida entre o mar e o Lake Worth, a vila é composta por prédios que trazem um pedaço da Europa para os Estados Unidos. São hotéis cinco-estrelas, lojas de grife, mansões de magnatas, antiquários maravilhosos. Mas não, você não precisa ser um bilionário para curtir o destino. Admirar a arquitetura, as vitrines, as mansões, andar sem rumo e estender a toalha na praia de areia branquinha não custa um dólar. Vale desembolsar para conhecer o imperdível Flagler Museum, antiga casa que pertenceu ao milionário responsável por colocar a Flórida no mapa antes mesmo de Walt Disney. Essa história e várias outras eu conto a seguir.

Uma das figuras mais proeminentes da Gilded Age, Henry Flagler beirava os 50 anos e já tinha feito a sua fortuna com grãos, destilaria, sal e petróleo quando enxergou um enorme potencial turístico na Flórida, na época tida apenas como um grande pântano esquecido em um dos pedaços mais pobres do país. Com o objetivo de transformar a costa oeste do estado em uma espécie de riviera americana, ele construiu uma ferrovia que ia de Jacksonville a Key West e inaugurou ao longo do caminho uma série de resorts luxuosos com piscinas e quadras de tênis.

Dois deles ficavam em Palm Beach, que rapidamente se consolidou como o destino de férias da alta sociedade da Gilded Age, a conhecida Era Dourada que abrange o final do século 19 e que foi marcada, por uma lado, pela ascensão financeira de uma elite e, por outro, por um grande abismo social. O primeiro hotel a ser inaugurado, em 1894, foi o Royal Poinciana. Com 900 quartos, ele chegou a ser a maior estrutura de madeira do mundo e era descrito como uma “cidade sob um único teto”, mas acabou entrando em decadência e foi demolido depois da Crise de 1929. 

Já o The Breakers, construído em 1896, resistiu a dois incêndios e continua existindo até hoje, ainda sob o comando dos herdeiros da família Flagler. A propriedade de 538 quartos, que já hospedou presidentes dos Estados Unidos e membros da realeza europeia, tem suítes de frente para o mar, uma dezena de restaurantes, piscina, serviço de praia, spa, quadras de tênis e um dos campos de golfe mais antigos da Flórida. As diárias não saem por menos de US$ 900, uma mostra de que Henry Flagler deixou um legado de luxo em Palm Beach.

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FLAGLER MUSEUM

Ainda que seja uma das construções mais icônicas de Palm Beach, o The Breakers passou por reformas significativas ao longo do tempo. Para ter uma visão mais precisa de como vivia a elite da Gilded Age, nada melhor do que conhecer Whitehall, a casa de temporada que Henry Flagler construiu à beira do Lake Worth, a pouco mais de um quilômetro do hotel, como um presente de casamento para sua terceira esposa, Mary Lily Kenan. Quando foi concluída em 1902, o jornal nova-iorquino New York Herald descreveu a mansão como sendo “mais maravilhosa do que qualquer lugar na Europa, mais grandiosa e magnífica que qualquer outra habitação no mundo”. A afirmação pode ter sido um tanto exagerada, mas diz muito sobre aquela época.

Aqui, vale contextualizar. Do final da Guerra de Secessão até a Crise de 1929, os Estados Unidos viveram tempos de importantes avanços tecnológicos em que grandes nomes da indústria e do comércio, incluindo Henry Flagler, enriqueceram absurdamente — muito às custas, é claro, da exploração da classe trabalhadora, como aborda o livro de Mark Twain que cunhou o termo “Gilded Age”. Talvez como uma forma de dar sentido à própria existência e à própria fortuna, se instalou entre esses novos bilionários a mentalidade de que eles teriam a missão de elevar a cultura ocidental à glória máxima o que para eles significava incorporar a tradição das grandes civilizações europeias às novas tecnologias que estavam surgindo na época.

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Whitehall traduz esse ideal com precisão. A mansão de 75 cômodos foi projetada pelos arquitetos John Carrère e Thomas Hastings, os mesmos responsáveis pela New York Public Library e pelo Senado dos Estados Unidos, e segue o estilo francês Beaux-Arts, uma mistura de neoclássico, gótico e renascentista. Se não fosse a fileira de coqueiros que conduz do portão de ferro à entrada principal, eu poderia ter esquecido que estava na Flórida ao encarar as seis altíssimas colunas dóricas que compõem a fachada da mansão, hoje convertida no Flagler Museum

Uma vez dentro da casa, a sensação era a de ter sido transportada de vez para a Europa. Com algumas peculiaridades, porém. Transitar entre os cômodos é como viajar por diferentes países e estilos arquitetônicos, reunidos sob um único teto. Depois de percorrer os 427m² do hall de entrada, que era o maior cômodo dentro de uma casa privativa durante a Gilded Age, passei pela biblioteca decorada ao estilo italiano renascentista, pela sala de música à la segundo império francês, pela sala de bilhar neogótica, pela sala de café da manhã jacobina, pela sala de jantar ao estilo francês renascentista, pela sala de desenho à la Luís XVI… 

Flagler Museum, Palm Beach, Flórida, Estados Unidos
O Grand Hall era o maior cômodo dentro de uma casa privativa durante a Gilded Age (Flagler Museum/Divulgação)

As diferenças entre cada ambiente são palpáveis, mesmo para os menos entendidos de arte e arquitetura, o que não torna a experiência menos deslumbrante. Alguns cômodos em específico também são inspirações diretas de outros ambientes existentes no Velho Continente, caso do salão de baile parecidíssimo com a Galeria dos Espelhos de Versalhes. A referência não era segredo para ninguém e Flagler inclusive promovia ali um baile chamado de “Powdered Wig Ball”, em que todos os convidados vestiam perucas brancas e trajes da época de Luís XV.

É mais difícil de perceber, por outro lado, que os mobiliários e objetos escolhidos por Flagler para decorar a casa são em sua maioria reproduções de estilos históricos e raramente antiguidades de fato. Além disso, inovações da época, como vigas de aço e tetos de gesso moldado, permitiram que Whitehall fosse construída em apenas 18 meses, ao mesmo tempo em que garantiram que as estruturas tivessem uma aparência muito mais antiga e totalmente artesanal. Ou seja, muito do que você é fake, mas dificilmente você vai se dar conta disso sozinho (a não ser, é claro, que seja um especialista no assunto).

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Flagler Museum, Palm Beach, Flórida, Estados Unidos
Tudo fake: a sala de jantar foi projetada em estilo francês renascentista (Flagler Museum/Divulgação)

Por fim, a mansão foi descrita pelo New York Herald como sendo “mais maravilhosa do que qualquer lugar na Europa” em grande parte porque era munida de tudo que havia de mais tecnológico na época: telefone, luz elétrica e água encanada. Isso fica perceptível principalmente no segundo andar da casa, onde estão os quartos e os banheiros, não muito diferentes dos que temos hoje em dia.

A visita termina no Flagler Kenan Pavilion, anexo de mais de 700m² construído em 2005 seguindo o mesmo estilo Beaux-Arts da mansão para abrigar o vagão de trem privativo de Henry Flagler. Os visitantes podem entrar no vagão de 1886, munido de escritório, dormitório, banheiro com chuveiro e sala de estar para ter mais um gostinho de como eram as férias e as viagens da elite da Gilded Age. 

Flagler Museum, Palm Beach, Flórida, Estados Unidos
O anexo Flagler Kenan Pavilion abriga o vagão de trem particular do magnata (The Palm Beaches/Divulgação)
Serviço

O Flagler Museum funciona de terça-feira a sábado, das 10h às 17h, e aos domingos, das 12h às 17h. O ingresso, que pode ser comprado pela internet ou direto na bilheteria, custa US$ 26 e dá direito a um audioguia (disponível inclusive em português). Também é possível fazer um dos tours guiados (em inglês) pelo primeiro andar da mansão, que acontecem de terça-feira a sábado, às 11h, 12h30 e 14h, e aos domingos, às 13h. Há um limite de 35 visitantes por tour. Não é permitido entrar no museu com bolsas e mochilas grandes e não há lockers para guardar objetos pessoais.

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-> Arredores do Flagler Museum

Saindo do Flagler Museum, faça como os milionários que moram em Palm Beach e dê uma caminhada pela Lake Trail, percurso de quase dez quilômetros à beira do Lake Worth. Você verá mansões de um lado e yachts de outro, além de uma porção de ciclistas, pessoas levando seus cachorros para passear e mães empurrando carrinhos de bebê. 

Também ficam na região três igrejas relevantes. A neogótica Bethesda-by-the-sea é a mais antiga de Palm Beach e sediou os casamentos de Donald e Melania Trump e de Michael Jordan e Yvette Pietro. A Paramount Church recebe esse nome porque está instalada no antigo Paramount Theater, que transmitiu filmes mudos e os primeiros falados na década de 1930. Hoje, a igreja realiza algumas exibições de filmes clássicos em homenagem a esse passado cinéfilo.

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Já a St Edward Catholic Church foi construída no estilo renascentista espanhol e costumava ser frequentada pela família Kennedy: uma placa escrito “President John F. Kennedy” sinaliza o banco onde ele costumava se sentar durante as missas. Não muito longe dali fica a Green’s Pharmacy, outro endereço queridinho de JFK que desde 1938 funciona como farmácia e como um clássico diner americano.

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St Edward Catholic Church, Palm Beach, Flórida, Estados Unidos
A St Edward Catholic Church poderia muito bem estar em uma ex-colônia espanhola na América Latina (//Divulgação)

WORTH AVENUE

O Flagler Museum vale, por si só, a ida até Palm Beach. Mas há um outro capítulo importante da história da Flórida escrito cerca de dois quilômetros ao sul, na Worth Avenue. Aqui, sai de cena Henry Flagler e entram Paris Singer, um dos herdeiros da famosa marca de máquinas de costura, e o arquiteto Addison Mizner (vou falar muito dele ao longo deste texto). Juntos, eles foram os responsáveis por construir, a partir de 1918, o que se tornaria a mais importante rua de compras da região. Tudo começou com o Everglades Club, frequentado até hoje pela elite local, e com algumas lojas abertas em torno de dois pátios batizados de Via Mizner e Via Parigi, em referência aos seus nomes (Parigi é Paris, em italiano).

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Basta um olhar mais atento a essas construções para entender que a proposta de Singer e Mizner não era muito diferente da de Flagler: trazer um pedacinho da Europa para a Flórida. Com o objetivo de “reviver” os estilos mediterrâneo e espanhol colonial, eles misturavam diferentes referências em um único prédio. Só a fachada do Everglades Club combina cinco tipos de janelas diferentes: quadrada, em arco, em estilo renascentista, veneziano… Um tanto esquisito para o meu gosto. Além disso, a dupla recorreu a todo tipo de truque para fazer com que os pátios parecessem mais antigos do que de fato eram, seja enferrujando propositalmente adornos de metal ou desgastando pedras.

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Enquanto a mansão de Henry Flagler me pareceu impecável, a Worth Avenue me transmitiu um pouco mais de artificialidade. Ainda assim, ela é bastante agradável aos olhos. A mistura de estilos arquitetônicos se consagrou como o estilo de Palm Beach por excelência e foi repetida nos pátios construídos depois, como as lindinhas Via Roma, Via Encantada e Via Amore. Essa última é o ponto de partida do walking tour guiado por Rick Rose, uma figura com seu terno estampado, chapéu Panamá e piadas na ponta da língua (a foto dele está logo abaixo). Autor de um guia sobre Palm Beach, ele vai contando uma série de anedotas interessantes sobre a história da rua. O passeio custa US$ 25 por pessoa e acontece toda quarta-feira, às 10h, de dezembro a abril.

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Depois do tour histórico, vale a pena percorrer a Worth Avenue novamente, mas dessa vez com o olhar mais voltado para as compras. Grandes grifes como Chanel, Salvatore Ferragamo, Bottega Veneta, Gucci e Louis Vuitton estão por ali e vale dar um atenção especial à Lilly Pulitzer Design. A marca leva o nome de sua fundadora, que era casada com Herbert Pulitzer, herdeiro do ramo editorial (da mesma família que criou o famoso prêmio de jornalismo) e dono de várias plantações de laranja. 

Entediada com a sua vida de socialite, Lilly abriu uma barraca de suco na Via Mizner e estava sempre manchando seus vestidos ao espremer as frutas. Para resolver o problema, ela começou a encomendar vestidos com estampas coloridas e divertidas que pudessem camuflar as manchas. O estilo dos modelitos, que era muito inovador para os anos 1950, fez tanto sucesso que ela acabou criando a sua própria linha de roupas de verão. Jackie Kennedy, que era ex-colega de classe de Lilly, era uma das clientes fiéis. Hoje, a Lilly Pulitzer Design está espalhada por todos os Estados Unidos, mas para honrar a história da marca, a loja principal fica na Worth Avenue, mais exatamente na entrada da Via Amore.

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Outras lojas que valem a espiada são a Raptis Rare Books (entrada da Via Roma), cuja coleção de livros raríssimos inclui a primeira edição de O Grande Gatsby de Scott Fitzgerald, que tem como pano de fundo a Gilded Age, e a Il Papiro (entrada da Via Parigi), filial da tradicional loja de Florença que vende caixas, porta-retratos, cadernos e lápis revestidos de papel marmorizado feito artesanalmente. 

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A Worth Avenue desemboca na Clock Tower, que foi construída em 2010 como parte de um milionário projeto de renovação da rua de compras e se transformou em uma espécie de cartão-postal de Palm Beach. Mas antes de deixar a rua, vale almoçar ou jantar em um de seus mais célebres restaurantes.

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Desde a sua inauguração em 1941, o endereço mais badalado do pedaço é o bistrô americano Ta-boo (perto da Via Encantada), que era frequentado por personalidades como Frank Sinatra e John F. Kennedy. Para uma refeição mais despretensiosa, siga para a Pizza al Fresco na Via Mizner, que assa suas pizzas no forno a lenha e tem mesas ao ar livre em torno de um detalhe no mínimo curioso: a sepultura de Johnnie Brown, o macaco-aranha de estimação do excêntrico arquiteto Addison Mizner. O pet foi enterrado ali porque a casa de cinco andares onde Mizner morava fica logo em frente. Mais uma prova de que, na Worth Avenue, a história se esconde nos mínimos detalhes.

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-> Arredores da Worth Avenue 

A alguns passos da Worth Avenue, a Church Mouse Thrifting é um ótimo exemplo do ditado “o lixo de um homem pode ser o tesouro de outro”. O brechó vende roupas e acessórios de marca de segunda mão por preços acessíveis: não é raro encontrar por ali peças da Chanel, Louis Vuitton, Hermes e Christian Louboutin em excelente estado. Os itens são doados por moradores e os lucros são destinados à igreja Bethesda-by-the-sea (veja em “Arredores do Flagler Museum”). Também há livros, brinquedos e objetos de decoração. A loja funciona a partir de outubro e fecha com uma grande liquidação em junho.

Basta andar mais uma quadra em direção ao norte para chegar ao Buccan, que abriu as portas em 2011 e logo se tornou um dos restaurantes mais célebres de Palm Beach. Ali, Clay Conley, que já foi nomeado o melhor chef do sul do país pela James Beard Foundation, eleva os mais despretensiosos pratos americanos, de hot a dog a peixe grelhado. Nos anos seguintes, ele abriu dois anexos ao restaurante principal: o Buccan Sandwich Shop, só de sanduíches, e o Imoto, de culinária asiática.

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BILLIONAIRE’S ROW

Não é preciso se distanciar muito da Worth Avenue para descobrir que o sul de Palm Beach é tomado por uma coleção de propriedades avaliadas em dezenas e até centenas de milhões de dólares: alguns terrenos chegam a medir vários hectares e outros possuem praias privativas. Essa região, que ficou conhecida como Billionaire’s Row, é o foco do passeio guiado “Strictly Architecture” da Island Living Tours.

Minha expectativa era que fosse algo parecido com o infame tour que percorre as mansões dos famosos em Los Angeles, ocasião em que mal se vê as casas e o guia se limita a apontar para os portões citando nomes hollywoodianos. Mas fui surpreendida positivamente. Enquanto em LA os casarões ficam escondidos atrás de muros altos à prova de paparazzi, em Palm Beach eles estão à vista de qualquer um que passe pela rua. Mais do que isso: fiquei chocada com a quantidade de portões que encontrei totalmente escancarados, permitindo ver também os carrões dos ricaços que ali vivem. 

 

Essa abertura toda possibilita que a guia Leslie Diver chame atenção para vários detalhes arquitetônicos dessas construções. Algumas delas são históricas, como é o caso da El Solano House, construída pelo arquiteto Addison Mizner. Décadas depois, ela foi comprada por John Lennon e Yoko Ono, mas eles mal tinham se mudado quando o ex-Beatle foi assassinado.

Como um pouco de fofoca não faz mal a ninguém, Leslie também fala sobre os donos atuais de cada propriedade. Mas não espere ouvir nomes de grandes celebridades do entretenimento, e sim de CEOs, herdeiros e donos de times de futebol americano e de basquete. Apesar de reconhecer os nomes de boa parte das empresas, bancos e times, eu desconhecia quase todos os magnatas que estão por trás.

Um nome, porém, não escapa a ninguém: o ex-presidente Donald Trump é provavelmente o mais famoso morador de Palm Beach. Incrustada entre o Oceano Atlântico e o Lake Worth, Mar-a-Lago é uma propriedade de seis hectares que abriga uma construção cor-de-rosa da década de 1920 com 50 quartos. Ela foi erguida por Marjorie Post, herdeira da empresa de produtos alimentícios General Foods, e seu segundo marido Edward Hutton, que era corretor da bolsa. 

Antes de morrer, ela doou a propriedade para que os Estados Unidos a usassem como um retiro para elites políticas. No entanto, as autoridades do país não conseguiam arcar com a manutenção da casa e se viram forçadas a devolvê-la para os herdeiros de Marjorie, que por sua vez acabaram vendendo-a para Donald Trump em 1985. Quase 30 anos depois, Trump inadvertidamente acabou realizando o sonho de Marjorie ao se tornar presidente: reza a lenda que ele costumava se referir a Mar-a-Lago justamente como a “Casa Branca de Inverno”.

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ESTICADA PARA WEST PALM BEACH

A alta concentração de bilionários ocupando casas históricas em Palm Beach fez surgir uma peculiar demanda por antiguidades: os proprietários costumam querer uma decoração única e que de alguma forma “converse” com suas imponentes mansões. Foi assim que nasceu em West Palm Beach, a cidade do outro lado do Lake Worth, uma rua com mais de 40 lojas de antiguidades de todos os tipos, a chamada Antique Row

O mais gostoso é percorrê-la a pé para fazer as suas próprias descobertas, mas compartilho aqui duas das minhas. A Faustina Pace tem desde mesas, cadeiras e poltronas trazidas direto da Europa até vasos e pequenos talheres de prata ricamente adornados. Os itens chegam a até quatro dígitos, mas mesmo não comprando nada achei fascinante a experiência de xeretar pela loja, que mais parece um caótico museu de memorabilia. Também pirei nas joias vintage e nada básicas do D. Brett Benson. Todas as peças me pareceram extraordinárias, dos brincos em formato de cereja da Chanel às pulseiras coloridas de baquelite que foram febre nos anos 1960.

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Nesse clima vintage, uma boa opção é continuar o passeio até o Serenity Garden, a pouco mais de cinco minutos de carro. Nessa pequena casinha de madeira de 1919, que serve um chá da tarde com direito a scones quentinhos, tudo tem uma estampa fofa: porcelanas, tapetes, toalhas de mesa…

De lá, são menos de dez minutos de caminhada até o Norton Museum of Art, fundado em 1941 como a primeira instituição do tipo no sul da Flórida. O acervo nasceu da coleção de arte particular do casal Ralph e Elizabeth Norton, que tinham feito sua fortuna com a indústria do aço e moravam do outro lado do lago, em Palm Beach. As mais de oito mil peças estão divididas entre cinco setores: Europa, América, China, Arte Contemporânea e Fotografias. Um dos principais quadros em exposição é Night Mist de Jackson Pollock.

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Por fim, West Palm Beach também merece a esticada pelo que ela difere de Palm Beach: o lado mais moderno e urbano. Para conhecer essa faceta da cidade, vá para Downtown e visite o shopping ao ar livre The Square. Entre grifes, lojas de departamento e marcas locais, há instalações de arte como a escultura de árvore que se ilumina à noite, a fonte de águas dançantes, os murais nas paredes e as escadas coloridas. 

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Entre muitas opções interessantes de restaurantes, merece atenção o PLANTA, com menu inteiramente vegano, e o Sloan’s, uma sorveteria altamente instagramável que empilha bolas dos mais diferentes sabores na casquinha e joga caldas e granulados por cima. Dez minutos de caminhada ao norte, a Clematis Street tem mais opções de bares. Entre eles está o Lost Weekend, com mesas de bilhar, de pebolim e jogos de fliperama.

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-> Manatee Lagoon

Na região norte de West Palm Beach fica sediada uma empresa de energia limpa que utiliza as águas do Lake Worth para resfriar o seu maquinário. Quando a água é devolvida ao lago, ela está alguns graus mais quente e essa temperatura atrai os peixes-boi nos dias mais frios. A concentração desses simpáticos mamíferos é tanta entre meados de novembro e o final de março que decidiu-se construir ali um lugar de onde as pessoas pudessem ver melhor os bichos, a Manatee Lagoon. Trata-se de um casarão com uma exposição sobre os peixes-boi e um terraço e uma varanda de onde é possível vê-los livres na água. A minha visita aconteceu em janeiro e consegui ver uma boa quantidade dessas fofuras, além de arraias e até pequenos tubarões. Se a sua viagem coincidir com o inverno no Hemisfério Norte, vale a pena incluir esse passeio contemplativo no roteiro.

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ONDE FICAR EM PALM BEACH 

O clássico The Breakers não é a única hospedagem pé-na-areia de Palm Beach. Outras opções luxuosas são o Four Seasons e o Eau Palm. Mais ao sul existe o The Colony, que fica a uma quadra da Worth Avenue e a menos de 200 metros da praia. O luxuoso hotel cor-de-rosa parece ter saído de um episódio de White Lotus com seus papéis de parede e estofados estampados. 

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Para quem não faz questão de se hospedar perto do mar, existem outras opções de hotéis luxuosos nos arredores da Worth Avenue. O The Brazilian Court, inaugurado em 1926 em estilo colonial espanhol, é o segundo hotel mais antigo de Palm Beach. Ele passou por importantes reformas desde então, mas manteve suas características originais, decoração classuda e o glamour dos anos 1920. Ali dentro fica o Café Boulud, comandado pelo chef estrelado Michelin, Daniel Boulud.

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Mas se até aqui você ficou com a impressão de que é um destino para poucos, saiba que não é bem assim. Você pode economizar muitos dólares se hospedando em Airbnbs em Palm Beach e aproveitar o que é grátis, como pegar praia, caminhar pela Lake Trail, espiar as mansões da Billionaire’s Row, visitar as igrejas e admirar as vitrines e as belezas arquitetônicas da Worth Avenue.

A quinze minutos de caminhada do Flagler Museum, o The Palm Beach Hotel and Condominium é uma mistura de hotel e condomínio que possui várias unidades disponíveis na plataforma de aluguel de temporada, como é o caso desse apartamento decorado em azul e desse todo branquinho, ambos com quarto, sala e uma pequena cozinha. A oferta de hotéis (e também de restaurantes) é mais ampla e variada em West Palm Beach: veja algumas opções através do Booking e também do Airbnb.

COMO CHEGAR E CIRCULAR POR PALM BEACH

Palm Beaches é um condado da Flórida que abriga 39 cidades. A região se estende de Jupiter, ao norte, até Boca Raton, mais ao sul. Entre elas estão Palm Beach e West Palm Beach, boas opções para conhecer uma faceta mais histórica do estado. 

A viagem pode ser combinado com Miami (a cerca de uma hora e meia), com Orlando (a cerca de duras horas e meia) ou com outras cidades que fazem parte do condado de Palm Beaches — uma boa opção é Delray Beach, um destino de praia elegante e sem multidões a menos de meia hora de carro e que eu conheci nessa mesma viagem (leia aqui o relato que fiz). Devido a essa proximidade, também é bastante viável fazer passeios de bate e volta para Palm Beach e West Palm Beach estando hospedado em Delray Beach ou vice-versa. 

Alugar um carro não chega a ser imprescindível, graças aos novos trens da Brightline. A estação de Miami fica em Downtown, conectada ao Metrorail, o Metrobus, o Metromover e ao Trolley (saiba mais em “Como circular” no nosso guia de Miami). De lá, leva-se uma 1h20 até West Palm Beach, de onde é possível pegar um Uber e chegar em dez minutos a Palm Beach. A partir de 4 de julho 2023, a linha da Brightline se estenderá até Orlando, com uma estação dentro do aeroporto, e o trajeto de lá até West Palm Beach deve levar duas horas.

Em Palm Beach, é fácil circular a pé pelos arredores do Flagler Museum e pelos arredores da Worth Avenue, mas um carro se faz necessário para ir de um ponto a outro. Alugue um carro ou opte pelo Uber (há bastante oferta de motoristas de aplicativo na região, mas as corridas não são baratas). Também é mais conveniente estar de carro para fazer os passeios por West Palm Beach, que é ainda maior e mais espalhada, e para conhecer outras cidades vizinhas como Delray Beach.

QUANDO IR PARA PALM BEACH

Palm Beach recebe a maioria dos visitantes entre os meses de dezembro e fevereiro, que correspondem ao inverno do Hemisfério Norte. Isso porque existe um fluxo grande de turistas americanos que fogem das temperaturas negativas em outros cantos do país e vão para Flórida, onde os termômetros marcam entre 15°C e 25°C.

No verão, de julho a setembro, as temperaturas ficam entre 25°C e 31°C, o que para os americanos é quente demais. A dica é ir justamente nessa época, considerada baixa temporada: o clima quente não é nada fora do comum para os padrões brasileiros e, o melhor de tudo, hotéis e restaurantes baixam os preços.

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