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Japão: roteiros, quando ir, como circular, passeios, hotéis

Por Almir de Freitas
Atualizado em 23 ago 2023, 16h48 - Publicado em 21 jul 2021, 19h52

Entre o fim e março e o início de abril, logo após o equinócio da primavera, o Japão inteiro se mobiliza para a floração da cerejeira – a sakura-zen. No meio da pressa da vida japonesa, o noticiário não perde os primeiros botões, as empresas param e as famílias se reúnem em animados piqueniques nos parques com as copas das árvores tingidas de rosa e branco. É a milenar Hanami, a “visão das flores”. Tão espetacular quanto efêmera: de uma a duas semanas, as flores se vão e a vida apressada retoma seu passo.

A dimensão simbólica, delicada, da Hanami é a chave de uma civilização profundamente ritual – uma marca que não se perdeu com o desenvolvimento de tecnologias ultramodernas. Para o forasteiro, aliás, sobram contrastes desorientadores: dos plácidos jardins às cidades de luzes feéricas; do papel artesanal washi aos karaokês; da cerimônia do chá às ruidosas casas de jogos eletrônicos; dos templos budistas e xintoístas aos arranha-céus à prova de terremoto; do teatro nô e kabuki ao pop de Hello Kitty, Godzilla e outros monstros e mangás.

Mas a terceira maior economia do mundo tem muito mais a oferecer do que robôs, sushi e samurais. Tóquio é a super-megalópole mais limpa e organizada do planeta, com a mais alta concentração de excelentes restaurantes – e não estamos falando só de sashimi, mas casas que oferecem pratos italianos e franceses que você não encontraria em Bolonha ou Paris.

Nas compras, nem tudo se resume a eletrônicos. Há uma miríade de opções que faz pessoas passarem dias inteiros dentro das lojas de departamento. De uma simples papelaria a um charmoso quiosque gourmet, de bolsas de design exclusivo a instrumentos musicais, o Japão pode deixar o turista completamente exausto com tantas alternativas. Isso para não falar da gastronomia, que do tradicional ao fusion combinou receitas nativas com importações da Ásia e Europa para criar uma cozinha bela e saborosa.

De norte a sul, tudo passa pelas ideias de repetição e transformação, que estão longe de ser contraditórias. Difícil de compreender inteiramente, mas fascinante, de uma maneira especial em cada cidade e região.

QUANDO IR PARA O JAPÃO

No centro-sul do país, os verões – úmidos – são bastante quentes, o que pode atrapalhar alguns passeios. Nessa estação, o melhor destino do Japão é o norte, na região de Hokkaido, sensivelmente mais ameno. Os invernos podem ser rigorosos, com muita precipitação de neve.

Para todo o país, o ápice da alta temporada é entre o fim de março e o início de abril, quando desabrocham as flores das cerejeiras. Boa época também é o outono, quando a vegetação se colore com tons de amarelo e ferrugem. No sul, na quente Okinawa, atenção para o período das monções – especialmente entre agosto e setembro.

COMO CHEGAR NO JAPÃO

Tóquio conta do dois aeroportos que recebem voos internacionais: Haneda, próximo à área central, e Narita, mais distante, localizado na prefeitura de Chiba, na área metropolitana. Não há voos diretos do Brasil para a cidade, mas, com uma conexão na Europa, pode-se embarcar por aqui em voos dKLM e da Air France em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.

Nessas duas últimas cidades, há opções de passagens por companhias como Alitalia, Lufthansa, British Airways, Qatar e Emirates. Também é possível entrar no Japão, também apenas com uma conexão, pelo Aeroporto Internacional de Kansai, que atende a região homônima que engloba Kyoto, Osaka e Kobe.

COMO CIRCULAR

Os sempre pontuais – e caros – shinkansen, os trens-bala, cobrem a quase totalidade do Japão. Para circular de norte a sul a 300 km/h, a melhor alternativa é adquirir o Japan Rail Pass, que dá direito a viagens ilimitadas em períodos definidos na maior parte da rede – as exceções são os trens Nozomi e Mizuho nas linhas Tokaido, Sanyo e Kyushu.

Para usar o JR Pass, é necessário ter o carimbo de visitante temporário no passaporte. O passe não é nada barato, mas, a partir de um determinado número de viagens, compensa mais do que os bilhetes avulsos. Existem duas categorias de passe, o Green (trens superiores) e o Ordinary (comuns), ambos com opções de uso para 7, 14 e 21 dias (consulte os valores aqui).

O passe ainda pode ser usado em outras modalidades de transporte da JR: trens comuns, ônibus locais operados pela companhia, a balsa JR-WEST Miyajima, em Hiroshima, e o monotrilho de Tóquio. O metrô de cada cidade, administrado por diferentes companhias, não está incluído.

Para ir até Okinawa, o melhor jeito é pegando um avião na Japan Airlines ou da ANA.

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O QUE FAZER NO JAPÃO

Os roteiros que se seguem incluem os principais destinos turísticos do país, e podem ser combinados e recombinados de acordo com tempo e orçamento disponíveis. Um passeio que vá além de Tóquio pede, no mínimo, dez dias de estadia. É melhor aproveitar mais intensamente um ou dois destinos do que conhecer o país da janela do trem-bala.

ROTEIRO 1: TÓQUIO E ARREDORES

Se estiver no Japão em trânsito, com poucos dias, considere gastá-los todos na superlativa capital do país. E ainda será pouco: há muito o que ver, experimentar e desfrutar – entre passeios, compras, vida noturna e gastronomia. Sua região metropolitana concentra 35 milhões de habitantes, e sua área mais central conta com 9 milhões de pessoas, que vivem, trabalham e se deslocam entre 23 bairros, cada um deles subdivido em distritos – um roteiro de passeios detalhado separado por bairros pode ser conferido na nossa página de Tóquio.

O gigantismo pode ser um pouco assustador no início, mas a boa notícia ao viajante é que existe quase que uma organização “temática” para cada um desses bairros, o que facilita a programação. Não há, dá para garantir, lugar melhor para quem gosta de bater perna por grandes cidades, com a vantagem de possuir uma rede de metrô e trens que leva literalmente a qualquer parte.

Nos arredores, o ímã é o Monte Fuji, símbolo do Japão declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. O vulcão adormecido é cercado por cinco lagos que compõem um grande parque, onde se pode fazer trilhas, pescar, praticar esqui aquático ou simplesmente passar o dia. A escalada à cratera pode ser feita apenas no verão, e exige preparo físico.

Ao sul, distante cerca de 30 quilômetros de trem, está Yokohama, que integra a imensa área metropolitana. É a segunda cidade mais populosa do Japão, atrás apenas da capital. Entre suas maiores atrações estão o edifício Landmark Towerum dos mais altos do país na área portuária Minato Mirai 21.

Destaque também para sua movimentada Chinatown, o maior bairro chinês do Japão, o Estádio Nissan, palco da final da Copa do Mundo de 2002. Próximo, fica também a histórica cidade de Kamakura, repleta de importantes templos budistas e casa do Grande Buda de Bronze.

Mais distante, Nikko é uma pequena cidade histórica cujo maior tesouro é o santuário Toshogu, outro Patrimônio da Humanidade na Unesco. Foi construído no século 17 como mausoléu para o xogum Tokugawa Ieyasu sob o comando de seu neto e sucessor, Iemitsu. O amplo complexo, cercado por uma floresta de antigos ciprestes, é uma infindável alegoria de esculturas, edifícios, portões e templos. Ainda em meio às brumas da mata fechada, o visitante se depara com um pagode de cinco andares, o Gojunoto.

Visitantes passeiam pelo Shinjuku Gyoen, parque nacional localizado em meio aos arranha-céus de Tóquio, no Japão
Visitantes passeiam pelo Shinjuku Gyoen, parque nacional localizado em meio aos arranha-céus de Tóquio (Matteo Colombo/Getty Images)

ROTEIRO 2: TÓQUIO E REGIÃO DE KANSAI (KYOTO, OSAKA E KOBE)

Com mais tempo à disposição, o roteiro clássico pede um bilhete de trem-bala para Kyoto (confira as principais atrações na nossa página), antiga capital do império que hoje é, toda ela, Patrimônio da Humanidade da Unesco por conta de suas centenas de templos budistas e xintoístas, poupados dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. A cidade pede pelo menos dois dias para o viajante desfrutar a atmosfera de um Japão mais tradicional.

Modernidade e agitação, contudo, nunca estão muito longe. Dessa mesma região que inclui Kyoto e Kobe (Kansai) faz parte a industrializada, rica e populosa Osaka (confira as atrações na página), a terceira maior cidade do país – fica atrás de Tóquio e Yokohama. Dá para visitá-la num bate-e-volta de um dia a partir de Kyoto.

Kobe é a cidade cujo nome batiza a melhor carne do mundo, fornecida por um gado criado confinado, mas com tratamento de luxo: alimentados com grãos, bebem cerveja, recebem massagem e ouvem música clássica. Daí sua textura marmórea, maciez e sabor. O preço reflete a mordomia: o quilo pode custar até US$ 500.

Na cidade, encontram-se o agradável Meriken Park, uma área comercial bastante movimentada, e uma pequena, mas interessante, Chinatown. Já em Kitano, a área ao norte junto às montanhas, o turista poderá ver belas mansões em estilo ocidental, hoje transformadas em elegantes casas de chá, lojas de artigos para o lar, restaurantes e pousadas. É talvez o passeio mais popular da cidade.

Na cidade, uma ideia é tirar uma noite em Arima Onsen, estância termal muito disputada por japoneses e estrangeiros. Os spas conduzem ao passado: um banho coletivo em águas vulcânicas, com toalhinha na cabeça; um lauto e sofisticado jantar vestido com o quimono yukata; uma noite de sono em um futon no tatame do ryokan, o quarto tradicional japonês.

O roteiro, aliás, pode começar por aqui e depois seguir para Tóquio para quem desejar seguir para o extremo norte do país. O Aeroporto de Kansai também recebe voos vindos do Brasil, com apenas uma conexão.

Templo Kinkaku-ji, Kyoto, Japão
Templo Kinkaku-ji é uma das principais atrações em Kyoto (Siamkop/Pixabay)

ROTEIRO 2 + BÔNUS: HIROSHIMA

O périplo clássico se estende mais ao sul, em Hiroshima (veja nossa página), a cidade que sofreu o primeiro ataque nuclear da história e se tornou símbolo de paz com suas ruínas e seus monumentos. Quem, daí, quiser continuar em direção ao sudeste a bordo do shinkasen, pode conhecer a riqueza de Fukuoka, a mais importante cidade do oeste japonês e da ilha de Kyushu, e dali para outro palco trágico da Segunda Guerra Mundial, Nagasaki, segunda cidade dizimada por uma bomba nuclear – o que levou à rendição do Japão.

ROTEIRO 3: TÓQUIO, KANSAI, OKINAWA

Um Japão muito diferente, e também com profundas marcas da guerra, se vê no arquipélago de Okinawa. Para cá, o viajante precisa tomar um avião para encontrar uma paisagem de Sudeste Asiático, quente, com selvas subtropicais e praias de coral verde-esmeralda que contrastam, logo adiante no horizonte, com o azulão gélido do Pacífico.

Foi nesse cenário de paraíso que os japoneses tentaram, em 1945, deter o único e decisivo combate no país em terra, entre civis, sofrendo pesados bombardeios de couraçados americanos. O lugar ainda abriga inúmeras bases dos Estados Unidos. 

Na capital Naha, o velho conhecido mix luzes-compras-gastronomia se repete na Kokusai-dori. Destaque nas vitrines para as muitas variações de doce de batata-roxa, para víboras venenosas exibindo suas presas dentro de garrafões de aguardente  e para as estátuas dos leões Shisa – um de boca aberta, outro de boca fechada –, usados para proteger as casas. Próxima, a rua coberta Heiwa-dori, mais antiga, leva ao Mercado Makishi, que vende peixes e cabeças de porco agu, in natura ou embaladas a vácuo.

Ao norte fica o Ocean Expo Park, que abriga o Aquário de Churaumi, um dos maiores do mundo. Os quatro pisos correspondem a diferentes profundidades do Pacífico, exibindo desde peixes que prosperam nos corais até criaturas mergulhadas na escuridão que mais parecem Pokémons. No tanque principal, as estrelas são as arraias-manta e os colossais tubarões-baleia, criados em cativeiro. Do lado de fora, em frente ao mar, um anfiteatro exibe periodicamente shows de golfinhos adestrados.

No arquipélago tropical, sobram outras 64 ilhas, unidas por uma cultura que é anualmente celebrada no Mori no Nigiwai, festival que relembra com espetáculos de música e dança as histórias e escaramuças do reino de Ryuky, do qual Okinawa fazia parte. Não é uma realidade tão distante dos brasileiros: no Kasato Maru, primeiro navio com imigrantes japoneses a ancorar no porto de Santos, em junho de 1908, quase metade dos passageiros vinha de Okinawa.

ROTEIRO 4: TÓQUIO E SAPPORO

Na direção oposta, saindo de Tóquio rumo ao extremo norte do país, a ilha de Hokkaido também mostra outras paisagens. Boa parte das pessoas daqui são filhos e netos de pessoas de outras partes do país, e suas ruas são planejadas e espaçosas. Quinta maior cidade do país, a capital Sapporo atiça os cervejeiros, que podem visitar o Museu e Jardim de Cerveja Sapporo.

No alto verão, a cidade promove o Festival da Cerveja, quando multidões invadem os jardins da avenida Odori Koen, onde fica o Parque Odori. Nada porém se compara ao tradicional Festival da Neve, em fevereiro. Dezenas de shows, concursos e atrações utilizam como pano de fundo gigantescas instalações e esculturas em neve  – para vê-las sendo montadas, é preciso chegar uma semana antes.

ONDE FICAR

Em Tóquio: Park Hyatt, que ganhou fama por ter sido locação do filme Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola, o econômico Ibis de Shinjuku e o Otani Tokyo, que conta um espetacular jardim japonês de 40 mil metros quadrados.

Em Kyoto: o confortável Rihga Royal. Em Osaka: o Monterey Grasmere, perto da estação de Namba. Em Kobe: rume sem pestanejar para a estância termal de Arima Onsen, onde fica o Gekkoen, cujo pacote inclui hospedagem no ryokan, jantar tradicional com vários pratos e banho nas termas, internas ou externa.

Em Hiroshima: o Mitsui Garden Hotel Hiroshima, que leva a vantagem de ficar a dez minutos de caminhada do Parque da Paz, e APA Hotel Hiroshima-Ekimae Ohashi, que também oferece casa de banho.

Em Okinawa: no centro de Naha, o Hyatt Regency e, para quem está atrás de sol e mar, o Nikko Alivila, resort de frente para a praia, em Yomitan, quarenta quilômetros ao norte. Em Sapporo, o Red Planet Sapporo Susukino South tem bom custo-benefício, não muito distante do centro.

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ONDE COMER

Em Tóquio: o Sushizanmai Okunoin, da rede Kiyomura, que serve sushis e sashimis feitos com peixes arrematados no dia  no mercado de Toyosu, e o  Kaminarimon Sansada, que há mais de cem anos prepara tempurás ao lado o portão que leva ao Templo Senso-ji.

Em Kyoto: ajeite-se no tatame do Mametora e delicie olhos e estômago com os sushis servidos em caixinhas de madeira.

Em Osaka: o lugar certo são as barracas de rua da Dotonbori, que servem, entre outros snacks, takoyaki, bolinho de cará japonês recheado com polvo, e kushikatsu, um espeto de carne, frutos do mar ou legumes empanados.

Em Okinawa: em Naha, o Yaima tem mesas com grelhas para preparar a comilança do “churrasco japonês”, com carne ishigaki (semelhante à kobe) e tiras de barriga de porco agu, ambos locais, além de saladas e vários legumes.

Em Sapporo: no edifício da JR, o Nemuro Hanamaru sempre tem espera para quem quer provar seus sushis, entre eles o de ovas de salmão.

DOCUMENTOS

Desde março de 2023, brasileiros podem solicitar vistos de turismo para estadias de até 90 dias através da plataforma online JAPAN eVISA. Até então, a solicitação deveria ser feita obrigatoriamente na embaixada ou nos consulados.

O novo procedimento pode ser efeito a partir dos três meses que antecedem a data da viagem. No entanto, ele não é completamente online. A solicitação e o envio dos documentos são feitos pelo site, mas para pagar a taxa de R$ 150 é preciso ir presencialmente até a Embaixada em Brasília ou a um dos consulados em Belém, Curitiba, Porto Alegre, Manaus, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

O prazo padrão para emissão é de cinco dias úteis, contados a partir do dia seguinte à solicitação. No entanto, caso haja algum problema nos dados informados, a emissão pode demorar mais de um mês.

O visto eletrônico, que tem validade de três meses, deve ser apresentado no aeroporto através do celular, efetuando login no site JAPAN eVISA (veja o passo a passo aqui). Não será permitido apresentar o documento em PDF, captura de tela ou impresso. Mais informações podem ser encontradas na página de perguntas e respostas da plataforma.

DINHEIRO

A moeda oficial é o Iene.

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